Pe. Geovane Saraiva *
Aqui no Ceará, no século passado, a Igreja Católica foi
prodigamente favorecida com o ministério e a ação pastoral de um grande
sacerdote, que estamos a comemorar seu centenário de nascimento. Nascido em
Quixeramobim, aos 24 de julho de 1912, e ordenado em 05 de agosto de 1937,
procurou encarnar o projeto daquele que constantemente está nos dizer:
"Alegra-vos! Não tenhais medo!" (Mt 28, 9). Trabalhou incansavelmente
nas Paróquias do Mocuripe, Senador Pompeu e Pedra Branca. Em 1958 assumiu,
deixando marcas profundas, a Paróquia do Pirambu, na cidade de Fortaleza.
Trata-se Padre Francisco Hélio Campos. Para ele, os pobres eram
por demais preciosos e estavam não só na sua mente e no seu coração, mas
concretamente no centro do seu trabalho eclesial, dando-lhes extrema
importância, pois através deles, a Igreja se aproximava e se fortificava no seu
sonho maior, no sentido de se manter viva e fiel ao espírito do Evangelho,
consciente de que o salutar processo de evangelização, no tempo vivido por ele,
tinha que se transformar num processo de discernimento. Com o apoio decisivo do
Padre Hélio a comunidade do Pirambu ganha visibilidade, sendo fortalecida e
tendo forças, recebendo um caráter cristão, tendo por base os princípios da
doutrina social da Igreja.
Como o ponto alto, em janeiro de 1962, acontece a grande marcha
do Pirambu, reunindo uma multidão em direção ao centro da cidade de Fortaleza,
reivindicando o acesso à terra e melhores condições de maradia e vida digna
daquela população profundamente marcada pelo sofrimento. Depois lhe foi
confiado, em 1969, à paróquia de Mondubim. Logo lhe chegou à coroação de todo
seu trabalho, três meses depois, ao ser nomeado bispo da Diocese de Viana, no
Maranhão. Infelizmente seus sonhos e projetos de bispo novo, desejoso de
colocar em prática as resoluções do Concílio Vaticano II (1962-1965), foram
interrompidos, "domino volente", com a sua morte prematura, aos 23 de
janeiro de 1975.
É deste modo que compreendemos o caminho do homem que descobre a
Deus, que se assemelha a árvore plantada junto d'água corrente: dá frutos no
tempo devido e suas folhas nunca murcham; tudo o que ele faz prospera e é bem
sucedido, simbolizando a vida e a felicidade de quem trilha o caminho da lei de
Deus (cf. Sl 1, 3). Temos consciência de um Deus, inefável mistério, que caminha
conosco na história, embora não esteja com sua presença física, mas está sempre
presente, sem nunca abandonar o seu povo.
O mundo atual reconhecerá Cristo à medida que os cristãos, a comunidade dos batizados, dos que querem viver a sua fé, na partilha do pão do dia a dia, o pão do trabalho, da cultura, da educação e da saúde. Tudo isso significa compromisso com a justiça, a paz e a solidariedade, na defesa de todas aquelas pessoas, as quais vivem a margem dos bens da criação, mas por vontade do criador e Pai, destinados a todos.
Dom Hélio Campos, com seu coração dadivoso, na sua sólida
origem religiosa, e na sua personalidade extraordinário, colocada a serviço do
reino, devemos muito, primeiro por seu compromisso e sensibilidade com os
empobrecidos do Pirambu. Também sua experiência pastoral neste bairro se
destacou pelo seu pioneirismo e originalidade, seja pelo seu profetismo no
trabalho promocional em favor de uma multidão de gente, seja também por ter
iniciado experiência da fraternidade sacerdotal segundo a espiritualidade de
Charles de Foucauld, trazendo para Fortaleza os espiões de Cristo, isto é, aqueles
que se infiltram no mundo do trabalho, favelas e demais realidades, acreditando
que o melhor modo de anunciar o Evangelho é o agir no anonimato, proclamar o
amor de Deus com a própria vida. A ideia de trazer para Fortaleza o carisma
espiritual de Charles de Foucauld coincidiu com o tempo em que foi pároco do
bairro mais pobre e violento de Fortaleza, ainda hoje estigmatizado, o Pirambu.
