Uma missa celebrada neste domingo (3) na Igreja da Sé, em Olinda, marcou a abertura do processo de beatificação e canonização de dom Hélder Câmara. Na cerimônia, foi constituído o tribunal religioso que escutará as pessoas que tiveram uma convivência mais próxima com o conhecido “Dom da Paz”. Os depoimentos são encaminhados depois para o Vaticano.
Durante a celebração, houve a leitura do decreto que constitui o tribunal. Após assinar a criação do tribunal religioso, o arcebispo de Olinda e Recife, dom Fernando Saburido, fez seu juramento com a mão na bíblia. “Hoje é para todos nós um dia de muita alegria. Estamos na páscoa, que é tempo de alegria por excelência, mas a páscoa será diferente este ano porque iniciamos oficialmente o processo de beatificação e canonização de dom Hélder”, aponta o arcebispo.
O tribunal é formado por cinco membros – juiz delegado e promotor de justiça (ambos canonistas), notário, notário adjunto e cursor, que fizeram seus juramentos na missa deste domingo. “Hoje já teremos a oportunidade de escutar o primeiro [testemunho], que vai ser do arcebispo emérito da Paraíba, dom José Maria Pires, um homem que foi companheiro de dom Hélder na sua fase de arcebispo”, explica dom Fernando Saburido.
Uma comissão histórica atuou durante o pedido de abertura do processo, concluído em maio de 2014. Em fevereiro, a arquidiocese recebeu o aval da Santa Sé ratificado por meio de carta enviada pelo prefeito da Congregação Causa dos Santos, cardeal dom Ângelo Amato – a carta só chegou no início de abril ao estado.
A partir de agora, o tribunal passa a ouvir sigilosamente os depoimentos sobre dom Hélder, tanto no Recife, quanto no Rio de Janeiro e demais locais por onde o religioso passou. Somente em Pernambuco, dom Fernando Saburido acredita que serão ao menos 50 depoimentos. “Agora vamos ter mais facilidade para arrebanhar toda essa riqueza que existe por aí a respeito de dom Hélder. Os próprios escritos de dom Hélder são um tesouro. São as cartas conciliais que ele escreveu durante as vigílias noturnas. Já são 13 volumes. É um material muito bom que vai ser utilizado nesse processo”, aponta o arcebispo de Olinda e Recife.
Dom Hélder Câmara nasceu em 7 de fevereiro de 1909, em Fortaleza, e teve 12 irmãos. Após entrar muito jovem no seminário da capital do Ceará, se tornou padre aos 22 anos. O conhecido “dom da Paz” recebeu diversos prêmios pelo trabalho em defesa dos direitos humanos. Para ser considerado beato, a Igreja Católica precisa ainda reconhecer pelo menos um milagre concedido pela intercessão dele.
Sem poder adiantar nada sobre as perguntas, dom José Maria recordou a amizade com o dom da Paz. “A santidade consiste em enfrentar os desafios na fé, os desafios da vida. Dom Hélder enfrentou os desafios de maneira maravilhosa. Especialmente quando ele desenvolveu a doutrina da não violência evangélica, que fez tanto bem às pessoas e desarmou tanta gente também”, avalia o religioso.
O juiz delegado do tribunal, dom Antônio Tourinho Neto, explica que foi enviado pela Santa Sé um questionário com 70 perguntas. Durante o questionário, o tribunal busca desvendar toda a vida do candidato a santo. “Perguntamos tudo o que diz respeito a ele. Suas falas, pregações, escritos, sua vida diante da misericórdia, da caridade. E também, como é um ser humano, os defeitos, os pecados. Com certeza, serão apontadas as limitações humanas. Bem, para isso existe um promotor de justiça, ele faz o papel daquele que investiga, principalmente, as falhas na vida do ser humano para que também possa ser levado em consideração no decorrer do processo, no julgamento, o que pesa mais: se são as virtudes, se são as falhas humanas, para se chegar a uma conclusão”, explica.
A fase de depoimentos deve levar em torno de um ano. Então, é elaborado um ‘Positio’, um documento onde consta todos os relatos e estudos sobre o candidato a santo, onde há ainda uma biografia documentada. Assim que aprovado, o papa concede o título de Venerável Servo do Senhor.
http://www.paroquiasantoafonso.org.br/?p=13016
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