03/09/2013

Brasil reage com indignação e pede explicação formal aos EUA sobre espionagem

Por Maria Carolina Marcello
Brasília - O governo brasileiro reagiu nesta segunda-feira com indignação às denúncias de que os Estados Unidos espionaram a presidente Dilma Rousseff e espera receber, ainda nesta semana, explicações formais do governo norte-americano para definir sua reação.
Os ministros das Relações Exteriores, Luiz Alberto Figueiredo, e da Justiça, José Eduardo Cardozo, disseram que a espionagem, se confirmada, configura "violação inadmissível e inaceitável da soberania brasileira" e seria "incompatível com a confiança necessária a uma parceria estratégica".
"Convoquei o embaixador dos Estados Unidos, Thomas Shannon, ao meu gabinete e disse a ele da indignação do governo brasileiro com os fatos", afirmou Figueiredo em entrevista coletiva ao lado de Cardozo.
Reportagem veiculada no domingo pelo programa "Fantástico", da TV Globo, afirma que Dilma teria sido alvo de espionagem por parte da Agência de Segurança Nacional dos EUA (NSA, na sigla em inglês).
A presidente tem visita de Estado aos EUA agendada para outubro e, embora tenham sido mais de uma vez questionados, os ministros não responderam diretamente sobre a possibilidade da visita ser cancelada.
"O tipo de reação dependerá do tipo de resposta que for dada", disse o chanceler, acrescentando ter deixado em termos "muito claros" que o Brasil espera ter uma resposta formal ainda nesta semana.
O ministro da Justiça disse que o Brasil pretende levar a questão a fóruns internacionais, como a ONU, para discutir uma forma de preservar tanto o direito à privacidade de cidadãos e empresas quanto de chefes de Estado.
Segundo Cardozo, é preciso primeiro "acabar com o ciclo" de espionagem para então agir.
Embora o governo afirme estar em compasso de espera da resposta norte-americana, a segunda-feira foi movimentada na Esplanada dos Ministério.
Durante a manhã de ontem, Dilma convocou duas reuniões de emergência para tratar do assunto. A primeira, com os ministros da Secretaria-Geral da Presidência, Gilberto Carvalho e do Gabinete de Segurança Institucional, general José Elito, além de Cardozo.
Posteriormente, a presidente conversou com o chanceler, e com os ministros das Comunicações, Paulo Bernardo, e da Defesa, Celso Amorim. Cardozo também participou da segunda reunião, disse uma fonte do governo que não quis se identificar.
"Amigos, inimigo ou problema?"
A reportagem exibida no domingo foi construída a partir de documentos fornecidos pelo ex-prestador de serviço da NSA Edward Snowden ao jornalista norte-americano Glenn Greenwald, que mora no Rio de Janeiro. Segundo os dados, o Brasil estaria listado em um rol de países sobre os quais pesa uma classificação indefinida: "amigos, inimigos ou problema?".
O chanceler rebateu a tese de que o país represente um risco à estabilidade regional e afirmou que o Brasil é uma nação democrática e estável, que busca uma relação respeitosa com seus parceiros.
"E, portanto, não pode admitir que seja considerado, nem em sonho, um país de risco ou um país que seja problemático", disse Figueiredo.
A reportagem exibiu ainda documentos atribuídos à NSA, que teria monitorado a comunicação da presidente com seus principais assessores. O conteúdo das mensagens, no entanto, foi omitido dos documentos.
Segundo as informações, também publicadas pelo jornal O Globo nesta segunda-feira, no caso do Brasil, os dados poderiam ser filtrados para aumentar o entendimento dos métodos de comunicação de Dilma e de seus principais assessores.
Outro documento específico traz trechos de mensagem enviada em 2012 pelo presidente do México, Enrique Peña Nieto, à época ainda candidato à Presidência, na qual discutia nomes para o ministério, caso eleito.
Nesta segunda, o governo mexicano também reagiu às denúncias de espionagem e pediu que os Estados Unidos realize uma investigação exaustiva sobre o caso.
Esses documentos faziam parte de um estudo de caso, chamado "Intelligency filtering your data: Brazil and Mexico case studies", da NSA.
Outros dados vazados por Snowden já haviam revelado, em julho, que os EUA realizaram uma série de interceptações de dados eletrônicos e de telefonia no Brasil.
No mês passado, durante visita a Brasília, o secretário de Estado norte-americano, John Kerry, pediu ao Brasil que não deixasse as revelações sobre a espionagem prejudicar os avanços feitos entre as duas maiores economias das Américas em áreas como comércio e diplomacia.
Kerry, no entanto, não indicou que os EUA iriam pôr um fim na vigilância secreta. O secretário afirmou que o monitoramento feito pela NSA tem como objetivo proteger cidadãos norte-americanos e brasileiros de ataques terroristas.
O episódio também deve prejudicar as ambições dos Estados Unidos de vender 36 caças de combate ao Brasil. A Boeing, com o avião F-18 Super Hornet, é uma das finalistas no processo de compra de novos caças para a Força Aérea Brasileira (FAB).
Os EUA, por meio de um porta-voz da embaixada em Brasília, disseram nesta segunda-feira que os Estados Unidos e o Brasil são "parceiros globais" e que "nosso relacionamento mais amplo continuará vital e avançando".
Reuters
Dom Total

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