Desde o início da sua carreira de ator que Sean Penn a todos surpreende com a sua portentosa capacidade artística e espantosa versatilidade. Gerindo a carreira com cuidado extremo, sem deixar escolhas de papéis por mãos alheias, a sua total entrega permite o invulgar poder nos fazer esquecer por completo do seu nome durante cada filme, para apenas no final recordarmos que é o ator, por inteiro, por detrás da personagem.
Não seria por isso sobre a sua referência, como cabeça de cartaz, que recairiam as grandes expetativas criadas em torno de “Este é o meu Lugar”, mas sim sobre o ainda desconhecido realizador italiano Paolo Sorrentino. Desconhecimento esse acrescido do facto de ser o seu primeiro filme de coprodução americana, ampliando de forma assinalável o desafio e risco da sua direção.
Eis então que finalmente chega a Portugal a tão aguardada história de Cheyenne, uma estrela de Hard-rock que, passada a voragem dos dias de muito público, entre a produção musical em discos e concertos, drogas pesadas e horas não dormidas, enfrenta agora os dias consigo mesmo.
De Dublin para os Estados Unidos, estes não serão os dias de vazio nem de paragem mas de abrandamento, de busca e de (re)encontro, com as suas raízes judaicas, a sua família, a sua identidade. Uma procura que se traduz numa fantástica, dramática e comovente viagem em que, sem despir a sua imagem, Cheyenne se desnuda interiormente e se entrega à esperança e à descoberta. As dádivas que o aguardam são imensas e não dispensam sequer alguns momentos de humor, numa construção narrativa inteligente em que músico e América se entretecem, sob o olhar curioso e perspicaz do realizador.
O que pareceria uma estranha combinação, para quem tivesse acompanhado a produção do filme e esperasse apenas uma bem encarnada história de decadência de um músico “da pesada”, é enfim uma belíssima oportunidade de ver para além da aparência e descobrir a qualidade e possibilidade de redenção em cada homem.
“Este é o meu Lugar” foi premiado em Cannes pelo Júri Ecuménico do Festival, em 2011.
Margarida Ataíde |
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