04/05/2012

Homem-ciborgue desenvolve projeto no Brasil


Portador de um olho eletrônico que lhe permite ver cores a partir de sons, Neil Harbisson ajudará a criar aplicativo para deficientes em Pernambuco

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NEIL HARBISSON: olho eletrônico tornou-o o primeiro ciborgue reconhecido oficialmente no mundo Foto: Hans von Manteuffel
NEIL HARBISSON: olho eletrônico tornou-o o primeiro ciborgue reconhecido oficialmente no mundoHANS VON MANTEUFFEL
RECIFE. Primeira pessoa reconhecida no mundo como ciborgue, o irlandês Neil Harbisson está em Recife, onde relatou hoje a sua experiência como homem-máquina. Ele veio ao país para tratar de uma parceria com a Universidade de Pernambuco (UPE), cujo objetivo é o desenvolvimento de tecnologias que ajudem pessoas com deficiências como a cegueira ou a surdez. Harbisson tem uma doença genética rara, a acromatopsia, que só lhe permite ver o mundo em preto e branco. Mas, junto com pesquisadores, desenvolveu um olho eletrônico, que o permite distinguir as cores pelos sons.
eyeborg (como ele prefere chamar o olho eletrônico) é na verdade uma pequena câmera na testa. Após a captação das imagens, elas são enviadas a um pequeno chip, acoplado na nuca, onde as cores são codificadas para sons.
Dependendo do som, Harbisson consegue saber qual a cor do objeto observado. Por enquanto, o chip da câmera ainda é externo, mas com o passar do tempo, ele pretende introduzi-lo no cérebro.
O irlandês adaptou-se ao seu eyeborg de tal forma que afirma não saber mais viver sem ele. Em 2004, quando tirou uma fotografia para o passaporte, a polícia alfandegária do Reino Unido não permitiu o uso do equipamento. Ele tentou, então, mostrar que a geringonça faz parte de seu corpo, e que homem e máquina eram inseparáveis.
— Foi preciso mobilizar médicos, para assegurar às autoridades que aquilo tudo fazia parte do meu corpo. Foi então que o Governo do Reino Unido me reconheceu como o primeiro ciborgue — relatou Harbisson.
Desde então, é a foto com a câmera que vale para todos os documentos do ativista, que já percorreu 30 países defendendo o direito do ser humano de se transformar em ciborgue.
Harbisson contou ainda que hoje está bem mais cômodo transportar seu olho cibernético:
— Esta já é a décima versão do equipamento. Lembro-me que, com a primeira, eu precisava carregar um computador de cinco quilos na mochila. Hoje está tudo mais leve, e posso distinguir até 360 tonalidades diferentes — afirmou Harbisson.
Ele também é artista plástico e músico. Sua deficiência o levou a conciliar cores e sons e construir seus “Sound Portraits”, que retratam pessoas a partir dos sons captados em seus rostos. Entre os retratados, encontram-se o Príncipe Charles, o ator Leonardo DiCaprio e o cineasta Woody Allen.
— Se as saladas soassem como Justin Bieber, as crianças comeriam mais vegetais — afirmou ele, que usava roupas coloridas e um par bicolor de sapatos de couro e bico fino.
Em 2010, Harbisson criou a Fundação Cyborg, que o transformou em um ativista em defesa do homem-máquina. O lema do ativista é: “Ajude o ciborgue, defenda os direitos do ciborgue e promova o uso da cibernética como parte do seu corpo”. A fundação fica em Barcelona, onde ele passou a infância vendo tudo em preto e branco.
Em Recife, Harbisson está em entendimentos com o Grupo de Reconhecimento de Padrões da UPE, que vem trabalhando em um sistema para codificar a linguagem de libras (utilizada pelos surdos-mudos) em texto ou sons convencionais.
O objetivo é desenvolver um aplicativo para smartphones capaz de captar imagens de gestos (a linguagem em libras) e codificá-las para texto escrito ou oral, explicou ontem o professor Sérgio Murilo Maciel Fernandes, da UPE. Segundo Fernandes, como são poucas as pessoas com conhecimento das libras, os surdos-mudos têm dificuldade em se comunicar. Não por acaso, no sistema público de saúde, há registro de problemas graves como erros de diagnóstico por falhas de comunicação entre médicos e pacientes.
— Ele ficou muito entusiasmado com nosso projeto — afirmou o professor Bruno Fernandes, coordenador dos estudos.
Segundo Harbisson, a Fundação Cyborg desenvolveu protótipos visando ajudar a crianças do Tibete a identificar cores e formatos através de sons.


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