O cardeal Oscar Rodriguez Maradiaga, esta semana, levantou a possibilidade de se ter uma liderança leiga em alguns dicastérios vaticanos como parte do programa de reformas dos cardeais na Cúria. Essa sugestão repercutirá prontamente com muitas pessoas. No nosso caso, certamente que sim.
Obviamente, as mudanças no governo da Igreja exigem uma reflexão séria. A nossa própria experiência do Vaticano trouxe-nos em contato com muitos prelados inspiradores que dedicaram suas vidas de forma energética, abnegada e inovadora a serviço da Igreja.
No entanto, a nomeação de uma liderança leiga seria uma declaração rica em simbolismo e um grande passo em relação ao papel dos leigos na Igreja. Seria responder ao apelo do Papa Bento XVI para uma “mudança de mentalidade” – a necessidade de os leigos não “serem vistos como ‘colaboradores’ do clero, mas … como ‘corresponsáveis’ do ser e agir da Igreja”. Isso também ajudaria a reduzir o problema generalizado do clericalismo.
O cardeal Rodriguez vai mais longe e sugere especificamente que um casal poderia realizar tal papel, mais uma vez uma afirmação altamente simbólica. Embora as pessoas casadas são comumente nomeadas para cargos a nível paroquial, diocesano e nas conferências episcopais, as suas nomeações são comumente baseadas em suas habilidades seculares (como no ramo das finanças ou no bem-estar social) e na fé pessoal. Raramente, tem-se casais apontados por causa de sua relação sacramental.
Então, por que distinguir entre um casal e um leigo? O casamento é um estilo de vida diferente da vida dos solteiros, assim os casais trazem uma perspectiva diferente, nem melhor, nem pior, apenas diferente. É análogo às diferentes perspectivas entre mulheres e homens. Nenhuma delas é melhor; ambas são necessárias.
O testemunho especial dos casais reside em sua relação, especificamente através da intimidade e da pertença. Esses dons conjugais, descritos repetidamente nas Escrituras como revelação do amor de Deus pelo seu povo, são fundamentais para a vida da Igreja.
Além disso, o sacramento do matrimônio é expresso através do relacionamento do casal, que é essencialmente sexual e baseado na complementaridade de gênero. Assim, encabeçando um dicastério, um casal com essa consciência deve ser mais capaz de lidar com questões relacionadas à sexualidade com confiança e expressar isto em linguagem compreensível e adequada.
É importante ressaltar que um casal iria trazer as suas experiências de vida familiar em todas as suas infinitas complexidades, alegrias e dramas. Nada supera a vida familiar quando se trata de pura “confusão”, que é um fundo realista para aplicar a doutrina da Igreja aos desafios pastorais. Embora o clero, as pessoas solteiras e os religiosos tenham todos experiências do ser família, eles não têm aquelas relativas ao papel central do casal na vida familiar.
A Igreja lida com a forma de expressar a inclusão e o acolhimento e em como trabalhar com a tensão constante de falar a verdade com amor. Ter um casal na liderança de um dicastério elevaria a consciência de que a Igreja tem muito a aprender com as experiências de famílias, uma vez que elas lidam com os desafios da vida diária, fazendo da Igreja doméstica uma força eficaz para a evangelização em uma sociedade que muitas vezes vê a Igreja como um lugar para alguns poucos perfeitos.
Assim, não somente tal iniciativa teria um grande simbolismo, mas traria uma dimensão adicional de liderança a um dicastério.
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