Para
o peregrino que visita ainda hoje a Terra Santa, logo há de perceber, se assim
for o seu desejo, que Monte Carmelo, localizado na cidade de Haifa, uma montanha na costa de Israel, com vista
para o Mar Mediterrâneo, é o lugar onde Profeta Elias viveu e morreu 850 antes
de Cristo. Mas pouco se sabe sobre esse homem de Deus, antes do início do seu
ministério de profeta. O que se sabe é que ele originário de Tisbé e foi
contemporâneo do rei Acab e da rainha Jezabel.
O
importante mesmo é olhar para o ponto mais alto do Monte, numa profunda
simbologia, onde Elias, com seu lema, “ardo de zelo pelo Senhor Deus dos
exércitos”, venceu o desafio e deu prova aos israelitas de que Javé, o Senhor
Deus, é o único e verdadeiro Deus. Do Monte Carmelo, optou pelo silêncio, para
que mergulhado da solidão, pudesse saborear a presença de Deus, numa vida de
eremita, ao travar um grande e decisivo duelo contra a idolatria, anunciada
pelos profetas de Baal.
A
Transfiguração do Senhor nos leva a olhar para a Sagrada Escritura e nela, ver
a presença do profeta Elias, grande mestre na escola da oração e da
contemplação, que caminhou sempre na presença de Deus (cf. 1Rs 19). Sua fé no
único Deus – numa fé sólida e amadurecida na provação – impressionou
muitíssimas gerações de homens e mulheres na história do povo de Deus.
Quero
aqui agradecer a Deus pelo Carmelo Santa Teresinha de Fortaleza, vendo nas
nossas queridas Irmãs Carmelitas, "nosso pai Santo Elias", como elas
costumam chamar. Escolheram-nas, a exemplo do mesmo, viver de uma única
ocupação – na presença de Deus, pelo trabalho e pela oração, mostrando ao mundo
que vale a pena contemplar a beleza de um Deus essencialmente terno e bondade
sem limitastes (cf. Sl 139), tendo diante dos olhos o Monte Carmelo, na sua
mais elevada simbologia e expressão, a Jerusalém Celeste. Pela nossa fé vemos
Jesus, o Filho de Deus, no Monte Tabor, manifestando aos seus amigos todo o seu
esplendor. Ele revela a divindade que está dentro dele, antecipando, assim, a
sua glória e a nossa glória futura. São João nos assegura: “Quando Cristo
aparecer, seremos semelhantes a ele, pois o veremos como ele é” (1Jo 3, 2).
Jesus
Cristo, na montanha sagrada, transfigurou-se, isto é, mudou de aparência. Os
três apóstolos, Pedro, Tiago e João ficaram deslumbrados. Eles queriam que essa
alegria ficasse sempre entre eles. Daí a proposta: Vamos construir três tendas,
porque aqui é bom demais e a nossa vida será perpetuamente fascinante e
maravilhosa (cf. Lc 9,33). No alto da montanha, Jesus Cristo, antes da sua
paixão, com Moisés e Elias revelou o esplendor de sua face, dizendo-nos que
haveremos de nos transfigurar, uma vez que nosso destino se fundamenta na sua
palavra: “Nós somos cidadãos do céu. De lá aguardamos o Salvador, o Senhor,
Jesus Cristo. Ele transformará o nosso corpo humilhado e o tornará semelhante
ao seu corpo glorioso” (Fl 3, 20-21).
“Uma
voz do céu ressoa: Eis o meu Filho amado” (Lc 9, 35-36), que nos faz ouvir com fidelidade a sua palavra e
buscar no seu corpo e sangue o alimento para nossa vida. E é precisamente pela
força da palavra, do corpo e sangue de Cristo, que vamos andar na sonhada
esperança de sermos semelhantes a ele, quando ele se manifestar em sua glória.
Como seria maravilhoso ver os cristãos, com pés firmes
no chão da realidade, abraçarem e saborearem o silêncio e, mesmo a solidão,
como condição imprescindível, no reto sentido de buscar uma profunda mística, a
partir do mistério da contemplação da presença de Deus, a exemplo do Profeta
Elias, que viveu unicamente para Deus e fez d’Ele o seu refúgio em todas as
circunstâncias de sua vida.
*Padre da Arquidiocese de
Fortaleza, escritor, membro da Academia Metropolitana de Letras de Fortaleza,
da Academia de Letras dos Municípios do Estado Ceará (ALMECE) e Vice-Presidente
da Previdência Sacerdotal - Pároco de Santo Afonso
Autor dos
livros:
“O peregrino
da Paz” e “Nascido Para as Coisas Maiores” (centenário de Dom Helder Câmara);
“A Ternura de
um Pastor” - 2ª Edição (homenagem ao Cardeal Lorscheider);
“A Esperança
Tem Nome” (espiritualidade e compromisso);
"Dom
Helder: sonhos e utopias" (o pastor dos empobrecidos).
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