Se Jesus aceita a perseguição, é por fidelidade a Deus, que não quer ver sofrer seus filhos e filhas.
Por José Antonio Pagola*
A execução de João Batista não foi algo casual. Segundo uma ideia muito difundida pelo povo judeu, o destino que espera o profeta é a incompreensão, a rejeição e, em muitos casos, a morte. Provavelmente, Jesus contou desde muito cedo com a possibilidade de um final violento.
Jesus não foi um suicida, nem procurava o martírio. Nunca quis o sofrimento nem para Ele nem para ninguém. Dedicou a sua vida a combatê-lo na doença, nas injustiças, na marginalização ou no desespero. Viveu entregue a "procurar o reino de Deus e a sua justiça": esse mundo mais digno e ditoso para todos, que procura o seu Pai.
Se aceita a perseguição e o martírio, é por fidelidade a esse projeto de Deus, que não quer ver sofrer os seus filhos e filhas. Por isso, não corre para a morte, mas tampouco recua. Não foge ante as ameaças, tampouco modifica nem suaviza a sua mensagem.
Teria sido fácil evitar a execução. Teria bastado com calar-se e não insistir no que podia irritar no templo ou no palácio do prefeito romano. Não o fez. Seguiu o seu caminho. Preferiu ser executado antes de atraiçoar a sua consciência e ser infiel ao projeto de Deus, seu Pai.
Aprendeu a viver num clima de insegurança, conflitos e acusações. Dia a dia foi-se reafirmando na sua missão e continuou anunciando com claridade a Sua mensagem. Atreveu-se a difundi-la não só nas aldeias retiradas da Galileia, mas também no entorno perigoso do templo. Nada o deteve.
Morrerá fiel ao Deus em que confiou sempre. Seguirá acolhendo a todos, inclusive a pecadores e indesejáveis. Se acabarem por rejeitá-lo, morrerá como um “excluído”, e com a sua morte confirmará o que foi toda a sua vida: confiança total num Deus que não rejeita nem exclui ninguém do Seu perdão.
Continuará a procurar o reino de Deus e a Sua justiça, identificando-se com os mais pobres e desprezados. Se um dia o executam no suplício da cruz, reservado para escravos, morrerá como o mais pobre e desprezado, mas com a sua morte selará para sempre a sua fé num Deus que quer a salvação do ser humano de tudo o que o escraviza.
Instituto Humanitas Unisinos
*José Antonio Pagola é teólogo. Texto baseado na leitura do Evangelho de Jesus Cristo segundo Mateus 26,14-27,66 que corresponde ao Domingo de Ramos, Ciclo A do Ano Litúrgico.
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