Selvino Heck
Assessor Especial da Secretaria Geral da Presidência da República
Adital
Alegria? Tristeza? Saudade? Mais um ano, outro ano no final. Passou que nem um raio. Ou eu estou mais velho e com mais pressa.
Da minha parte, venho dizendo para todos e todas: voltei/voltamos aos anos oitenta. Quem é daquela época ou então já estava na luta e na militância, sabe e lembra. ‘Trocentas’ reuniões por dia, de todos os tipos e tamanhos, marchas, mobilizações, greves, oposições sindicais, lutas, organização de pastorais, ONGs, construção do partido, e mais mil coisas a ocupar a vida e o coração.
Não havia tempo a perder. Era a hora da redemocratização, de pensar o novo, a nova sociedade, o novo homem, a nova mulher, tudo em meio à ditadura declinante, dificuldades mil, mas também mil sonhos, muita coragem e determinação, muito trabalho coletivo e solidariedade.
Duas coisas atormentavam todas e todos: fugir do ativismo e cuidar da vida pessoal. Era preciso pensar um projeto de futuro consistente, capaz de mudar o Brasil, a América Latina e o mundo. E era preciso cuidar da vida pessoal: família, casamento, lazer. Mas cadê tempo? A militância acabava tomando quase todo espaço.
2012 teve um ‘quê’ dos anos oitenta. Pelo menos em Brasília e no governo federal, em particular na Secretaria Geral da Presidência da República. Trabalho de sol a sol, como se dizia antigamente, dez, doze, catorze horas por dia e até nos finais de semana, duzentas mil reuniões e atividades, mil preocupações de todo tipo. Estou incríveis dez anos por aqui (para quem nunca pensava em sair do Rio Grande e menos ainda ir para o governo federal), oito de governo Lula, dois de governo Dilma, e não vi nada igual a 2012.
O primeiro semestre foi dominado pela Rio+20 e Cúpula dos Povos. Preparação, organização de atividades, articular-se com a sociedade civil, movimentos sociais e populares, pensar e debater o significado de um evento de porte internacional, maior já realizado no Brasil, num momento de um mundo em crise, em que as questões do desenvolvimento e as questões ambientais estavam/estão em xeque e em choque. O futuro do planeta e da humanidade sendo discutido por milhares de pessoas de todos os países e continentes.
O segundo semestre, que seria tradicionalmente ocupado pelas eleições municipais, teve muito mais. Julgamento do chamado mensalão no Supremo Tribunal Federal, denúncias de corrupção para todos os gostos, debates importantes no Congresso como o Código Florestal, a distribuição dos recursos do pré-sal, os 10% do Produto Interno Bruto (PIB) para a educação, a preparação da Copa do Mundo e das Olimpíadas e tantas outras coisas, que até fica difícil enumerar ou lembrar.
No meio de tudo, a seca do Nordeste e toda sua tragédia, embora amainada pelas políticas sociais dos últimos anos, as tempestades e destruições em outras regiões, a criminalidade aumentando por todos os cantos e esquinas.
O esforço maior na Secretaria Geral da Presidência da República foi dialogar, sempre e em qualquer situação, com a sociedade, especialmente movimentos sociais e populares sobre todo e qualquer assunto e acontecimento envolvendo o povo, os pobres e os trabalhadores; debater e avançar na participação social como método de gestão e de governo; acompanhar mobilizações sociais de quilombolas, indígenas, sem terras, agricultores familiares, trabalhadores e sindicalistas; formar a consciência cidadã, através da Rede de Educação Cidadã (RECID) e do Movimento ODM (Objetivos do Milênio), entre outras iniciativas; pensar e implementar políticas para a juventude como o Juventude Viva, contra o extermínio de jovens, especialmente negros e de periferias.
Como pensar o futuro, como ampliar as conquistas e avanços, reais e palpáveis - uma melhor condição de vida, mais empregos, segurança alimentar e nutricional, entre outros - e também pensar e enfrentar as contradições de um projeto de desenvolvimento? Foram realizados seminários sobre a relação entre Estado e sociedade, governo e movimentos sociais, a criminalização dos movimentos populares, as formas de superar as contradições e jogar mais longe os limites de um modelo capitalista e desenvolvimentista. Hora, momento e exigência: pensar e propor quais valores devem nortear tanto quem está no governo quanto quem está na sociedade, na construção de uma sociedade justa, igualitária, onde melhorem a distribuição de renda e a qualidade de vida de brasileiras e brasileiros e não predomine o consumismo alienante e egoísta.
Por isso tudo, 2012 passou rápido, rápido até demais. Saldo? Valeram a pena tanto esforço, cansaço, viagens, debates, reuniões? As respostas, em parte, estão ainda por serem dadas.
Como fugir do ativismo? Como cuidar da vida pessoal? Bem, isso pode ser assunto de outro artigo ou reflexão. Ou preocupação para 2013. Por enquanto, depois de tanto trabalho e tantas reuniões, lembrando com saudade dos anos oitenta, o que resta é desejar um FELIZ ANO NOVO A TODAS E TODOS. E dizer, 2013 promete!
Em vinte e oito de dezembro de dois mil e doze.
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