Padre Geovane Saraiva*
Jericó é uma é uma cidade que fica perto do rio Jordão, um
pouco acima do Mar Morto. Naquele lugar sagrado, Deus realizou algo maravilhoso
e, ao mesmo tem tempo, revolucionário, na vida de um homem chamado Zaqueu,
considerado um pecador. A sua vida e a sua história foi vista e compreendida
por Jesus de Nazaré como uma semente que produziu muitos e bons frutos. A
misericórdia de Deus, que se renova todos os dias, mesmo diante de grandes e
inúmeros pecados, entrou na vida do publicano Zaqueu.
Jesus, na sua missão recebida do Pai, na caminhada para
Jerusalém, ao atravessar a cidade de Jericó, encontrou-se com Zaqueu. A
narrativa do trecho deste Evangelho comove-nos e encanta-nos, no convite
especial e terno, feito a um homem rico e pecador. O chamado do Senhor Jesus
foi surpreendente e pelo nome, quando ele estava lá em cima da árvore.
Ao contrário da multidão que só via o mal e coisas negativas
em Zaqueu, Jesus olhou para ele com amor, ternura e compaixão, dizendo que ele
tinha jeito e que tinha boas qualidades. Disse que ele também era filho de
Abraão e que o Filho do Homem veio buscar e salvar o que estava perdido.
Zaqueu é um personagem do Evangelho desejoso de ver, com uma
vontade enorme de ver, mas ele é limitado, contando com a desvantagem de ser de
baixa estatura e também descriminado por ser cobrador de impostos. O desejo
dele, porém, foi maior que tudo, a ponto de subir em uma árvore para ver melhor
Jesus passar por aquele lugar. O Filho de Deus percebeu a ânsia, a vontade de
Zaqueu e se manifestou, dizendo: Zaqueu desce depressa porque hoje devo ficar
em tua casa (cf. Lc l9, 1-10).
É preciso, a exemplo de Zaqueu, fazer o seguimento de Jesus
de Nazaré. Em geral as pessoas ricas querem acumular sempre mais e muitas vezes
em troca de salários injustos e miseráveis, oprimindo seus empregados com
trabalhos excessivos. A produção e o lucro sempre em primeiro lugar. É evidente
e claro que na passividade e na indiferença, nada irá acontecer. Nossa vontade
de ver Jesus deve está associada também a uma vontade de praticar e de realizar
a missão confiada a nós por ele, na nossa vida e na nossa história de cristãos.
Nosso Senhor Jesus Cristo foi à casa de Zaqueu e a acolhida
foi grande. Foi uma benção maravilhosa
para o seu lar, produzindo frutos, começando com a conversão desse homem
pecador: “Senhor, eis que eu dou a metade de meus bens aos pobres e se explorei
a alguém, vou devolver quatro vezes mais”. Ele compreendeu em profundidade a
proposta do Jesus, bem como a sua advertência: como é difícil a um rico,
fechado em sim mesmo, entrar na lógica do Evangelho, a grande e maior novidade
para aqueles que abraçam o caminho de Deus, a salvação que lhes são
gratuitamente oferecidas.
A salvação que chegou a casa desse homem de baixa estatura e
cobrador de impostos, não é um acontecimento qualquer e muito menos uma simples
mensagem. Mas foi fruto do desígnio redentor de Deus que é Pai e que quer a
redenção da humanidade, a nossa felicidade e plena realização.
Que a nossa vontade de ver Jesus, de ir ao seu encontro, de
fazermos uma rica e profunda experiência do seu amor, ajude-nos a superar
nossas limitações e nossas barreiras. A verdade é que temos muitas barreiras.
Aprendamos de Dom Helder, ao firmar: “Das barreiras a romper, a que mais custa
e a que mais importa é, sem dúvida, a da mediocridade”. Quando isso acontecer,
a exemplo da disposição interior de Zaqueu, a salvação terá chegado à nossa
casa.
*Padre da
Arquidiocese de Fortaleza, Escritor, Membro da Academia de Letras dos
Municípios do Estado Ceará (ALMECE), e da Academia Metropolitana de Letras de
Fortaleza.
Pároco de
Santo Afonso
Autor
dos livros:
“O
peregrino da Paz” e “Nascido Para as Coisas Maiores” (centenário de Dom Helder
Câmara);
“A
Ternura de um Pastor” - 2ª Edição (homenagem ao Cardeal Lorscheider);
“A
Esperança Tem Nome” (espiritualidade e compromisso);
"Dom
Helder: sonhos e utopias" (o pastor dos empobrecidos).
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