15/06/2012

A semente e o grão de mostarda


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Dom Orani João Tempesta*
O mundo olha para o Rio de Janeiro que discute nestes dias a questão da sustentabilidade do planeta. Neste final de semana, Jesus utiliza duas comparações retiradas do seu olhar sobre a natureza: a parábola da semente e do grão de mostarda. Está no Evangelho de São Marcos (4, 26-34) proposto pela sagrada liturgia deste domingo da XI semana do Tempo Comum. A Palavra de Deus chama nossa atenção para a construção do Reino de Deus entre nós. Para isso, Jesus recorre a pequenas histórias carregadas de sentidos e significados.
Uma das parábolas usadas por Jesus, e que meditaremos neste domingo, fala da semente de mostarda. A menor de todas as sementes, mas que, ao crescer, se torna um grande arbusto onde podemos até mesmo descansar em sua sombra.
Se olharmos para a história do Cristianismo, da Igreja, ao longo dos séculos, vamos perceber o seguinte: Jesus, os doze apóstolos e a missão de evangelizar todas as nações. Esta Palavra germinou, cresceu e produziu muitos frutos. As obras cristãs se propagaram e se difundiram sobre todos os continentes e o cristianismo semeado está presente hoje em todo o mundo. Não significa, contudo, dizer que não há o que fazer. Há muitos campos a serem semeados e agora, com essas realidades de violência, intolerância, corrupção e comportamentos discutíveis mais do que nunca, se percebe a necessidade de ajudar as pessoas a redescobrirem a necessidade de construir o Reino de Deus e formar homens novos para a vivência desse Reino.
Como cristãos deste tempo, pequenos como grãos de mostarda, mesmo que remando contra uma correnteza avassaladora que tenta diminuir os valores da fé e da religião, somos convocados por Cristo a fazer crescer a sua obra em todos os lugares da Terra. Ajudar para que o homem do nosso tempo redescubra a beleza da fé cristã e suas implicações tão diretas e fecundas na vida humana, favorecendo assim a construção de um novo tempo.
As aves do céu, mencionadas no texto, são símbolo de todas as nações e povos que, mais tarde, pela força da evangelização, viriam a conhecer o Deus verdadeiro e acolher o seu Evangelho. A semente plantada e que vai germinando e crescendo recorda-nos a história da Igreja: nos primeiros anos após a morte de Jesus toda a civilização em torno do Mediterrâneo já conhecia a sementinha do Evangelho plantada pelas primeiras equipes missionárias. Além de uma clara superioridade da ética cristã em detrimento das ideologias da época, muito contribuíram para este desenvolvimento o testemunho dos mártires, que caminhavam em direção à morte com alegria e entusiasmo, sem esmorecer na fé ou renegar o Deus em quem acreditavam e por quem ali estavam. As primeiras comunidades, animadas pelo encontro com Jesus, se ofertavam como verdadeiras hóstias vivas em favor do anúncio de Cristo e de Sua Palavra salvadora. Valeria a pena olharmos para o testemunho dessas comunidades e redescobrir em nós e em nossas comunidades o verdadeiro testemunho que brota do acolhimento da Palavra de Deus, que tudo pode transformar em nós.
Em tempos difíceis, abarrotado de tantas mudanças – mudanças de pensamentos, de estruturas, de paradigmas – corremos o risco de desanimarmos e pensarmos que a causa já não corresponde aos anseios do homem do nosso tempo. Porém, se voltarmos às raízes de nossa fé perceberemos que no tempo de Jesus nada era diferente do que vivemos hoje. Somos chamados a ser sal, luz e fermento, a fazer crescer a obra de Cristo em meio aos homens de nosso tempo, ajudando-os a descobrir quem é Jesus, favorecendo e facilitando-lhes um verdadeiro encontro com Ele e deixando que a semente cresça e se torne um arbusto visível e confortável, onde podemos descansar de nossas turbulências e agitações, sejam elas exteriores ou interiores.
Que a proposta de Jesus continue a arder em nós e que trabalhemos confiantes e sem nos cansarmos para promover nossa cultura e valores, levando em conta aquilo que Ele mesmo nos ensinou e nos fez. Essa proposta irá iluminar a busca que a humanidade hoje tem com relação à sua própria sobrevivência, ameaçada com os problemas ecológicos ocasionados por quem não pensa na vida humana, e em nossa responsabilidade comum pelo planeta.
Mesmo diante da Cruz não olharmos para trás, mas seguirmos em frente, aonde o Senhor nos levar. E a pergunta que se nos impõe talvez seja essa: será que estamos dispostos a colaborar na construção do Reino de Deus mesmo quando as situações ao n
*Arcebispo Metropolitano do Rio de Janeiro (RJ)

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