03/05/2012

Como Cristo, sacerdotes em favor do Povo de Deus!


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Dom Orani João Tempesta
Arcebispo do Rio de Janeiro (RJ)
Na Quinta-feira Santa de manhã, com muita alegria, presidi a concelebração junto com os nossos bispos auxiliares e com todo o presbitério, a missa da bênção e consagração dos santos óleos, com a consequente renovação das promessas sacerdotais, que é a missa da unidade do presbitério junto do seu Bispo Diocesano. Poderíamos afirmar que o centro da celebração na Quinta-feira Santa é a expectativa do início do Tríduo Sagrado da Paixão, Morte e Ressurreição do Senhor Jesus, que é centro e ápice de toda a liturgia da nossa mãe Igreja.
No Tríduo Pascal, preparamo-nos para ver gerado o eterno sacerdócio de Cristo, já que nestes dias não apenas tomaremos ciência de uma simples narrativa de violência e sacrifício perpetrados em Jesus, mas seremos inseridos no grandioso mistério da redenção da humanidade.
A carta aos Hebreus introduziu uma nova maneira de entendermos esses dias.  A Tradição anterior tinha visto o Cristo como o cumprimento da promessa davídica – Ele é o verdadeiro Rei de Israel! Esta realeza de Cristo nos foi apresentada no último Domingo de Ramos.
Entretanto, o autor de Hebreus descortina-nos uma citação que, até então, tinha passado despercebida: Tu és sacerdote eternamente, segundo a ordem de Melquisedec. (Salmo 110, 3)
A carta aos Hebreus, então, nos mostra que Cristo não vem apenas cumprir aquela promessa davídica, mas também cumprir a promessa sacerdotal. Jesus, o Filho de Deus, é, ao mesmo tempo, Rei e Sacerdote.
Neste ponto, salienta com brilhantismo o Santo Padre, Bento XVI: “Todo o mundo religioso, toda a realidade dos sacrifícios, do sacerdote que está em busca do verdadeiro sacerdócio, o verdadeiro sacrifício, encontra em Cristo a sua chave, o seu cumprimento.” (Lectio Divina com os Sacerdotes, Roma, 18 de fevereiro de 2010).
Em suma, Cristo é sacerdote porque Ele é o único “Mediador” entre Deus e o Homem. Ser mediador significa ser ponte. Daí uma grande primeira lição aos Presbíteros de hoje: ser ponte entre o Homem e o Seu Deus, entre o mundo de Deus e o mundo do Homem.
“A missão do Presbítero é ser esse mediador, uma ponte que liga e, assim, leva o homem a Deus, à sua redenção, à sua verdadeira luz, à sua verdadeira vida”.
Portanto, ser sacerdote é viver com o mundo, sem ser do mundo. Ser um membro da grande família de Deus, sem pertencer apenas a um, mas a todos. É compartilhar os seus sofrimentos, é oferecer-lhes as suas orações, o retorno de Deus aos homens para alcançar o perdão e a esperança, é ensinar, abençoar e consolar. O seu coração deve arder em brasa pela caridade, e também pela castidade.
Só assim ele compartilha a única mediação de Cristo com toda a Igreja. Através de seu ministério ordenado, ele se ordena à mediação de Cristo pela Sua Igreja e por toda a humanidade.
Mas, não basta. O sacerdócio requer uma peculiar integridade de vida e de serviço. Deve ser humilde para aceitar os gratuitos dons de Deus em sua vida ministerial. Dar generosamente aos outros os frutos de amor e de paz. Dar-lhes a certeza da fé e a capacidade que esta tem de renovar os corações numa ordem moral digna na vida das pessoas, seja em que ambiente elas estejam.
A nossa atividade obriga-nos a estar perto dos homens e de seus problemas, tanto pessoais quanto familiares e sociais. Mas, estarmos perto como sacerdotes, mantendo a nossa identidade de homens de Deus, sempre fiéis à nossa vocação.
É assim que as pessoas querem e precisam nos ver: como servos da Palavra de Deus e homens de oração a serviço da humanidade para a sua salvação.
Quando invocamos o Senhor, pelo poder do Espírito Santo, nós trazemos para o coração de Deus nós mesmos: nossas angústias diárias, as alegrias da vida, as esperanças das pessoas, as expectativas da sociedade, as tristezas do mundo, os projetos de nossas comunidades, o esforço de cada dia, as infidelidades, e tudo o mais que experimentamos também em nossos corações. Daí, por sua vez, a grande importância de sermos, sobremaneira, homens de oração.
Rezar é confiar em Deus, confiar em Sua infinita bondade, mas também deixar-se conduzir em Suas mãos, que são as de um Pai sempre Misericordioso.
A oração para um sacerdote é sempre um ato de conversão que o direciona para Deus. Abre para ele a presença do Espírito Santo e o envia à sua comunidade para continuar o seu ministério sacerdotal de Cristo, e nunca dele mesmo.
A oração torna-se também um ato de fé no seu amor ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo. Rezar para sempre ser um convertido à verdade de Deus, e não de suas possíveis “verdades”. Assim, não seremos “funcionários do sagrado”, mas, como crianças, confiantes no amor do Pai que sabe tudo, que tudo conhece, e tudo nos dá para nossa salvação.
Parece que todas as coisas hoje nos apontam para estarmos imersos numa cultura do fugaz, do passageiro. É a cultura da imanência.
E o sacerdote está a serviço de uma esperança! O futuro lhe desperta medo, expectativa, ansiedade ou auto-absorção? Ou, pelo contrário, o futuro o desperta para um chamado sempre mais renovado? O que posso esperar?
O sacerdote reza com confiança, e reza para dar esperança. Deve ser animado pela certeza de ser sempre capaz de falar de Deus, e de dizer que a aliança entre Ele e os homens nunca mais será revogada. Assim, sua oração deve ser sustentada pela esperança.
Peçamos à Virgem, mãe de todas as vocações, para que acompanhem com amor maternal todos os Sacerdotes. Que a sua vida casta e de oração seja sempre modelo de fidelidade para todos os que abraçaram em suas vidas a consagração total ao Senhor, através do ministério sacerdotal.

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