PATRÍCIA ARAÚJO/ARQUIVO PESSOAL
Após o lançamento de Copacabana Dreams, Natércia parte para Buenos Aires
Raphaelle Batista
ENVIADA A SÃO PAULO
Natércia é escritora. Parece bobagem dizer, mas é preciso: a cearense Natércia Pontes, 32 anos, cabelos longos, lisos até um fio se enroscar no outro e ondas se formarem, é escritora. A mulher esguia, de olhos fundos contornados por olheiras não disfarçadas, é escritora. Natércia é a escritora que abre a porta do pequeno apartamento da rua Apinajés, na misteriosa São Paulo, com cara de sono e sorriso largo dentro de um vestido de flores rosa. Ela vem a Fortaleza na próxima sexta-feira, 21, para lançar Copacabana Dreams, livro de contos publicado pela CosacNaify. Mas esta não é a informação mais importante. Antes de tudo, atente: Natércia é escritora.
Durante muito tempo, foi difícil, para ela, se reconhecer assim. Embora o exercício de escrever se imponha desde a infância e mesmo que acumule dezenas de colaborações em revistas e jornais (Piauí e O POVO, por exemplo) pesava assumir que não era publicitária, nem jornalista, nem diretora de cinema ou teatro – sua eterna frustração. Quando vendeu o carro, aos 23 anos, para publicar o livro Az Mulerez com o amigo designer Renan Costalima, ainda era estranho se dizer escritora. A coletânea Semana, organizada por Natércia em 2007, também não bastou.
“Não sei precisar assim o dia, mas foi aqui em São Paulo”, dá pistas sobre o momento em que começou a enxergar como trabalho algo tão espontâneo quanto o sentir fome. “Às vezes, eu tenho vontade de comer, às vezes eu tenho vontade de escrever”, diz ela, natural, sentada na cadeira da mesa de jantar na sala do apartamento muito branco. O vazio de cor é quebrado pelo laranja de um dos dragões do pintor cearense Chico da Silva, achado num sebo fluminense por R$ 40, selo de autenticação e tudo. Sobre a mesa, o gato Wilson assiste a tudo, ouve as confissões da dona e, vez ou outra, ganha carinhos no pelo farto.
Ele chegou em 2008 e virou o “companheirinho” de Natércia nos dias em que escrever a noite inteira e dormir pela manhã e tentar conciliar a vida amorosa com a escrita começaram a revelar a única definição possível para a filha do memorável Augusto Pontes. “Quando eu descobri que não era outras coisas”, continua, “pensei: só posso ser escritora, porque não sobra mais nada pra eu ser”.
É escritora, sim, e ninguém pergunte “mas tu trabalha com o quê?” como se escrever fosse fácil. É cansativo; às vezes, psicótico. Nos tempos de Rio de Janeiro, quando viu o Copacabana Dreams se desenhar bem à sua frente, bastava ir alugar um filme na vizinha Paradise, começava a escrever às 21 horas e só encerrava às 11 do dia seguinte. Uma pulsão que hoje ela tenta disciplinar. “Aqui foi onde eu me profissionalizei, onde vi que o que eu faço é trabalho. No Rio aflorou, São Paulo me organizou”, conta. Muito embora ainda enlouqueça imprimindo, lendo em voz alta, gravando, relendo indefinidamente o texto.
Mudança no processo, mas também na escrita, antes mais intuitiva. “Eu tenho procurado investir mais pra dizer melhor o que eu quero dizer. Meu texto se alongou também. Aprendi a ter mais calma, a burilar mais. É uma vontade boba de fazer coisas maiores”, confessa.
Após o lançamento de Copacabana Dreams, Natércia parte para Buenos Aires no próximo aniversário (2 de fevereiro) para se concentrar noutro livro de contos, numa novela, fazer um curso de espanhol e traduzir a literatura contemporânea dos hermanos. Quem sabe até estudar dramaturgia. Nada que a afaste do ofício de ser escritora “meio caótica, mas que já consigo dizer que sou”.
SERVIÇO
Lançamento do livro Copacabana Dreams
(CosacNaify, 128 páginas)
Autora: Natércia Pontes
Quanto: R$ 35, 50
Quando: Sexta-feira, 21, às 19h30
Onde: Dragão do Mar de Arte e Cultura (rua Dragão do Mar, 81 - Praia de Iracema)
Nenhum comentário :
Postar um comentário