25/08/2013

Sonho americano impulsiona personagens de 'Sem dor, Sem Ganho'


Cena de 'Sem dor, sem ganho': sátira ao sonho americano.
Por Alysson Oliveira
São Paulo - O diretor Michael Bay nunca foi de fazer um cinema contido. Sua especialidade nos últimos anos é detonar, sejam asteroides ("Armageddon") ou cidades (qualquer um dos "Transformers"). Por isso, é uma surpresa que "Sem dor, Sem Ganho" seja quase um filme intimista, se comparado ao restante da filmografia do cineasta.
"Sem dor, Sem Ganho" inspira-se numa série de artigos, publicados em meados dos anos 1990, no jornal "Miami New Times", assinados por Pete Collins. É uma história basicamente estúpida, sobre gente não muito esperta se envolvendo num plano rocambolesco que, desde o início, não demonstrava muita chance de dar certo. O filme começa com Daniel Lugo (Mark Wahlberg), sendo interceptado pela polícia. O que segue então é um longo flashback de como tudo aconteceu.
Fisiculturista e personal trainer, recém-saído da prisão por estelionato, Lugo envolve-se num sequestro com seu colega de trabalho Adrian (Anthony Mackie) e Paul Doyle (Dwayne Johnson), fortão e ex-presidiário metido a religioso. A vítima é Victor Kershaw (Tony Shalhoub), ricaço dono de restaurantes. O plano é, ao invés de pedir um resgate, torturar o sequestrado até ele transferir todo seu dinheiro e bens para o trio.
O plano funciona numa certa medida, tornando os três ricos ao assumirem os negócios de sua vítima. Lugo torna-se sócio da academia onde trabalha, Adrian casa-se com uma enfermeira (Rebel Wilson) e Doyle parece abandonar sua devoção a Jesus para entregar-se às drogas e a uma relação com uma stripper romena chamada Sorina (Bar Paly), que acredita que os três são agentes da CIA.
Sem dinheiro, e desacreditado pela polícia por ser de origem colombiana, Kershaw conta apenas com um detetive particular que, estranhamente, acredita em sua história. Trata-se de Ed Dubois (Ed Harris), que começa a sua investigação matriculando-se na academia de Lugo.
"Sem Dor, Sem Ganho" é, no fundo, mais uma história sobre o sonho americano, sobre um desvio da crença de que se pode conseguir tudo na vida pela força de vontade. E também de um entendimento bizarro de Lugo após assistir a uma palestra de um guru da auto-ajuda (Ken Jeong), cujo lema é: se você merece, o universo vai servir aos seus propósitos.
O que Bay extrai dessa história transita entre a comédia e o trágico - ambos, por culpa da completa imbecilidade do trio que, sem qualquer traço de inteligência, é capaz de meter-se em grandes trapalhadas de consequências desastrosas. A certa altura, pensa-se que, realmente, o universo conspira a favor dos golpes de Lugo e sua turma, mas o diretor recusa-se a fazer julgamentos, morais ou de qualquer outra natureza. Assim, opta por deixar o que há de mais humano transparecer em seus personagens e traçar deles um retrato um tanto realista.
Reuters

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