17/10/2012

Sarney destaca papel de Ulysses Guimarães na transição democrática


Ao discursar na sessão em homenagem à memória de Ulysses Guimarães (1916-1992), nesta segunda-feira (15), o presidente do Senado, José Sarney, destacou o importante papel desempenhado pelo político paulista no processo de transição democrática, durante as décadas de 70 a 90. Sarney relembrou sua relação com Ulysses e exaltou a capacidade de articulação do então líder da oposição ao governo militar.

— Ulysses sempre soube atuar muito bem sobre os núcleos de decisões. Ele sabia como estas são tomadas e sabia atuar no momento exato. Ele era uma voz que não podia deixar de ser ouvida e uma força de equilíbrio. Ele era o muro da lamentação dos aflitos e marginalizados pelas lideranças nas lutas parlamentares e a todos sabia untar com os santos óleos da paciência, nos purgatórios das esperas — disse Sarney, destacando a altivez e o talento do deputado, que conheceu nos anos 50.

Na avaliação de Sarney, Ulisses Guimarães teve o seu momento mais alto em sua trajetória política, em 1973, no momento em que lançou sua anticandidatura simbólica, pelo MDB, à Presidência da República, como forma de protesto contra a ditadura militar.

— Era [Ulysses Guimarães] um exímio costurador e alinhavava com extrema perfeição a conspiração da boa causa. Muitas vezes, depois de uma palavra, um discurso, um gesto duro, aparecia em nossa casa, eu, presidente do PDS, para convidar-me a conspirar para queimar etapas na então transição “lenta, gradual e segura” — recordou.

Sarney sublinhou ainda o fascínio que Ulysses Guimarães tinha pela “voz das ruas”.

— Para ele [a opinião pública] era uma flauta mágica. A ninguém devotou maior fidelidade. A opinião da rua era a opinião do povo, e o povo era o seu único guia — frisou.

Comentando sua passagem pelo Executivo, quando ocupou a pasta do Ministério da Indústria e Comércio, no gabinete Tancredo Neves, no início dos anos 60. Sarney elogiou Ulysses Guimarães pela “postura parlamentar” que soube preservar no desempenho do cargo.

— Seu breve interregno no Executivo, como Ministro da Indústria e Comércio do gabinete parlamentarista de Tancredo Neves, não mudou seu perfil de ser antes de tudo um Parlamentar e, mais ainda, um Deputado — disse Sarney.

Sarney destacou ainda a atuação de Ulysses na fundação do PMDB em 1979. Segundo Sarney, com a morte de Tancredo Neves, em 1985, foi em Ulysses Guimarães que buscou apoio.

— Nunca, na história deste país, alguém teve tanto respeito e consideração do Presidente da República quanto Ulysses Guimarães. Três figuras, Pinheiro Machado, Afrânio de Melo Franco — na incapacidade de Delfim Moreira — e Ulysses Guimarães, gozaram dessa força e prestígio. Ulysses foi maior. Maior seu talento, sua respeitabilidade, sua grandeza – afirmou, relembrando o tempo que, como presidente da República, teve no então presidente da Câmara dos Deputados.

Sarney também destacou o papel do político do PMDB durante a Assembleia Nacional Constituinte. Ele asseverou que sua relação com Ulysses sempre foi de respeito, mesmo quando discordavam.

O presidente do Senado homenageou também dona Mora, a esposa de Ulysses, que faleceu na queda de helicóptero no litoral de Angra dos Reis (RJ), juntamente com o assessor e amigo Severo Gomes e sua esposa Anna Maria. Sarney recordou ter visto seus filhos chorarem ao saber da morte de Ulysses. Ao fim da sessão solene, ele observou que os discursos em homenagem ao deputado, que "encarnava o Congresso", poderiam durar toda a noite, e configuravam uma "coroa de sonetos" em memória de Ulysses.


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