19/11/2012

Consciência Negra

Dom Demétrio Valentini

O dia 20 de novembro é dedicado à “consciência negra”,  iniciativa que visa estimular e fortalecer a consciência  da identidade própria  racial e cultural dos negros no Brasil. 
A iniciativa já seria válida pelo número de pessoas que se sentem envolvidas  nesta questão. Não é fácil ter estatísticas precisas, justamente numa realidade que está em plena mutação, em boa parte, exatamente, pelo processo em andamento, de identificação racial e cultural.
Mas dá para afirmar que, aproximadamente a metade da população brasileira se assume como possuindo componentes importantes ligados à negritude. 
Comparando com dados recolhidos nos sensos anteriores, percebe-se claramente que aumentou muito o contingente de brasileiros que se assumem como negros.
Isto demonstra que a iniciativa de promover a “consciência negra” vem dando bons resultados, em termos sobretudo de superação de preconceitos que a população ainda carrega, seja em referência aos negros, seja também de negros que acabam, de alguma maneira,  introjetando o preconceito dentro de si próprios. 
O fato é que permanece muito difícil a superação de preconceitos longamente implantados ao longo da história, com o apoio da organização econômica e social, que traduzia o preconceito em medidas de opressão e de exclusão social, econômica e cultural. 
A dificuldade em remover a carga de preconceitos que pesam sobre a população negra do Brasil, que ainda carrega as conseqüências do regime de escravidão, justifica as políticas públicas,  que visam  acelerar o processo de equiparação completa entre todos os  cidadão brasileiros, independente de raça ou de outros critérios.
Entre estas políticas, está o “sistema de quotas”, que visa garantir uma crescente participação de negros nos cursos universitários. Este sistema encontra uma primeira justificativa diante da grande disparidade existente nas universidades, onde a participação de negros é flagrantemente desproporcional. 
Alguns ponderam que este sistema, que pretende superar a discriminação, traz em sim mesmo um viés discriminatório, na medida em que reforçaria o que se quer superar, isto é, ter a raça como referência  para políticas públicas. 
Acontece que a conveniência destas iniciativas tem presente a realidade concreta, constatada pelas estatísticas, de uma disparidade que, se continuada, perenizaria a desigualdade ora  existente.  
Mas também é verdade, que se pretendemos que estas políticas sejam eficazes, precisamos admitir que devem ser provisórias. Pois em perspectiva, se elas conseguem o efeito pretendido, levarão a uma situação em que o ideal será a perfeita igualdade de oportunidades, que todos poderiam ter, sem a ajuda de quotas ou de outras medidas que podem valer agora, mas  carregam consigo a marca da caducidade. 
Bom seria se o Brasil pudesse, de fato, dar ao mundo o precioso testemunho de uma sociedade igualitária, em perfeita convivência de raças diferentes, que prescindirão sempre mais de regulamentação legal para se relacionarem no respeito mútuo e no diálogo fraterno.


CatolicaNet

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