Dom Sergio da Rocha*
É difícil resumir a riqueza da experiência vivida e das reflexões
propostas na XIII Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos. O tema deste Sínodo, de
feliz escolha do Papa Bento XVI, pela sua amplitude e complexidade, já
dificulta qualquer tentativa de síntese. Por isso, neste terceiro relato, após
o término da Assembleia Sinodal, procuro apenas partilhar alguns aspectos da
experiência vivida e dos temas abordados, sem a pretensão de um resumo.
1 - O início e a conclusão do Sínodo com a Eucaristia presidida pelo
Papa e concelebrada pelos Padres Sinodais constituem a moldura principal na
qual quer se inserir, não apenas a Assembleia Sinodal, mas toda a nova
evangelização. A
Eucaristia deverá ser sempre ponto de partida e de chegada para a ação
evangelizadora. Em diversos momentos, ao se falar dos sujeitos da nova
evangelização, foi enfatizada a ação do Espírito Santo e a necessidade da graça,
assim como, a santidade dos evangelizadores, destacada por Bento XVI na
abertura e na celebração das canonizações ocorrida, a propósito, durante o
Sínodo.
2 - A presença assídua do Papa Bento XVI, presidindo a Assembleia
Sinodal, foi bastante apreciada por todos, destacando-se a sua sabedoria, simplicidade
e paciente atenção aos muitos pronunciamentos.
3 - O Sínodo constitui um precioso instrumento de comunhão eclesial e de
colegialidade episcopal, através do diálogo e da convivência fraterna, da
reflexão conjunta em plenário e em grupos, da partilha de experiências
pastorais, das alegrias e dores da Igreja nos cinco continentes. As cinco línguas oficiais
do Sínodo se completavam com muitas outras faladas pelos participantes,
representando todas as conferências episcopais e, portanto, trazendo os diferentes
contextos sociais e culturais vividos pela Igreja nos cinco continentes. Na
"Mensagem", os Padres Sinodais se dirigiram a cada continente,
valorizando a realidade de cada um.
4 - A comunhão eclesial e a corresponsabilidade pastoral se expressaram
também através da participação de presbíteros, diáconos, religiosos (as),
leigos e leigas, muitos dos quais puderam falar à Assembleia e outros,
colaboraram como peritos. A
nova evangelização necessita de todos para acontecer. Por isso, nas proposições
aprovadas, destaca-se o papel indispensável das diversas vocações e ministérios
na Igreja e a necessidade de formação dos evangelizadores.
5- O tema da nova evangelização não excluiu as dimensões do diálogo
ecumênico e inter-religioso; ao contrário, exigiu a sua consideração atenta e
reafirmou a sua necessidade. A abertura ecumênica foi simbolizada, de modo especial, pela
presença contínua dos "delegados fraternos", isto é, dos
representantes de outras Igrejas cristãs, que tiveram ocasião de dirigir a
palavra durante a Assembleia Sinodal e de participar das celebrações, conforme
as disposições da Igreja.
6 - A contribuição dos Padres Sinodais da América Latina foi relevante. O Documento de Aparecida
foi uma das principais fontes da reflexão oferecida pelos bispos
latino-americanos e caribenhos. Temas centrais de Aparecida encontraram
acolhida ou confirmação nas proposições e na mensagem do Sínodo: o encontro com
Jesus Cristo, a conversão pastoral, a Igreja em estado permanente de missão, a
formação, a piedade popular, os pobres, a juventude, o laicato... A convivência
fraterna entre os bispos da América Latina e Caribe foi intensificada pelas
celebrações festivas nos Colégios Pio Latino e Mexicano.
7 - O Jubileu de abertura do Concílio Vaticano II, os 20 anos do
Catecismo da Igreja Católica e o Ano da Fé favoreceram o desenvolvimento do
tema geral. A
"Mensagem" explicita tal contexto e há proposições dedicadas
especialmente ao Concílio e ao Catecismo. Documentos do Vaticano II iluminaram
a reflexão de muitos Padres Sinodais, em plenário e nos grupos. Documentos do
Magistério pós-conciliar também serviram de fonte, especialmente, pelo seu
teor, a Evangelii Nuntiandi, de Paulo VI, a Catechesi Tradendae, de João Paulo
II e a recente Verbum Domini.
