31/01/2013

Elba Ramalho de olho nas misturas

A cantora lança "Vambora lá dançar", com samba, boi, baião e direito a distorção e sintetizador
Não é um disco cheio de novidades, nem que demarque uma nova música de Elba Ramalho. "Vambora Lá Dançar" (2013) é obra que a cantora apresentou ao público do Rio de Janeiro na semana passada e que, amanhã, chega às lojas de todo o País. Ele vem repleto daquilo que ela tem construído nos seus mais de 30 anos de carreira: música pop com um pé no forró e o outro solto, pisando o terreiro diverso da música brasileira.

Elba Ramalho: cantora volta à boa forma em disco de inéditas

Para os defensores do formato "pé-de-serra" como sinônimo de qualidade, ou de única alternativa possível ao "forrozão eletrônico", figuras como Elba e seus companheiros de geração, Alceu Valença, Zé Ramalho, Robertinho do Recife, mostram já há anos que essa luta é caduca. Guitarras, bateria, baixo bem marcados convivem em harmonia com a tradicional trinca forrozeira - a sanfona, o triângulo e a zabumba.

O novo disco, portanto, não inova, mas põe em evidência essa convivência, com músicas que, oras ganham com sopros, piano e contrapontos de cordas, oras sintetizadores, teclado Rhodes, guitarras bastante distorcidas e programações. A mistura de referências entra ainda no flerte de ritmos, que permite um xote puxado para o reggae, um baião para o samba, e até boi do Maranhão. Tudo sonoramente situado no nordeste.

Arranjos

O disco sai pelo selo "Saladesom Records", com 14 faixas e dois arranjadores dividindo as músicas: o maranhense Zé Américo Bastos e o sanfoneiro pernambucano Cézar Thomáz (Cezinha). O tempero bem demarcado de cada um deixam o disco dividido, com molhos que destoam de uma música para outra, mas capazes de se harmonizar na voz de Elba.

A obra segue um pouco a linha da gravação de estúdio anterior, de 2009, "Balaio de Amor" - o disco com o qual a cantora ganhou o Grammy Latino na categoria "Melhor Álbum de Música de Raízes Brasileiras - Regional".

Diferente do registro ao vivo, "Marco Zero" (2010), que vinha recheado de canções já consagradas de nomes como Chico Buarque, Dominguinhos e Zé Ramalho, em seu novo álbum Elba aposta em inéditas ou canções pouco conhecidas, com uma miscelânea de compositores de várias gerações: Hebert Azul, Monique Kessous, Vander Lee, além de seus velhos conhecidos, como Nando Cordel, Dominguinhos, Chico César e Cezinha (Cézar Thomáz). Também figuram duas canções da dupla Antônio Barros e Cecéu. Os dois são autores do antigo sucesso "Bate coração", lançada por Elba Ramalho em 1981. De música consagrada, apenas uma versão de "Mucuripe", de Fagner e Belchior.

Misturas

Elba abre o repertório com arranjos de Zé Américo para "Embolar na Areia". A música dá, de cara o tom de sua parte do repertório, com guitarra e viola de 12 cordas, além de percussões e bateria ritmados ao estilo de Lenine. Quem lembra do da faixa tema de "Baioque", disco de 1997, também arranjado por Zé Américo, pode ter uma ideia da intenção que ele passa nas faixas que assina.

A cisão é anunciada na faixa seguinte, gravada por Cezinha, "Deitar e Rolar", de Antonio Barros e Cecéu. Bateria e guitarras contidas fazem cama para o triângulo, deixam a marcação com a zabumba e a condução com a sanfona. O mistura aflora pelo ritmo, que traz um samba-funk incidental na introdução, seguido de baião e se mistura com samba de roda no refrão.

O xote que dá sequência, "Frevo meio envergonhado", de Monique Kessous, traz o nome do disco no refrão e novamente a pegada de Zé Américo. Na balada "Quando fecho os olhos", de Chico César com versos de Carlos Rennó, Elba desacelera, e vem mais branda, cantando o amor, clima que segue com "Por que tem que ser assim?", de Chico Pessoa e Cezinha".

Pandeiro e guitarra com efeito "uauá" fazem a combinação da abertura do baião "Não chora, não chora não", de Petrúcio Amorim, música passeia pela geografia e ritmos brasileiro. "Enquanto a alegria permanece / No samba e no Boi do Maranhão / Ninguém nesse forró / Não chora, não chora, não chora não", declara o refrão. E com Boi de Rogério Rangel a cantora dá sequência ao passeio, uma das pérolas do disco, com arranjos de Cezinha.

Oscilações

Um contraponto à boa performance no disco é a bela "Mucuripe" (Fagner e Belchior). A canção é o ponto baixo do novo trabalho de Elba. Apesar de ser bem orquestrada, a versão da cantora não consegue ter a mesma força que se ouve em outras interpretações.

Outro vacilo, na parte final do álbum "Vambora lá dançar", é ter a sequência das quatro últimas músicas assinadas por Cezinha e evidenciando a separação interna. Dá para sentir a falta de Américo. O disco, no entanto, não deixa de ser um deleite de Elba Ramalho... Animada, dançante e em forma.

Disco
Vambora lá dançar
Elba Ramalho
O disco está em pré-venda e chega às lojas no dia 31 de janeiro
Independente
2013, 14 faixas
R$ 24,90

FÁBIO MARQUESREPÓRTER 
Diário do Nordeste

2 comentários :