28/09/2012

Amar a todos - Dom Sergio

Dom Sergio da Rocha*

O texto de Marcos, hoje proclamado, nos apresenta uma série de “ditos” de Jesus, com várias exigências que os discípulos devem viver. O episódio relatado se passa em Cafarnaum (cf. Mc 9,33), com Jesus rodeado dos discípulos, prestes a iniciar a sua grande viagem para Jerusalém, onde sofrerá a Paixão. O principal tema abordado, pois aparece também na primeira leitura, está logo no início: como comportar-se diante de quem faz o bem, mas não está no grupo dos discípulos. A expressão “ele não nos segue” (Mc 9,38), descrevendo a reação de João, poderia também ser traduzida por “ele não é dos nossos”. João denota ciúmes e fechamento, ao querer impedir a boa ação de quem não pertencia ao grupo dos discípulos. Na perspectiva de Jesus, quem faz o bem em favor das pessoas, está do seu lado.

 O verdadeiro discípulo não tem inveja do bem que os outros possam fazer, nem demonstra ciúmes diante da ação de Deus através das diferentes pessoas. O sectarismo, a intolerância e ciúmes não condizem com a comunidade dos discípulos. Este episódio narrado por Marcos faz recordar o que ocorreu nos tempos de Moisés, conforme o Livro dos Números (Nm 11,25-29), quando Josué não admitiu que aqueles fora do acampamento pudessem profetizar. Ao contrário da postura de Josué, Moisés reconhece que o Espírito de Deus sopra onde quer e pode se manifestar através de quem ele quiser. Por isso, é preciso abertura para reconhecer e valorizar a presença de Deus onde quer que ele se manifeste. É preciso amar a todos!

A segunda “palavra” de Jesus, no Evangelho meditado, adverte a não escandalizar os “pequeninos”. A expressão se refere aos membros da comunidade em situação de fragilidade, inclusive na fé. Como são tratados? O “escândalo” significa a pedra ou obstáculo que se coloca no caminho, impedindo ou dificultando o seguimento de Cristo. Por fim, o terceiro “dito” de Jesus faz pensar sobre o que é preciso cortar da própria vida para segui-lo com seriedade. É preciso arrancar da própria vida os sentimentos e atitudes que não são compatíveis com o Evangelho. Quem não fizer assim, ao invés da vida e da salvação, encontrará a condenação e a morte eterna.

Na segunda leitura, continuamos a meditar a Carta de São Tiago que, na passagem de hoje, faz uma dura condenação dos que acumulam riquezas, explorando os pobres, praticando a injustiça e vivendo luxuosamente (Tg 5,4-6). A Carta mostra as consequências tristes para quem coloca a confiança nos bens materiais, que enferrujam e apodrecem.

Neste dia da Bíblia, vamos assumir o compromisso de continuar a ler, a meditar e a acolher a Palavra de Deus, em nossa vida cotidiana, numa atitude de escuta atenta e de cumprimento fiel, pois ela é “Palavra da Salvação”!


*Arcebispo Metrropolitano de Brasília

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