João XXIII lançava Igreja no desafio de «contribuir mais eficazmente na solução dos problemas da idade moderna»
Lisboa, 24 dez 2011 (Ecclesia) – O dia de Natal de 1961 foi a data escolhida pelo Papa João XXIII para anunciar ao mundo que tinha chegado a “hora de convocar o Concílio Ecuménico Vaticano II”. O beato italiano assinava, há 50 anos, a constituição apostólica ‘Humanae Salutis’, quase três anos depois de ter anunciado a intenção de convocar um concílio [25 de janeiro de 1959], o 21.º da história da Igreja. “Nós, desde quando subimos ao supremo pontificado, não obstante nossa indignidade e por um desígnio da Providência, sentimos logo o urgente dever de conclamar os nossos filhos para dar à Igreja a possibilidade de contribuir mais eficazmente na solução dos problemas da idade moderna”, escrevia. Para o Papa Roncalli, que viria a falecer antes da conclusão deste evento eclesial, “a jubilosa repercussão que teve seu anúncio, seguida da participação orante de toda a Igreja e do fervor nos trabalhos de preparação, verdadeiramente encorajador, como também o vivo interesse ou, pelo menos, a atenção respeitosa por parte de não-católicos e até de não-cristãos demonstraram, da maneira mais eloquente, como não escapou a ninguém a importância histórica do acontecimento”. João XXIII desejava uma “demonstração da Igreja, sempre viva e sempre jovem, que sente o ritmo do tempo”. “Ao mundo perplexo, confuso, ansioso sob a contínua ameaça de novos e assustadores conflitos, o próximo concílio é chamado a oferecer uma possibilidade de suscitar, em todos os homens de boa vontade, pensamentos e propósitos de paz”, podia ler-se. Angelo Guiseppe Roncalli, João XXIII, tinha sido eleito a 28 de outubro e investido a 4 de novembro de 1958, pelo que esta decisão causou “surpresa”, como refere o historiador e padre Senra Coelho, do Instituto Superior de Teologia de Évora, num texto publicado no semanário Agência ECCLESIA. O investigador lembra que “o Concílio Vaticano I fora adiado sine die, devido às dificuldades políticas surgidas com os movimentos promotores da unificação de Itália”, em 1870. Segundo o padre Senra Coelho, “com a realização do Concílio Vaticano II mudou o olhar da Igreja para o mundo e muitos dos que estiveram sob suspeita, foram depois referência e assumiram atuações de primeira ordem”. Paulo Rocha, diretor da Agência ECCLESIA, sublinha os contributos enviados para Roma nos três anos anteriores à realização das sessões conciliares, quando foram pedidos temas para debate e sugestões para o desenrolar dos trabalhos: “A Roma chegaram quase 2 mil respostas, onde estavam mais de 9 mil propostas”. “Depois, os anos de reunião, no Vaticano: 2500 participantes no Concílio, observadores, peritos, consultores teológicos, tradutores e muitas outras pessoas para concretizar uma ideia do Papa João XXIII, expressão de procuras e interrogações de mulheres e homens dos meados do séc. XX na tentativa de adequar verdades eternas a novos contextos”, acrescenta. O arcebispo emérito de Braga, D. Eurico Nogueira Dias, recorda ainda hoje o “entusiasmo” com que recebeu a convocação e elogia o momento em que “a Igreja resolve encarar os problemas no seu conjunto”, permitindo que o Concílio se tornasse “um lugar de discussão clara, pública e sem reservas”. A Agência ECCLESIA publica, durante os próximos meses, um conjunto de conteúdos que assinala os 50 anos deconvocação do Concílio Vaticano II. OC |
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