Dom Orani João Tempesta*
No próximo dia 20 de maio de 2012, celebraremos o 46º Dia Mundial das Comunicações Sociais, com o tema proposto e comentado pelo Papa Bento XVI: "Silêncio e palavra: caminho de evangelização". Este é o único dia que o Concílio Vaticano II criou quando aprovou o seu primeiro decreto: Inter mirifica. Esse evento, que teve início há cinquenta anos, teve a visão profética de tratar sobre o tema da comunicação. Agora, nós que continuamos a aprofundar os temas anuais, dando continuidade à nossa missão de encontrar caminhos neste mundo comunicacional que se renova a cada dia.
Interessante o tema deste ano, que parece até contraditório com aquilo que a comunicação deseja, que é comunicar-se. Porém, o Papa aprofunda o tema e nos leva a refletir sobre a importância de sua mensagem. Silêncio que favorece o discernimento e o aprofundamento da escuta da Palavra, proporcionando-lhe um acolhimento. O Silêncio “é parte integrante da comunicação e, sem ele, não há palavras densas de conteúdo”, segundo as Palavras da reflexão pontifícia.
Ensina ainda que “Silêncio” e “Palavra” não são contraditórios, mas complementares, e esse equilíbrio pode aumentar o valor da comunicação e torná-la mais fecunda no serviço da nova evangelização.
A reflexão passa pelo silêncio, que aprofunda as ideias e faz fecunda a Palavra: são momentos complementares e inseparáveis. "Portanto, fazer da comunicação um ato pleno de contato com Deus, com o próximo e com a sociedade exige que antecipadamente instituamos o silêncio como um modo de estabelecer comunhão”. “Silêncio e palavra” são recursos que possuem uma base sólida, capaz de nos conduzir à comunicação plena.
Todas as áreas do saber precisam interligar o Silêncio e a Palavra. Pensemos no médico, que silencia seu conhecimento para ouvir o seu paciente e a narrativa que o ajudará a descobrir possíveis caminhos para sua cura; ou no psicólogo, que escuta o seu cliente para só então poder ajudar-lhe em seu processo psicoterápico ou, ainda, no professor, que antes de partilhar o conteúdo precisa de uma escuta atenta das capacidades de seus estudantes para compreensão e aquisição de novos saberes, para que seu ensino seja bem-sucedido.
Todo diálogo supõe silêncio que comunica e palavra que silencia, que acalma, que devolve o centro de si. Comunicar é uma arte que deve gerar em seus interlocutores uma profunda e verdadeira transmissão de conhecimentos, valores, sentimentos, virtudes e ações que favoreçam a dignidade da pessoa humana em todos os níveis e dimensões.
Em sua mensagem, o Papa ressalta que Silêncio e Palavra são "dois momentos da comunicação que devem se equilibrar, alternar e integrar entre si para se obter um diálogo autêntico e uma união profunda entre as pessoas. Quando palavra e silêncio se excluem mutuamente, a comunicação deteriora-se, porque provoca certo aturdimento ou, no caso contrário, cria um clima de indiferença; quando, porém, se integram reciprocamente, a comunicação ganha valor e significado".
O silêncio nos permite um conhecimento maior e mais profundo de nós mesmos, favorece uma escuta do próximo a partir dele mesmo e não de nós. É um espaço aberto de escuta recíproca que possibilita relações mais plenas e significativas. O Silêncio permite discernir o que da Palavra é realmente útil e essencial, em detrimento do que é efêmero e passageiro.
O Santo Padre, o Papa, em sua mensagem propõe uma espécie de "ecossistema" capaz de equilibrar silêncio, palavra, sons e imagens. Um ecossistema que ajude a dar respostas às perguntas anteriormente feitas. Perguntas da comunicação, referentes às inquietações humanas sempre em busca de verdades, pequenas ou grandes, que deem sentido e significado à existência.
A verdadeira comunicação deve levar a uma profunda mensagem que vá de encontro à nossa interioridade, a mais profunda verdade de cada um até chegarmos à verdade criadora, que, após o silêncio fundador, deu à existência todo o ser.
Vale ressaltar que em todos os tempos, o silêncio e a solidão sempre foram caros à experiência do transcendente, constituindo, sobretudo, em espaços privilegiados de encontro consigo mesmo e com aquela Verdade que dá sentido a todas as coisas. Como não recordar o silêncio de Deus na cruz, por exemplo?: um silêncio que busca recordar, fazer memória e afirmar tudo o que antes se sucedeu. Ou ainda, o silêncio do Rei que dorme no sábado santo, e que, em seguida, desperta os que dormiam há séculos.
No silêncio Deus fala ao homem e o homem pode descobrir a possibilidade de falar com Deus e de Deus.
Palavra e Silêncio. Educar-se em comunicação quer dizer aprender a escutar, a contemplar, para além de falar; e isto é particularmente importante para os agentes da evangelização: silêncio e palavra são ambos elementos essenciais e integrantes da ação comunicativa da Igreja para um renovado anúncio de Jesus Cristo no mundo contemporâneo. Vale ainda ressaltar a necessidade de abarcar em nossa comunicação todos os meios de comunicação contemporâneos, especialmente a internet e as redes sociais, lugares de presença massiva de nossa juventude e de grande parte do povo de Deus. Comunicar o Evangelho e os valores do Reino de Deus nestes espaços proporcionarão aos batizados um primeiro contato com os valores da fé, e podem ajudá-los a usar de melhor maneira e de modo mais adequado todas as novas tecnologias que estão aí à nossa disposição.
Encontrar o equilíbrio entre silêncio e palavra não é tão simples. Supõe um caminho, um desinstalar-se e uma constante busca no sentido daquilo que lhe é caro.
Que este Dia Mundial das Comunicações Sociais nos ajude a fazer a experiência da Palavra e saboreá-la no Silêncio, proporcionando a cada pessoa um encontro pessoal com Jesus Cristo, formando comunidades capazes de transmitir um verdadeiro fascínio pela pessoa de Jesus, afinal, vivendo em um continente digital, somos lutadores numa arena digital. Nesta arena encontraremos desafios: exclusão digital, violência, perda da privacidade, alienação cultural e violação dos direitos das pessoas, particularmente com a perversidade digital que destrói e que calunia, mas também encontraremos oportunidades, como acesso à boa informação, trabalhos em rede, colaboração científica entre grupos, a partilha de valores culturais, rapidez e promoção de informações e difusão da arte, bem como e, principalmente, a nova evangelização. Tornar Jesus Cristo amado, conhecido, seguido.
Com Maria, no silêncio que contempla, sejamos geradores do Cristo, Palavra de Deus, que em toda a história humana se comunicou, comunica e comunicará: Para que todos tenham vida e vida em abundância.
*† Orani João Tempesta, O. Cist.
Arcebispo Metropolitano de São Sebastião do Rio de Janeiro, RJ
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