01/02/2014

Operação salvamento

Costa do Marfim corre o risco de perder seus últimos elefantes-da-floresta, símbolos do país.


O governo marfinense estima em menos de 900 o número de elefantes sobreviventes. (Foto: Arquivo)
Por Maureen Grisot*

Originalmente, a manada que teve de ser transferida vivia pacificamente no parque nacional de Marahoué, perto de Daloa. Mas, pouco a pouco, esse habitat natural foi sendo devastado pela agricultura, bem como pela exploração ilegal de madeira e pela caça clandestina desenfreada. A Costa do Marfim, assim como a África Central, é um território de caça privilegiado para o tráfico internacional de marfim, que se tornou uma importante fonte de financiamento para os grupos armados.

O caos que nasceu com a crise pós-eleitoral de 2011, entre partidários de Laurent Gbagbo e de Alassane Ouattara, acelerou o movimento, permitindo a chegada maciça de agricultores. Foi a morte do parque de Marahoué: 80% de sua superfície desapareceu.

Os elefantes foram saindo com a pressão e se refugiaram em uma floresta nos arredores da cidade de Daloa, iniciando assim uma difícil coabitação com os moradores dos vilarejos: três pessoas foram mortas e seis outras, feridas.

"No início ficamos curiosos, era a primeira vez que os víamos", lembra emocionado Oscar Sery, um agricultor residente no vilarejo de Toroguhé, a três quilômetros de Daloa. "Mas eles logo saquearam tudo e não tínhamos mais o que comer. A partir de então passaram de sagrados a inimigos". Oscar, assim como muitos moradores, afirma ter pensado em abater esses intrusos, mas ninguém chegou a fazê-lo. "Sabemos que os elefantes são protegidos e nós gostamos deles, afinal eles são o símbolo de nosso país! Nós somos gratos àqueles que vieram tirá-los daqui."

Hoje, o governo marfinense estima em menos de 900 o número de elefantes – da floresta e da savana, somados – em seu território. Esse número seria altamente superestimado, segundo cientistas.

Ciente de que cada espécime é precioso, Abidjã pediu ao Fundo Internacional para Proteção dos Animais (IFAW) para que encontre uma solução para os paquidermes de Daloa. A ONG identificou então o parque nacional de Azagny, mais de 500 quilômetros ao sul, como o único que oferece condições aceitáveis de recebê-los.

Discretos e silenciosos

O processo de transferência foi iniciado no dia 20 de janeiro. "O elefante-da-floresta vive em um ecossistema onde a vegetação é muito densa", explica Céline Sissler-Bienvenu, diretora do IFAW França e África francófona. "Ele é muito discreto e silencioso, então é possível topar de frente com um deles a qualquer momento, o que é muito perigoso".

A ONG está mobilizando uma equipe de cerca de dez pessoas, entre elas vários especialistas vindos da África do Sul, para essa operação desesperada. "O elefante-da-floresta é a espécie mais ameaçada de extinção atualmente, por causa da caça clandestina e da destruição de seu habitat. São os últimos da África Ocidental", afirma Céline Sissler-Bienvenu.

Os doadores do IFAW investiram mais de 180 mil euros – a Costa do Marfim, cerca de 364 mil euros – para financiar essa operação tão delicada. Uma vez que os patrulheiros localizam o animal, as equipes os seguem em picapes e depois a pé, ou quando a vegetação permite, de helicóptero; o veterinário tem então somente poucos segundos para atirar um dardo tranquilizante contra o animal.

Começa então uma espera interminável, tempo para que o sedativo comece a agir: de cinco a oito minutos, durante o qual o elefante continua a andar e pode cair em qualquer lugar. Um deles, que caiu em um rio lamacento, acabou morrendo apesar dos esforços dos especialistas. "Nós lhe demos o antídoto, mas ele já havia se afogado", lamenta Peter Morkel, veterinário do projeto.

"Fizemos tudo que era possível, mas uma distância de segurança é indispensável, pois ele pode atacar a menos de 20 metros". Um outro macho morreu de ataque cardíaco depois de ser atingido por um dardo. Mas no total quatro elefantes foram capturados sãos e salvos em oito dias.

Elefante branco é apresentado em jardim de Yangon, em Myanmar. O paquiderme, uma raridade, desfruta de banho e uma pequena caminhada antes de ser exposto para turistas.

Você já viu um elefante branco?

No dia 22 de janeiro, um macho de porte grande foi içado por uma grua sobre a rampa de um caminhão. Os aldeões reunidos em torno do animal adormecido aproveitaram para arrancar alguns pêlos seus ou tirar fotos, como Elton Lago: "É para meus filhos, para que eles acreditem quando eu lhes disser que vivemos junto com elefantes". Elton é patrulheiro, faz parte dos que guiam as equipes do IFAW. "Parte de mim está contente porque eles destruíam nossas plantações, mas vou sentir falta deles, sobretudo do Plaisir [prazer em francês]," sorri com tristeza esse agricultor. "Eu o chamei assim porque a gente dava banana e laranja para ele, ele brincava conosco, nós o adotamos."

Um caminhão abriu caminho até o animal, depois o transportou até uma zona especial criada à beira de uma estrada asfaltada, onde deixou o mastodonte deslizar pela rampa para dentro de sua jaula. Uma vez em pé, ele entrou em uma outra jaula colocada em um segundo caminhão, que só teve de tomar a estrada até o parque nacional de Azagny para que ele se juntasse a seus congêneres: doze outros elefantes, que permitirão dar uma nova vida à sua manada.

"Fazemos questão de mostrar que a Costa do Marfim tem a capacidade de conservar uma espécie ameaçada", afirma a comandante Joëlle Mailly, responsável pela fauna no ministério marfinenses das Águas e Florestas. "A segurança deles será garantida, temos para-comandos especialmente formados e equipados para isso." O Ministério do Meio Ambiente contratou trinta agentes para monitorar esses novos moradores e combater a caça ilegal, a principal ameaça que pesa sobre eles agora.
* A reportagem é de Maureen Grisot, publicada no jornal Le Monde.
Dom |Total

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