20/08/2013

Jornalista do Guardian diz que há cópias de documentos apreendidos

Do G1, em São Paulo

cronologia_snowden_19agosto (Foto: Editoria de Arte / G1)
O jornalista do periódico ingês "The Guardian" Glenn Greenwald disse nesta segunda-feira (19) que existem cópias de todos os documentos apreendidos pela polícia inglesa quando seu companheiro, o brasileiro David Miranda, foi detido e interrogado no domingo em Londres. A informação foi dada em entrevista à repórter Sônia Bridi, do Jornal Nacional - veja o vídeo ao lado.
David Miranda, de 28 anos, foi detido no domingo no aeroporto de Heathrow, em Londres, durante escala de um voo de Berlim para o Rio de Janeiro. Ele foi interrogado por nove horas, com base em uma lei antiterrorismo, e liberado sem acusações. O brasileiro desembarcou nesta segunda-feira no Rio.
"Tinha agentes inspecionando os passaportes, um agente pegou meu passaporte, olhou pro meu rosto, me pediu para seguir ele, e outro agente que estava dando uma olhada nos passaportes também veio junto e fomos diretamente à sala em que eu fiquei durante 9 horas”, contou David.
"Comecei a perguntar meus direitos. Se vocês forem me deter, em que tipo de lei se baseavam para me manter aqui. E eles falaram que foi na lei do terrorismo 2000 da Inglaterra. Perguntaram sobre os protestos aqui no Brasil, sobre meu relacionamento com Glenn, perguntaram sobre a minha família, meus amigos. Nenhuma pergunta sobre terrorismo. Nenhuma. Perguntaram qual meu papel nessa história da NSA, dos documentos. Eu expliquei que não tenho envolvimento direto com esses documentos, não trabalho com eles."
David conta que foi ameaçado o tempo todo. '[Diziam] 'Se você não responder isso, você pode ir pra cadeia'. Para mim, mesmo sendo assustador, eu consegui segurar a situação. Imagina um brasileiro que é preso nove horas numa forma dessa, cara, acho que você quebra uma pessoa, entendeu? Você quebra ela em todos os sentidos. A pessoa fica com muito medo. Não houve nenhuma violência física contra mim, mas você pode ver que foi uma violência psicológica fantástica."
Durante oito horas David sequer sabia que os advogados do jornal "The Guardian" e diplomatas brasileiros tentavam liberá-lo. “Eu fiquei muito feliz em ver que tem um governo que me dá suporte e que dá suporte para todo brasileiro”, afirmou.
David voltava da Alemanha onde havia se encontrado com a documentarista Laura Poitras. Foi Laura e Glenn Greenwald que receberam de Edward Snowden, ex-funcionário da agência nacional de segurança dos EUAdocumentos secretos que denunciavam o esquema de espionagem eletrônica do governo americano. A revelação foi publicada numa reportagem de Greenwald no jornal "The Guardian".
A viagem do brasileiro à Alemanha foi paga pelo jornal inglês. David foi até Berlim com o objetivo principal de entregar documentos para Laura e trazia de volta arquivos eletrônicos enviados por Snowden. Ele conta que estava levando arquivos pra Laura e trazendo alguns arquivos para Glenn. "Eu não sei o que continha naqueles arquivos, porque eles são jornalistas, eles trabalham em várias histórias. Os documentos estavam nos equipamentos apreendidos pela polícia inglesa. Arquivos codificados que só podem acessados com senha."
Os dois garantiram que têm cópias de todos os arquivos. "Eles não podem destruir nada. Eles podem tomar documentos todo dia e vamos sempre ter muitas cópias de todos", disse o jornalista, que negou se sentir intimidado com o episódio. “Eu nunca disse nada que vou punir ninguém ou vou buscar vingança. Vou publicar só para mostrar ao mundo a informação que população do mundo deve saber”, declarou.
O tempo de interrogatório do brasileiro foi o máximo permitido pela lei britânica: nove horas. Segundo nota da embaixada britânica no Brasil, o interrogatório foi apenas uma questão operacional da polícia metropolitana de Londres. A nota afirma ainda que o ministro das Relações Exteriores britânico teve uma conversa particular com o ministro das Relações Exteriores do Brasil, Antonio Patriota, e que "o Reino Unido e o Brasil têm uma forte relação bilateral."
EUA
Autoridades norte-americanas não pediram à Grã-Bretanha para deter e interrogar o parceiro brasileiro do jornalista que publicou as primeiras denúncias de espionagem vazadas porEdward Snowden, afirmou a Casa Branca nesta segunda-feira.
As autoridades britânicas, no entanto, avisaram aos Estados Unidos antes de prenderem o brasileiro David Miranda. "Essa é uma decisão que eles tomaram por conta própria, e não a pedido dos Estados Unidos", disse o porta-voz da Casa Branca Josh Earnest a repórteres. "Isso é algo que eles fizeram independentemente da nossa direção", acrescentou.

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