8 - A Palavra de Deus recebeu grande atenção ao longo do Sínodo. A acolhida recebida pela
Verbum Domini, última exortação apostólica pós-sinodal, foi longamente
considerada numa das sessões. No início de cada dia, durante a oração da
Liturgia das Horas, a Palavra proclamada foi muito bem refletida com a ajuda de
alguns Padres Sinodais, sendo no primeiro dia, o próprio Santo Padre quem
desenvolveu uma bela reflexão. O texto da Samaritana serviu de inspiração para
a Mensagem final. Embora, algumas proposições do Sínodo reflitam mais
claramente a dimensão bíblica, a centralidade da Palavra de Deus na nova
evangelização exige atenção sempre maior.
9 - Os temas abordados foram muitos, conforme se pode comprovar pelo
grande número de proposições aprovadas e pela longa Mensagem conclusiva. Refletem a relevância, a
amplitude e a complexidade do tema geral: "Nova Evangelização para a
transmissão da fé cristã". É difícil elencá-los, de modo justo. Dentre
eles, podemos citar: a catequese, os sacramentos da iniciação cristã, o
sacramento da penitência, a família, os jovens, a liturgia, a santidade, a
piedade popular, a Igreja Particular, a paróquia, as comunidades, o clero, a
vida consagrada, os leigos, os movimentos eclesiais, a opção pelos pobres, os
migrantes, os enfermos, a política, a educação, o ecumenismo, a inculturação,
os cenários urbanos, as ciências, o serviço da caridade, os meios de comunicação,
os direitos humanos e a liberdade religiosa. Dentre os novos temas ou temas que
receberam nova acentuação estão: o reconhecimento do "ministério" de
catequista; a ordem dos sacramentos da iniciação cristã em perspectiva
pastoral; a "via da beleza" como caminho de evangelização; o
"átrio ou pátio dos gentios", retomando e especificando a questão dos
"novos areópagos" como espaços de evangelização; a "conversão
pastoral" segundo o espírito missionário de Aparecida; o papel dos
teólogos na nova evangelização.
10 - Por fim, pode-se destacar aquilo que desde o início esteve no
centro dos escritos e debates deste Sínodo: o que é a "nova
evangelização"? Em
que sentido, a evangelização proposta quer ser "nova"? No início da
XIII Assembleia Sinodal, o Instrumentum Laboris, em preparação ao Sínodo, já
abordava a questão fazendo uma proposta ampla de compreensão. Na bela e sábia
homilia da missa de encerramento do Sínodo, à luz da passagem da cura do cego
Bartimeu, o Papa retomou o assunto, mostrando o caminho a seguir. É vasta a
tarefa proposta, pois a nova evangelização deve ser assumida por todos, em
comunhão na Igreja, com novo ardor e "criatividade pastoral", tendo
como âmbitos próprios a pastoral ordinariamente voltada para os católicos que
participam da Igreja, a missão além-fronteiras (ad gentes) e as "pessoas
batizadas que, porém não vivem as exigências do batismo".
Como terminou o Sínodo? Em clima de louvor a Deus, de gratidão e esperança, e ao mesmo
tempo, de renovado empenho pela nova evangelização, conscientes de que temos um
longo caminho a percorrer para cumprir o mandato missionário de Jesus Cristo:
Ide, fazei discípulos! Há muito para se fazer pela nova evangelização! A busca
de respostas pastorais necessita continuar na Igreja local. O Sínodo ilumina e
anima a ação evangelizadora, mas não dispensa a nossa tarefa de estabelecer os
passos a serem dados na realidade em que vivemos. As 58 "proposições"
aprovadas pelo Sínodo começam a ser divulgadas. A "Mensagem" dos
Padres Sinodais tem sido publicada nas várias línguas, trazendo alento e
estímulo. Aguardamos a Exortação Apostólica Pós-Sinodal que o Papa irá nos
oferecer, recolhendo as contribuições da XIII Assembleia do Sínodo dos Bispos.
O presente relato não substitui a leitura da "Mensagem" e das
"Proposições" do Sínodo, bem como, a homilia do Santo Padre; antes,
quer servir de estímulo para tanto, esperando que estejam logo disponíveis
também em língua portuguesa. Nossa Senhora, Estrela da Evangelização, nos
acompanhe com a sua intercessão materna e exemplo!
*Arcebispo de Brasília
Fonte: ADITAL
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