O designer americano Andy Lee Robinson vem explorando formas diferentes de apresentar graficamente o desaparecimento do gelo no Ártico. Ele usa dados do Centro de Ciência Polar da Universidade de Washington. Uma de suas criações recentes mostra como evoluiu o volume de gelo no Ártico, mês a mês. Cada linha colorida representa as médias de um mês, desde 1979 até março de 2013, no sentido horário.
Repare nos meses de março, abril e maio (linhas amarela, verde claro e verde escuro). São os meses onde o gelo está no ápice de volume, depois de todo o inverno no hemisfério norte. O volume médio de gelo na década de 70 estava em torno de 30 mil quilômetros cúbicos nesses meses. Agora observe o que acontece com as linhas amarela e verdes enquanto o relógio das décadas gira. O volume de gelo desses meses em 2013 chegou à faixa dos 20 mil quilômetros cúbicos, uma situação parecida com a dos verões no passado. A condição do Ártico hoje no auge do inverno está mais próxima de como era o auge do verão nos anos 1970.
Não à toa, alguns pesquisadores se referem ao processo no Ártico como um espiral de morte. O gráfico mostra bem como o volume de gelo espirala rumo ao desaparecimento em algum momento das próximas décadas. Nos últimos 30 anos, o verão do Ártico ficou apenas com um quinto do volume de gelo original.
Um levantamento recente mostra como o gelo da região começa a mostrar rachaduras em pleno inverno. O fim do gelo na região vai abrir novas rotas de navegação. Mas o desaparecimento da calota de gelo terá consequências negativas para todo o planeta. Ele não elevará diretamente o nível do mar, porque o gelo flutuante não influi na altura dos oceanos. O fim do gelo polar pode acelerar o derretimento de gelo sobre rocha, como da Groenlândia e da Antártica. E esses sim afetam o nível dos mares.
A redução da calota branca no Ártico também reduz a capacidade da região de refletir a luz do Sol. Mais luz é absorvida pela superfície escura do oceano, o que acelera o aquecimento do mar. O hemisfério norte virou o maior aquecedor da Terra. Isso gera elevação do nível dos mares, por causa da expansão térmica. Também provoca alterações nas correntes marinhas, com consequências em todo o mundo. E um mar mais quente também tem capacidade menor de absorver o excesso de gás carbônico que jogamos na atmosfera. Hoje, apesar de já termos despejado várias toneladas de carbono na atmosfera, as mudanças climáticas só não estão mais acentuadas porque os oceanos têm absorvido a maior parte do gás. Não se sabe por quanto tempo o mar continuará servindo de bueiro para nossa poluição. A partir de certa temperatura da água e de certo grau de saturação, os mares podem passar a jogar de volta para o ar o gás carbônico dissolvido, como uma Coca-Cola quente borbulhando ao sol. Isso aceleraria o ritmo das mudanças climáticas e tornaria o processo irreversível.
(Alexandre Mansur)
Revista Época
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