06/08/2013

Polícia reconquista favelas mais esquecidas e perigosas do Rio

Em cima do morro, uma casa aos pedaços, com centenas de marcas de bala e que até há poucos dias era usada como tribunal para o narcotráfico é, a partir desta segunda-feira (5), uma das novas bases da polícia na favela Mangueirinha, no estado do Rio.
Pela primeira vez na história, a polícia entrou em julho para se instalar nesse conjunto de favelas em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense. Longe das praias e dos pontos turísticos, a pobreza não perdoa.
Os porcos reviram o lixo. Os vira-latas pulam junto com meninos descalços, que empinam pipas coloridas. Uma mulher, na faixa dos 60 - sem dentes mas com as unhas dos pés perfeitamente pintadas de vinho com pequenas flores douradas -, aponta para um barraco construído com caixas: "esse é meu apartamento de luxo", diz ela, arrancando gargalhadas dos vizinhos.
A partir desta segunda, 180 policiais patrulham dia e noite as ruas dessa favela e de outras três próximas: Sapo, Santuário e Corte 8, que estão entre as mais perigosas do Grande Rio.
"Falta tudo para essas pessoas. Elas almoçam sem saber o que vão jantar", diz à AFP o comandante Ranulfo Brandão, do Batalhão da Polícia Militar de Duque de Caxias, responsável pela operação.
Dezenas de policiais inspecionam sua nova base - dois banheiros químicos no meio de um terreno descampado - e recuam para se esconder dos disparos de fuzis provenientes das favelas, sobre as quais têm uma vista de 360º.
Essas favelas e outras da Baixada Fluminense são hoje abrigo de dezenas de traficantes que fugiram das favelas reconquistadas pela polícia desde 2008 na Zona Sul, assim como do Complexo do Alemão e da Penha, de olho na Copa do Mundo em 2014 e nos Jogos Olímpicos de 2016.
"Sim, houve migração, mas não tanto quanto as pessoas dizem. Também têm criminosos locais", afirma o comandante Brandão. "Há meninos de 12 anos que prendemos armados. Se conseguem chegar aos 25, 30 anos, são jovens com sorte. Nessa idade, a maioria ou já foi presa, ou já foi morta, até mesmo pelos seus, por exemplo, se erram nas contas", acrescenta.
Do mesmo modo que os territórios vizinhos, Mangueirinhas era controlada pelo temido Comando Vermelho.
"Quando estavam separadas, conseguia entrar com dez homens na favela. Quando as quatro se uniram, criando um ´complexo´, já precisava de 60 ou 70 homens para entrar", conta Brandão.
Os moradores desconfiam da polícia e da imprensa. "O que eu acho da polícia? Pior do que antes não pode ser", comenta Paulino Dantas, de 60, de camisa aberta. "Os garotos não podiam sair na rua. Eu também não - sem me arriscar a receber um tiro", acrescenta.
A polícia admite que não pode acabar com o tráfico de drogas, mas o comandante Brandão garante que o Comando Vermelho "já está enfraquecido".
O objetivo é "acabar com a ostentação de armas de fogo e com o barulho dos bailes funk", cheios de traficantes armados, diz Brandão, acrescentando: "e também que entrem os serviços de coleta de lixo, a luz, tapar os buracos nas ruas, resolver os problemas de água, de esgoto escoando a céu aberto".
Muitos moradores não têm nem mesmo um balde, e jogam todo seu lixo pela janela.
"A vida aqui é difícil. Você já nasce com a cabeça no crime, convive com o tráfico, e o que vai fazer? Tem que baixar a cabeça", lamenta Bruno de Oliveira Palmeira, de 19 anos, que trabalhava consertando pneus e agora está desempregado.
"Nunca acreditei que a polícia chegaria aqui. Agora eu acredito. Antes não subia ambulância, nem caminhão de lixo por essa rua. Agora, eles vão poder fazer isso", afirma o rapaz, que sorri diante da possibilidade de que seu bairro tenha no futuro "um posto de saúde, uma creche, um centro esportivo".
A polícia se instalou pela primeira vez na Baixada Fluminense, de forma permanente, em setembro de 2012, na Favela da Chatuba, após o assassinato de nove jovens pelos traficantes.
Ainda não há previsão para a implantação de uma Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) em Mangueirinhas, como aconteceu em outras favelas.
AFP
Dom Total

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