Artigo de Dom Aldo para o Correio da Paraíba (22/04/2012)
Cresce o setor têxtil no Ceará contribuindo substancialmente para a economia do Estado e para o desenvolvimento da população. A indústria têxtil gera inclusão social pela qualificação profissional de costureiras, aportando divisas para o Estado. A demanda por mão-de-obra especializada na indústria têxtil levou o Sinditextil a oferecer um curso de especialização para 500 mulheres que recebem Bolsa Família. A celebração de convênios de natureza profissional respeitou certas atribuições: caberia ao Governo garantir recursos; ao Senai a formação profissional das costureiras, com um curso de 120 horas/aula; ao Sinditêxtil o compromisso de cadastrar as mulheres formadas às inúmeras indústrias do setor, gerando emprego às costureiras. O curso foi concluído. Os cadastros das costureiras formadas foram enviados para as empresas, prontas para efetivar as contratações.
O número de contratações foi zero. As costureiras incluídas na Bolsa Família negaram-se a trabalhar com carteira assinada. Na cabeça das 500 costureiras profissionalizadas prevaleceu a ideia de que o “benefício” da Bolsa Família não deve ser perdido, amenos que elas recebessem por fora, na base da informalidade, portanto, da ilegalidade em relação às empresas. Estas se obrigaram a respeitar as leis trabalhistas, negando-se a adotar um expediente escuso. Nenhuma costureira foi contratada. De quem é a culpa ou a responsabilidade? O fato revela uma mentalidade atrasada, atrelada à dependência e ausência de iniciativa. Luiz Gonzaga dizia que “esmola a um homem sadio vicia o cidadão ou o mata de vergonha”.
“Dar pão e circo” é velho jargão utilizado por políticos para alienar o povo, de barriga cheia e de mente vazia. No relato da multiplicação dos pães consta que Jesus passou um carão no povo de barriga cheia que correu atrás dele para fazê-lo “rei”. Nada de bom cai na mão da gente se não for garimpado com amor e sacrifício. Sem trabalho o pão não vem para casa. Pai que não ensina filho a trabalhar deforma-o, cria um vadio, dependente, inseguro, ou um marginal. No Brasil cresce a demanda de mão-de-obra qualificada, entanto, insuficiente para atender às dimensões básicas da sociedade. Estão aí as áreas da construção civil, da agricultura familiar, do agronegócio. Há espaço para todos, desde as profissões tradicionais às que requerem aprimoramento científico e tecnológico.
Os brasileiros dormiram em berço esplêndido. Atrasou-se por 4 décadas, em relação aos países que, com a visão de futuro, priorizaram a formação dos seus filhos e neles investiram os recursos do erário. A educação para o trabalho é valor prioritário para um povo. Não se promove o pobre, não se supera a pobreza, a miséria e a fome combatendo os que produzem riquezas com honestidade, com o suor do próprio rosto. Ante o nosso atraso não temos outro caminho a seguir senão alavancando recursos para viabilizar políticas de desenvolvimento. Nossa reconciliação assemelha-se à fábula da cigarra e da formiga. Precisamos aprender a trabalhar, pois “forró e cachaça” já temos demais!
Dom Aldo Pagotto, sss
Arcebispo Metropolitano da Paraíba
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