10/12/2013

Ex-preso político conta em livro como superou torturas e drogas ao conhecer o budismo

Uma história real de transformação, um relato sobre a travessia de um homem por um período histórico dos mais conturbados no país: a ditadura militar. Como se não bastasse o terror na prisão, quando saiu ele conheceu o abismo das drogas. Essas fases marcaram seu corpo e espírito. O desafio de ir da sombra à luz é o que narra Nello Baia Jr.  no livro O Homem que renasceu das cinzas. Ex-preso político, ex-monge budista e hoje escritor e professor de yoga e meditação, ele vai lançar a obra, inicialmente em formato digital, na próxima terça-feira (10), as 15h30 no Anexo das Comissões da Assembleia Legislativa do Ceará em Fortaleza.
 
Na mesma ocasião, haverá a solenidade de entrega do prêmio Frei Tito de Alencar ao jornalista Messias Pontes (post mortem) pela Comissão de Direitos Humanos da AL. O evento é aberto a todos os interessados. Após o lançamento, A obra será disponibilizado gratuitamente na internet, no formato em PDF, para download.
 
“O livro surgiu da necessidade de compartilhar não só minha história, mas a grande possibilidade da virada que somos capazes de dar, fazendo de acontecimentos dolorosos meios hábeis para o nosso crescimento interior e verdadeiro”, diz Nello. Nascido em São Paulo em 1954, foi militar, servindo ao Corpo de Fuzileiros Navais da Marinha do Brasil, até que passou a ser considerado subversivo e foi preso no período da Ditadura Militar brasileira.
 
Na prisão, foi torturado e viu companheiros passarem pelo mesmo sofrimento. “O que te faz suportar oito anos e dois meses de prisão, o que te faz suportar torturas das mais diversas como pau de arara, empalamento, choques, escracho, humilhação de ver não só a injustiça que é submetido mas que centenas são submetidos bem na sua frente? Senão o sentido de ajuda ao próximo, a solidariedade, o Amor mesmo em lugares como aqueles. Nunca vi tanto o sentido da ajuda como vi lá dentro entre os companheiros, colegas de cela. Ajudei muito e fui ajudado muito...”, relata.

TRANSIÇÃO

Mas toda aquela violência deixou traumas e, na tentativa de aliviar tanto sofrimento, Nello conta que entrou para o mundo das drogas. Emergir desse abismo foi um desafio. “Toda transição é lenta e gradativa mas o momento mais pontual é quando, já viciado em cocaína para ‘esquecer o passado’, estou prestes a morrer por uma overdose e me lembrei de Buda. Joguei gramas da droga pelo vaso sanitário e nunca mais usei sendo que a partir daí começou a ‘reversão’ para não mais parar”. Não por acaso, Nello foi o primeiro brasileiro a ser ordenado monge pela Escola Terra Pura da China, uma das mais importantes linhas do budismo.

Retomou a vida saudável através do yoga e do budismo e tempos depois conheceu a
psicóloga cearense Ana Cláudia Dutra, com quem se casou. Desde então reside em Fortaleza onde, mesmo sem ser mais monge, continua orientando as pessoas sobre a importância de cultivar a espiritualidade nesse mundo tão marcado pelo materialismo. Junto com a esposa, desenvolve atividades como professor de yoga e meditação. Os dois mantêm a Casa da Felicidade (Av. Santos Dumont, 2727 – Aldeota).

“Dizem que não temos memória, que somos um povo sem memória. Acho que não estabelecemos na nossa cultura as premissas da conservação da memória por anos de ditadura, da época getulina, dos regimes historicamente impostos. O caso ‘Amarildo’ é um dos exemplos emblemáticos que a tortura está ainda aí, viva e forte. Amarildo morreu torturado por militares com know-how da ditadura militar. Muitos Amarildos morrem diariamente nas periferias em homícidios não esclarecidos, execuções sumárias...nossa Polícia ainda é a que mais mata. É preciso denunciar, esclarecer...o meu livro humildemente tenta fazer um pouco disto...”, diz Nello.

Mais informações: Nello Baia Jr. -  (fones: 85  8772 4587 / 9154 9080)

Boa Notícia

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