Padre Geovane Saraiva*
Na
agitação e na correria do mundo em que vivemos não é fácil parar, no sentido de
nos voltarmos para Deus e encontrar um tempo reservado à oração. Mas é claro
que Deus, na sua misteriosa e providente graça, que nos deu os céus,
significando a transcendência, está sempre pronto a nos dizer que algo pode ser
feito, indo ou voltando do trabalho; ou mesmo nos espaços entre uma atividade e
outra.
Encontramos nos Salmos
um instrumento precioso neste contexto de oração, de silêncio, como disse tão
bem Dom Aloísio Lorscheider: “Para aprofundar e anunciar os mistérios da nossa
fé é necessário entrar no silêncio de Deus”, num grande desejo do nosso retorno
para Deus. “Como a corça que suspira pelas águas da torrente, assim, minha alma
suspira por vós, Senhor. Minha alma tem sede do Deus vivo” (Sl 41, 2s).
Oração é uma relação
estreita entre o homem e Deus, por Cristo Nosso Senhor. É uma atividade
espiritual de confiança ilimitada, de entrega espontânea e ininterrupta,
refugiando-se em Deus. Deus que é Pai sabe do que mais precisamos. E os Salmos
marcaram a história do povo de Deus, como uma oração predileta, ficando para
nós cristãos a grande herança, a nos desafiar, numa profunda e íntima
experiência com Deus. Através dos Salmos aprendemos a louvar e agradecer, a
pedir e suplicar, e ainda, na pedagogia de Deus, a nos colocar diante da beleza
de sua sabedoria: “Vós me ensinais vosso caminho para a vida; junto de vós
felicidade sem limites” (Sl 15, 11).
Daí nossa inteira e
inabalável confiança, insistente, numa sinceridade e absoluta atitude de
persistência. “Aquele que me ama será amado por meu Pai; nós viremos a ele e
faremos nele nossa morada” (Jo 14, 23). Temos a certeza de que a lei que Jesus
nos oferece é a lei do amor, que deve ser difundida, hoje, por nós que procuramos
segui-lo.
Para realizarmos o
projeto do Pai, necessitamos de uma mística, na afirmação de Dom Helder Câmara:
"Faze com alma o que na vida te for dado fazer, mas não te esqueças nunca
de te integrares nos grandes planos de Deus”. Agora,
é evidente que não podemos pensar em construir a nossa civilização sem Deus,
como nos assegura o Salmo 127, 1s: “Se Deus não constrói a casa, em vão
trabalham os seus construtores; se Deus não cuida da cidade, em vão vigiam as
sentinelas”.
Temos também a
história da Torre de Babel para deixar bem claro a pretensão dos homens daquele
tempo, que queriam construir uma cidade e uma torre cujo ápice penetrasse nos
céus. Os homens queriam mostrar que eles eram capazes de conseguir tudo sem
Deus. Queriam mostrar que eles eram poderosos. O que aconteceu? Não deu em nada
(Cf. Gn 11, 1-9).
“Ultrapassa-te a
ti mesmo a cada dia, a cada instante. Não por vaidade, mas para
corresponderes à obrigação sagrada de contribuir sempre mais e sempre melhor,
para a construção do mundo. Mais importante que escutar as palavras é
adivinhar as angústias, sondar o mistério, escutar o
silêncio. Feliz de quem entende que é preciso mudar muito para ser
sempre o mesmo”. Nestas palavras e pensamentos de Dom Helder, encerro esta simples
reflexão.
No mundo de hoje, quando
nos deparamos com pessoas, ávida de oração e de amor, convencidas que só em Deus
se encontra o sentido da vida, na renúncia de si mesma e na aceitação da cruz do
Senhor Jesus Cristo, é que ofereço ao povo de Deus mais um humilde trabalho, homenageando
aquele é conhecido como o “artesão da paz” e o pastor dos “sem voz e sem vez”,
no seguinte título: “Dom Helder: Sonhos e Utopias”.
*Pe.
Geovane Saraiva, sacerdote da Arquidiocese de Fortaleza, Escritor, Membro da
Academia de Letras dos Municípios do Estado Ceará (ALMECE), e da Academia
Metropolitana de Letras de Fortaleza
Pároco de Santo Afonso
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