25/09/2013

Protesto termina com depredação

A maior parte da manifestação foi pacífica, mas houve momentos de tensão e uma pessoa foi agredida
Cerca de 300 estudantes realizaram, na tarde de ontem, no Centro da Cidade, manifestação reivindicando a entrega imediata das carteirinhas estudantis, redução da passagem de R$ 2,20 para R$ 2,00, passe livre para estudantes, estatização do transporte público e maior transparência em relação aos lucros do Sindicato dos Trabalhadores Rodoviários no Estado do Ceará (Sindiônibus). O ato, que começou de forma pacífica, terminou com as vidraças do Paço Municipal estilhaçadas.

Manifestantes pediram redução da passagem de ônibus para R$ 2,00 e passe livre para estudantes. Vidraças do Paço Municipal foram quebradas e três agências bancárias depredadas no Centro da Capital Foto: Lucas de Menezes

A Guarda Municipal, até então posicionada dentro da sede da Prefeitura, reagiu de prontidão com bombas de gás lacrimogêneo, dispersando os manifestantes. Em seguida, um grupo mais radical seguiu pelas ruas do Centro, onde depredaram pelo menos três agências bancárias. Assustados, muitos comerciantes optaram por fechar o comércio mais cedo. Outro momento de tensão ocorreu quando a manifestação passava em frente à Praça José de Alencar. Irritado ao ver que estavam pichando a banca de revistas, o comerciante Tadeu Barroso reclamou e acabou sendo agredido por alguns dos manifestantes.

Agressão

"A gente tem a maior dificuldade para conseguir deixar a barraca pintada, bonita para a Cidade, e vem esse pessoal e faz isso. Fui pedir para não picharem, e eles me atacaram", declarou, com o lábio ferido. "Que manifestante é esse que bate em cidadão do bem?", indagou um homem que preferiu não se identificar.

Ao chegar no Paço Municipal, o grupo puxou palavras de ordem e se revezou no microfone. Azevedo Vieira, diretor da Guarda Municipal de Fortaleza, conversou com os manifestantes, que pediram para entregar um documento com as reivindicações ao prefeito Roberto Cláudio. A proposta era de que duas pessoas entrassem para entregar o documento ao secretário do prefeito, já que o mesmo não encontrava-se no local. Os manifestantes, no entanto, optaram por não formar uma comissão.

"Enquanto eu conversava com o secretário para que ele recebesse o documento, eles começaram a atirar pedras e se retiraram", disse o diretor da Guarda. O esquema de segurança na Prefeitura contou com efetivo de 80 homens da Guarda Municipal, com apoio do Batalhão de Choque. A orientação, conforme Vieira, era defender o Paço Municipal, que é um prédio público, de uma possível invasão.

Discussão

"Mãos ao alto, R$ 2,20 é um assalto", "se a passagem não baixar, Fortaleza vai parar", "o nosso dinheiro não é capim, quero passe livre, sim" foram algumas palavras de ordem puxadas pelo grupo. Marcelo de Sousa Lima, do Fórum Permanente pelo Transporte Público, explica que a entidade é um espaço onde as pessoas discutem o transporte público na Capital.

"São debates atrelados ao novo pensar da Cidade. Pensar Fortaleza para os múltiplos sujeitos sociais que ela abrange. Temos que pensar a Capital para o ciclista, para as pessoas que andam a pé, pensar a mobilidade humana e não apenas a mobilidade urbana", destacou.

O estudante Mário Magno, 19, reclamou da demora para entrega das carteiras estudantis neste ano e ainda destacou a falta de garantias da Prefeitura Municipal de Fortaleza de que não haverá cortes na meia entrada, além de outras restrições. Já a estudante Carol Sousa, 16, denunciou que o valor da passagem é abusiva, uma vez que Fortaleza não tem um transporte público de qualidade, os ônibus são superlotados, demoram a passar e ainda é inseguro.


FIQUE POR DENTRO

Reivindicação é defendida por Movimento

Desde 2005, após ser criado durante o Fórum Social Mundial que aconteceu em Porto Alegre (RS), o Movimento Passe Livre (MPL) vem defendendo o passe livre estudantil em várias cidades brasileiras. O grupo se classifica como horizontal, autônomo, independente e apartidário, mas não antipartidário.

O MPL foi quem iniciou, em São Paulo, entre os meses de junho e julho, as manifestações que depois tomaram conta de todo o Brasil e levaram milhões de pessoas para protestar nas ruas. A princípio, o objetivo das ações era se manifestar contra o aumento das passagens de ônibus de R$ 3 para R$ 3,20 na capital paulista.

Depois que a Prefeitura de São Paulo recuou e reduziu o preço da passagem para R$ 3, a organização deixou de promover novos protestos, pois o seu objetivo inicial já havia sido alcançado. Mesmo assim, em outros estados, manifestações continuam sendo realizadas.



Carteiras foram prorrogadas

A assessoria de imprensa do prefeito Roberto Cláudio informou que a validade das carteiras estudantis foram prorrogadas até 1º de novembro, para que as novas possam ser confeccionadas. A reportagem tentou contactar a Empresa de Transporte Urbano de Fortaleza (Etufor), mas a assessoria de comunicação do órgão não atendeu as ligações e, até o fechamento desta edição, não deu nenhum retorno.

Apesar da prorrogação, estudantes da Capital foram surpreendidos, no último dia 15, com o bloqueio das carteiras estudantis. Com isso, alunos ficaram sem direito à meia passagem, garantida por lei. Na ocasião, a Etufor informou que as carteiras haviam vencido em 15 de setembro. Em virtude disso, todos os veículos tiveram de passar por uma parametrização e, assim, ouve o bloqueio das carteirinhas. Na segunda-feira, 16 de setembro, entretanto, a situação ainda não havia sido normalizada. Em decorrência disso, muitos estudantes tiveram de se dirigir até o órgão. O Sindicato das Empresas de Transporte de Passageiros do Ceará (Sindiônibus) garantiu que iria creditar automaticamente o valor que os estudantes pagaram a mais.

Transporte

Atualmente, a cidade de Fortaleza conta com uma frota operante de 1.789 veículos coletivos, de acordo com os dados do Sindiônibus. Diariamente, são transportadas em torno de 1,1 milhão de pessoas na Capital. 


Diário do Nordeste

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