O texto de Marcos, hoje proclamado, nos
apresenta uma série de “ditos” de Jesus, com várias exigências que os
discípulos devem viver. O episódio relatado se passa em Cafarnaum (cf. Mc
9,33), com Jesus rodeado dos discípulos, prestes a iniciar a sua grande viagem
para Jerusalém, onde sofrerá a Paixão. O principal tema abordado, pois aparece
também na primeira leitura, está logo no início: como comportar-se diante de
quem faz o bem, mas não está no grupo dos discípulos. A expressão “ele não nos
segue” (Mc 9,38), descrevendo a reação de João, poderia também ser traduzida
por “ele não é dos nossos”. João denota ciúmes e fechamento, ao querer impedir
a boa ação de quem não pertencia ao grupo dos discípulos. Na perspectiva de
Jesus, quem faz o bem em favor das pessoas, está do seu lado.
O verdadeiro discípulo não tem inveja do
bem que os outros possam fazer, nem demonstra ciúmes diante da ação de Deus
através das diferentes pessoas. O sectarismo, a intolerância e ciúmes não
condizem com a comunidade dos discípulos. Este episódio narrado por Marcos faz
recordar o que ocorreu nos tempos de Moisés, conforme o Livro dos Números (Nm
11,25-29), quando Josué não admitiu que aqueles fora do acampamento pudessem
profetizar. Ao contrário da postura de Josué, Moisés reconhece que o Espírito
de Deus sopra onde quer e pode se manifestar através de quem ele quiser. Por
isso, é preciso abertura para reconhecer e valorizar a presença de Deus onde
quer que ele se manifeste. É preciso amar a todos!
A segunda “palavra” de Jesus, no Evangelho
meditado, adverte a não escandalizar os “pequeninos”. A expressão se refere aos
membros da comunidade em situação de fragilidade, inclusive na fé. Como são
tratados? O “escândalo” significa a pedra ou obstáculo que se coloca no
caminho, impedindo ou dificultando o seguimento de Cristo. Por fim, o terceiro
“dito” de Jesus faz pensar sobre o que é preciso cortar da própria vida para
segui-lo com seriedade. É preciso arrancar da própria vida os sentimentos e
atitudes que não são compatíveis com o Evangelho. Quem não fizer assim, ao
invés da vida e da salvação, encontrará a condenação e a morte eterna.
Na segunda leitura, continuamos a meditar a
Carta de São Tiago que, na passagem de hoje, faz uma dura condenação dos que
acumulam riquezas, explorando os pobres, praticando a injustiça e vivendo
luxuosamente (Tg 5,4-6). A Carta mostra as consequências tristes para quem
coloca a confiança nos bens materiais, que enferrujam e apodrecem.
Neste dia da Bíblia, vamos assumir o
compromisso de continuar a ler, a meditar e a acolher a Palavra de Deus, em
nossa vida cotidiana, numa atitude de escuta atenta e de cumprimento fiel, pois
ela é “Palavra da Salvação”!
*Arcebispo Metrropolitano de Brasília
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