11/03/2012

Vaticano II: Resistência ao Concílio limita compromisso social dos católicos

Antigo presidente da Cáritas Portuguesa lamenta «desconfiança» face à militância política, sindical ou empresarial

Lisboa, 09 mar 2012 (Ecclesia) – Acácio Catarino, antigo presidente da Cáritas Portuguesa, lamentou esta quinta-feira, em Lisboa, a existência de uma “resistência individualista” no seio dos católicos, considerando que esta limita “o compromisso social”.
“Provavelmente, hoje em dia, a militância política, sindical e empresarial não é assumida pela maioria dos leigos que até a encaram muitas vezes com alguma desconfiança”, referiu o especialista, durante um painel sobre a questão ‘O que trouxe o II Concílio do Vaticano à Igreja do nosso tempo?’, inserido nas XXXIII Jornadas de Estudos Teológicos.
Esta é uma iniciativa promovida pela Faculdade de Teologia da Universidade Católica Portuguesa, que hoje se conclui.
Para Acácio Catarino, “o corporativismo, o mutualismo e a participação no desenvolvimento local e outras linhas de ação semelhantes não foram assumidas significativamente pelo nosso laicado ao longo dos últimos 50 anos”.
A este respeito, constatou que a Ação Católica “tão dinâmica” antes do Concílio entrou numa “fase de crise profunda, que perdura até hoje”.
O vogal da Comissão Nacional Justiça e Paz afirmou que com o surgir do Concílio Vaticano II (1962-1965) se verificaram três posições: “Adesão irrealista, adesão consistente e não adesão ou, então, adesão com bastantes reservas”.
A adesão irrealista, precisou, consistia na “expectativa infundada de que o Concílio alterasse profundamente a doutrina da Igreja, a sua disciplina e o seu papel no mundo.
“Muitos abandonos verificados, posteriormente, ou a diminuição do compromisso estão relacionados com uma certa frustração”, prosseguiu.
Já o grupo da adesão consistente “aceitou o Concílio e a respetiva sequência”; o grupo dos aderentes com muitas reservas foi “minoritário, embora tenha suscitado uma cisão organizada”.
Na perspetiva laical verificou-se uma “renovação considerável” depois do Concílio, que em parte “já vinha de trás” e, isso, aconteceu, “em especial na esfera da qualificação, da participação, dedicação regular às três dimensões da vida eclesial: litúrgica, profética e eclesial”.
Este responsável observou que a renovação impulsionada pelo dinamismo conciliar foi visível, ainda que se verifiquem, ao mesmo tempo, “algumas tendências preocupantes: certa resistência individualista, pluralismo não assumido e um certo clericalismo irresistível”.
Sobre este último ponto, Acácio Catarino disse que “mesmo as posições laicais de intervenção sociopolítica aparecem, não raro, com esta configuração”.
LFS/OC

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