24/04/2012

Dom Helder - sonhos e utopias



Pe. João Carlos Ribeiro*

A homenagem prestada pelo Pe. Geovane Saraiva, expressa nesta obra, “Dom Helder: Sonhos e utopias”, com absoluta certeza será compartilhada por muitos sonhadores, amigos e admiradores do “artesão da paz”, do homem que com seu jeito encantador de ser e sua mística, uniu à terra ao céu, como o pastor e profeta dos empobrecidos, dos “sem voz e sem vez”.
Depois de ter entregado aos leitores “O Peregrino da Paz” e “Nascido Para as Coisas Maiores”, por ocasião do centenário do cidadão do planeta (1909-2009), nosso querido Pe. Geovane, sacerdote da Arquidiocese de Fortaleza, há 24 anos, quer mostrar neste trabalho a homenagem do todos nós a Dom Helder Pessoa Câmara, na riqueza e na força de sua personalidade, profundamente marcada pela graça de Deus e, por isso mesmo, humano ao extremo.
Dom Helder marcou a região metropolitana do Recife, nos anos em que foi nosso arcebispo. Esteve à frente do rebanho em momentos sociais muito tensos e difíceis, como foi o tempo da ditadura militar. O Brasil e o mundo conheceram um Dom Helder porta-voz dos injustiçados e dos empobrecidos. Um homem lúcido, profeta segundo o Evangelho, dono de palavras fortes e contundentes. Mas nós conhecemos mais do que esse profeta respeitado no exterior e temido, em seu país, por suas posições em favor de um mundo fraterno e solidário e de uma Igreja pobre e servidora. Conhecemos um Dom Helder respeitoso das pessoas e cheio de amor para com os sofredores. Um homem simples e ao alcance das pessoas de qualquer classe social.
Com toda certeza, uma das obras mais significativas de Dom Helder foi o Encontro de Irmãos. O Movimento de Evangelização Encontro de Irmãos nasceu da confiança do Dom no povo pobre da periferia. Ele acreditou no povo sofredor dos bairros populares e o convocou para a grande tarefa da evangelização. Começou no rádio, dando dicas sobre o trabalho com a Bíblia. Passou a reunir as lideranças que foram surgindo. O povo pegou a Bíblia nas mãos e foi à luta. Formaram-se grupos que passaram a ler e estudar a Bíblia semanalmente. A meditação dos textos sagrados animou a participação das pessoas nas lutas dos bairros, reforçou a presença dos cristãos nas associações de moradores, formou gerações de cristãos de fé e de compromisso. E continua formando, porque o Encontro de Irmãos continua vivo e atuante, graças a Deus.
É o Dom Helder do qual hoje nos lembramos. Um homem do povo. Um homem de Deus. Como ele falava de Deus... Havia tanto amor nas suas palavras, quando se referia ao Criador e Pai.... Havia tanta emoção nas palavras da consagração que o vimos muitas vezes chorando ao celebrar a Missa. E sempre repetia com toda convicção que o verdadeiro celebrante da Missa é Nosso Senhor Jesus Cristo.
Não há quem não se lembre com afeto da figura de Dom Hélder: a simplicidade de vida que ele abraçou, morando na sacristia da Igreja das Fronteiras; como ia a pé para a Cúria na Rua do Giriquiti, mesmo sob ameaça de forças paramilitares ligados ao regime militar; como abraçava os bêbados, os bêbados que teimavam em pedir-lhe a bênção na rua ou na porta de sua casa. Como esse homem era respeitoso com as pessoas: a qualquer um recebia e abraçava independentemente de quem fosse com a mesma alegria e sinceridade.
Ao inesquecível Dom Helder, figura humana abençoada e santa, nossa renovada e imorredoura gratidão! Comparamo-lo ao “Apóstolo dos gentios”, pelos seus grandes sonhos e utopias, na riqueza de sua lavra literária, homilias, conferências, exortações e viagens pelo mundo inteiro, numa palavra, “outro cavaleiro andante”. É Uma oportunidade a mais para aprendermos, com ele, o respeito pelos humildes, a confiança nos sofredores, o amor incondicional ao Pai e Criador.
Ao Pe. Geovane Saraiva, nossos agradecimentos e aplausos, por mais uma homenagem a Dom Helder, renovada nesta obra, que o mantém vivo como referência e memória admirável, cujo testemunho continua a produzir frutos abundantes. Parabéns Pe. Geovane!

*Pe. João Carlos, cantor, compositor e escritor. É Padre Salesiano, atualmente ocupa o cargo de superior da congregação salesiana no nordeste do Brasil.

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