J. B. Libanio
Padre jesuíta, escritor e teólogo. Ensina na Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia (FAJE), em Belo Horizonte, e é vice-pároco em Vespasiano
Adital
As culturas antigas prezavam o espaço. O tempo se submetia a ele. Imaginemos as viagens de Anchieta de São Paulo à Bahia caminhando a pé. Não se tem ideia do tempo, mas sabe-se da enormidade da distância e da dureza, periculosidade do empreendimento.
O predomínio do espaço facilitava a vida contemplativa. Que fazer em tantas ocasiões com longos trajetos a serem percorridos sem perspectiva do tempo, senão dedicar-se a apreciar as belezas da natureza, a sentir de perto a presença do Senhor e, depois da invenção da imprensa, a ler a fim de ocupar os momentos do longo peregrinar?
O espaço permitia facilmente ser sacralizado. Assim se criaram santuários, templos, lugares de peregrinação para onde as pessoas se dirigiam a fim de saciar a sede do Divino. As culturas abundaram em delimitar espaços para as diversas atividades humanas, desde as religiosas até o descanso, o lazer. O tempo apenas contava. Pergunte a um peregrino nordestino, que se dirige a Juazeiro do Norte, quanto lhe importa o tempo gasto na viagem. Interessa-lhe chegar lá onde se cultua o padrinho Cícero.
A cultura moderna, com a revolução industrial e com a febricitante urbanização, iniciou processo de inversão. O espaço vale pelo preço que tem e não mais pela sua sacralidade habitacional, religiosa ou outra. Atribui-se ao norte-americano Benjamin Franklin o dito revelador: "Time is money". Frase repetida, mas que esconde terrível e quase perversa inversão de valor. Entra-se no frenesi do tempo, na rapidez dos meios de comunicação, na velocidade do trabalhar, na ganância do produzir. Já não se medem as distâncias pelos quilômetros, mas pelo tempo necessário para vencê-las. Assim, alguém mora, ao mesmo tempo, longe e perto do centro da cidade. Depende da hora que rege o fluxo e contrafluxo do tráfego.
Que significa para a vida pessoal e a cultura tal inversão? Não soa inocente. Traz consequências pesadas para os relacionamentos humanos, para a compreensão da vida. O tempo tende a ser ocupado de tal maneira com mil atividades que mesmo morando a breve espaço de amigos e familiares as visitas rareiam ou mesmo apenas acontecem. O tempo fragmenta-se a ponto de as pessoas estarem continuamente estressadas. Ironicamente, alguém comentava que, ao terminar as férias ou um feriado prolongado, encontrava as pessoas cansadas, nervosas. Não descansaram porque não encontraram nenhum espaço de paz, de serenidade, de silêncio, de contemplação. O rodar veloz do tempo não permite. E ele exige que se encham todos os intervalos com atividades. E com o uso crescente do celular, a neurose do tempo aumentou.
O fato de presenciar em tempo real os acontecimentos, o recurso aos dados informatizados que situam, num mesmo plano, séculos de distância, produzem a impressão de que tudo acontece simultaneamente. O espaço se encurta até mesmo desaparecer. A velocidade que o tempo impinge aos conhecimentos dos fatos anula a dimensão de extensão. Tudo é presente. A história desaparece do horizonte. E com ela a responsabilidade pelo futuro e a ética. Em termos ecológicos, ameaça-se a natureza-espaço porque o lucro-tempo domina-a.
O predomínio do espaço facilitava a vida contemplativa. Que fazer em tantas ocasiões com longos trajetos a serem percorridos sem perspectiva do tempo, senão dedicar-se a apreciar as belezas da natureza, a sentir de perto a presença do Senhor e, depois da invenção da imprensa, a ler a fim de ocupar os momentos do longo peregrinar?
O espaço permitia facilmente ser sacralizado. Assim se criaram santuários, templos, lugares de peregrinação para onde as pessoas se dirigiam a fim de saciar a sede do Divino. As culturas abundaram em delimitar espaços para as diversas atividades humanas, desde as religiosas até o descanso, o lazer. O tempo apenas contava. Pergunte a um peregrino nordestino, que se dirige a Juazeiro do Norte, quanto lhe importa o tempo gasto na viagem. Interessa-lhe chegar lá onde se cultua o padrinho Cícero.
Que significa para a vida pessoal e a cultura tal inversão? Não soa inocente. Traz consequências pesadas para os relacionamentos humanos, para a compreensão da vida. O tempo tende a ser ocupado de tal maneira com mil atividades que mesmo morando a breve espaço de amigos e familiares as visitas rareiam ou mesmo apenas acontecem. O tempo fragmenta-se a ponto de as pessoas estarem continuamente estressadas. Ironicamente, alguém comentava que, ao terminar as férias ou um feriado prolongado, encontrava as pessoas cansadas, nervosas. Não descansaram porque não encontraram nenhum espaço de paz, de serenidade, de silêncio, de contemplação. O rodar veloz do tempo não permite. E ele exige que se encham todos os intervalos com atividades. E com o uso crescente do celular, a neurose do tempo aumentou.
O fato de presenciar em tempo real os acontecimentos, o recurso aos dados informatizados que situam, num mesmo plano, séculos de distância, produzem a impressão de que tudo acontece simultaneamente. O espaço se encurta até mesmo desaparecer. A velocidade que o tempo impinge aos conhecimentos dos fatos anula a dimensão de extensão. Tudo é presente. A história desaparece do horizonte. E com ela a responsabilidade pelo futuro e a ética. Em termos ecológicos, ameaça-se a natureza-espaço porque o lucro-tempo domina-a.
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