Dele podemos dizer: "Bem aventurados os promovem a paz, porque serão
chamados filhos de Deus" (Mt 5, 9).
Agradecemos ao bom Deus o dom da vida e o mérito do grande Padre
Hélio Campos, ao iniciar na terra alencarina a espiritualidade do Irmão Universal
Charles de Foucauld, divulgada com veemência, na década de cinqüenta na Igreja
pelo fundador dos Irmãozinhos de Jesus, o Padre René Voillaume, sobretudo,
através do seu livro "Au Coeur des Masses", Fermento na Massa.
Padre Hélio teve a feliz iniciativa de formar um grupo de
colaboradoras leigas, que o ajudavam no seu trabalho paroquial, iniciando assim
formalmente na espiritualidade dos Irmãozinhos e Irmãzinhas de Jesus. Ao mesmo
tempo em que convidou alguns colegas padres para fazerem parte, naquele tempo,
da União Sacerdotal Jesus Caritas, hoje Fraternidade Jesus Caritas, na mesma
década, culminando com a presença em Fortaleza dos sacerdotes Guy Riobé e
Pierre Loubier, responsáveis gerais da "União Sacerdotal Jesus
Caritas". O próprio Padre René Voillaume, passando por Fortaleza em 1958,
fez uma conferência sobre a espiritualidade de Charles de Foucauld, na
faculdade de Filosofia, onde estudavam jovens que depois vieram a formar a
fraternidade feminina Jesus Caritas. Ainda consta que uma casa das Irmãzinhas
de Jesus foi aberta no Pirambu.
Vivemos num mundo profundamente marcado pela auto-suficiência e
pela a vaidade dos grandes feitos e êxitos da humanidade. Como seria
maravilhoso, se no processo de aprendizagem, nunca a criatura humana se
sentisse dona da verdade como algo absoluto. Padre Hélio campos foi sinal e
instrumento de Deus e dele podemos continuar aprendendo. Assim como aprendemos
do bem aventurado Charles de Foucauld (1858-1916), na sua sede de conhecer a
Deus, ao aproximar do confessionário na igreja de Santo Agostinho, em Paris, e
dizer ao sacerdote: "Padre, não tenho fé, mas venho pedir-lhe que me
instrua". Sem lhe dar tempo de concluir, o padre ordenou: "Ajoelha-se
e confessa a Deus suas faltas. Então crerá". Temos ainda a inconfundível
presença de Maria Nazaré. Ambos os exemplos bem que pode nos ajudar na nossa
contribuição, para que como cristãos, sejamos seguidores do Mestre, simples e
humilde, mas com a mente e o coração abertos, no sentido de observar as lições
ensinadas por Jesus e guardá-las no mais profundo do nosso ser (cf. Lc 2, 51).
Se quiséssemos sintetizar a vida do grande cearense, Dom
Francisco Hélio Campos, patrimônio de todos nós cearenses e ao mesmo tempo,
celebrar o seu centenário de nascimento neste ano 2012, poderíamos dizer que
ele foi um homem da paz, da fraternidade e da justiça, com uma profunda
compreensão do ser humano, imagem e semelhança de Deus (cf. Gn 1, 26), ao se
preocupar com os empobrecidos desta cidade de Fortaleza, e ao mesmo tempo, acolher
os espiões de Cristo, seguidores da espiritualidade de Charles de Foucauld.
* Pe. Geovane Saraiva é sacerdote da arquidiocese de Fortaleza,
CE, Pároco da Paróquia Santo Afonso.
Boa tarde!
ResponderExcluirGostei mto de saber um pouquinho da vida e do trabalho mravilhoso de Dom Hélio Campos.
É um belo exemplo de fraternidade, justiça e de paz a ser seguido.
Um abraço,
Ana Maria