17/03/2012

Em época de chuva, aves aproveitam fartura da caatinga verde

A chuva abençoa o sertão. A caatinga fica cheia de vida. Para os botânicos, é um presente. A região oferece uma vegetação extremamente variada.

Francisco José
De volta à Serra da Capivara, vimos a chuva abençoar o sertão e a caatinga cheia de vida.
“As sementes ficam enterradas até o próximo ano. Tudo dorme. Não é que está morto. O pessoal diz que está morto, mas não está. Está dormindo”, explica a botânica Ana Maria Giulietti Harley, da UEFS.
“Chegamos com chuva! É a bênção dos botânicos”, comemora o botânico Raymond Harley.
“A chuva é como se fosse a dádiva que chega para essas plantas”, diz Ana Maria.
Os botânicos Ray e Ana Maria entendem bem do milagre. Os dois são casados, e a caatinga é a grande paixão deles.
“O que a gente chama de bioma da caatinga é um matriz de tipos de vegetação diferentes que forma esse bioma. Isso é que é mais importante. Mostra que não é uniforme como se dizia. É exatamente ao contrário. Dependendo do lugar aonde vai, dependendo da altitude, terão plantas diferentes”, explica Ana Maria. “Já chegamos a quase 5,5 mil. Isso mostra que a gente tem uma exuberância de espécies muito grande.”
Em tempo de caatinga verde, as aves do sertão aproveitam a fartura. “Cancão é uma ave interessante. Ele vive em pequenos bandinhos de até cinco indivíduos”, afirma o ornitólogo Marcos Pérsio, da UFPA.

“A dancinha que ele faz é um ritual de comunicação entre os indivíduos do grupo. É uma das aves mais comuns na caatinga, na área do sertanejo. O problema é que alguns deles gostam de ter o cancão tão perto que colocam ele na gaiola”, ressalta Marcos. “O chamado galo de campina, ou cabeça vermelha, é uma ave típica da caatinga.”
“Uma das grandes perguntas da caatinga é para onde as aves vão na época da seca. Uma dinâmica importante na caatinga é o deslocamento dessas aves das áreas que realmente ficam secas para as áreas que ficam mais úmidas no período da seca”, esclarecer o ornitólogo. “Haver vários tipos de caatinga preservados dentro de um parque é importante, porque preserva essa dinâmica, essa movimentação da fauna. A gente fala de aves, mas isso serve para os mamíferos, serve para outros grupos de animais que precisam desse deslocamento na época da seca.”

“No período de chuva, a água cai na chapada e infiltra no solo, e acha um caminho na rocha, uma falha, e desce em um olho d’água”, diz o guia ambiental João Leite, ao lado de uma rocha pela qual escorre água. “É um dos únicos pontos de água permanente no Parque Nacional Serra da Capivara.”

“A gente tem perdido algumas áreas importantes da caatinga. A questão do desmatamento, a questão das carvoarias”, lamenta o Marcos. “Na época da seca, isso aqui vira um refúgio. Os bichos vêm para cá.”
“Eu acho que o homem das cavernas era mais feliz. Era um homem que vivia de acordo com a natureza. O homem atual tenta dominar a natureza. Mas ele não vai conseguir dominar a natureza. Isso vai custar bem caro”, reflete a arqueóloga Niéde Guidon.
“Eu sempre digo que a gente tem que sair da pré-história para o futuro. A ciência tem que ser capaz de transformar esse lugar e utilizar as suas plantas, os venenos de seus animais em biotecnologia. E isso tem que gerar desenvolvimento para essa região, e um desenvolvimento que preserve a caatinga, porque ela vale muito mais em pé do que vale em um forno de carvão”, conclui a bióloga Márcia Chame.
Globo Repórter nos Céus do Brasil chega à caatinga. (Foto: Rede Globo)Balão do Globo Repórter nos Céus do Brasil sobrevoa a caatinga. (Foto: Rede Globo)

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