Época
Será um festival de brigas pelo poder. Em 2013, o mundo verá líderes e nações lutando por influência econômica, política ou militar. Na Europa, a economia poderá definir o destino de sua mais importante figura: a chanceler alemã, Angela Merkel, que disputará eleições em setembro. As finanças nacionais estarão na mente dos líderes dos Brics, inclusive Dilma Rousseff. As economias desse heterogêneo grupo de nações terminaram 2012 em marcha mais lenta. Se não avançarem, correm o risco de perder relevância. O poder político estará em jogo na Síria e noEgito, os iranianos ameaçam se tornar uma potência nuclear e os argentinos verão novos capítulos do embate entre governo e imprensa. A ditadura cubana seguirá sob pressão, talvez sem Hugo Chávez para ajudar. A seguir, as respostas para seis perguntas sobre os rumos do mundo no novo ano.
A Europa sairá da crise econômica?Os prognósticos desanimam. Segundo o Eurostat, a divisão de estatísticas da União Europeia (UE), a economia conjunta dos 27 países do bloco deverá crescer apenas 0,4% em 2013. O PIB do trio mais problemático, Grécia, Espanha e Portugal, encolherá por mais um ano. Continuaremos a assistir a cenas já tristemente rotineiras, como os protestos violentos em Atenas contra os cortes de gastos públicos e o desespero de espanhóis que perdem suas casas por não poder pagar as dívidas. O economista alemão Guntram Wolff, ex-membro do Departamento de Economia e Finanças da Comissão Europeia (braço executivo da UE), diz que a crise ainda pode levar de dois a cinco anos para ser superada. “A chave para resolver os problemas da Zona do Euro está no sistema bancário”, afirma. Um passo importante nessa área foi dado em dezembro: os ministros das Finanças do bloco chegaram a um acordo, segundo o qual o Banco Central Europeu será responsável por supervisionar bancos com ativos superiores a € 30 bilhões ou que tenham recebido ajuda financeira. O acerto, porém, só entrará em vigor a partir de 2014. Deverá ser o primeiro estágio para a união bancária da UE, defendida pela chanceler alemã, Angela Merkel. A Alemanharealizará eleições em setembro. Se Merkel for derrotada, o receituário da austeridade voltará a ser questionado. “Os investidores não veem na Europa líderes que saibam o que estão fazendo”, diz o economista espanhol Xavier Sala-i-Martin, da Universidade Colúmbia. Pior para o resto do mundo.
O fundamentalismo religioso triunfará na Primavera Árabe?O tempo na Primavera Árabe anda fechado. Especialmente noEgito. Uma crise política tomou conta do país e gerou protestos desde o fim de novembro, quando o presidente Mohamed Morsi emitiu um decreto que punha suas decisões acima de questionamentos da Justiça. Após protestos, Morsi recuou, mas a crise garantirá um 2013 de incertezas. “O embate entre islâmicos e liberais seculares e as ações autoritárias da Irmandade Muçulmana podem alimentar o discurso de quem não acredita em democracia no Oriente Médio”, diz Shadi Hamid, da divisão do instituto americano Brookings em Doha, no Catar.
A consolidação da Primavera Árabe passa pela adoção de novas Constituições pós-regimes ditatoriais. As Assembleias Constituintes do Marrocos e da Tunísia já concluíram seu trabalho. A Líbia está em processo de debate da Carta, e o governo do Egito convocou um referendo para aprovar o texto final. “Tudo dependerá de qual versão da sharia (lei islâmica) esses países adotarão e quanto ela interferirá em princípios básicos da democracia, como um Judiciário independente e a liberdade de expressão”, afirma o historiador paquistanês Dilip Hiro. Para o professor Tariq Ramadan, da Universidade de Oxford, ainda é cedo para dizer que a Primavera Árabe esteja se desviando da trilha democrática. “Nenhuma democracia nasceu do dia para a noite. É normal haver conflitos entre islamitas e secularistas”, afirma Ramadan. Na Síria, onde o ditador Bashar al-Assad resiste no poder, o grupo radical Frente Al-Nusra (vitória, na tradução do árabe), ligado à al-Qaeda, vem se fortalecendo entre os rebeldes.
O Irã fabricará a bomba atômica?Relatórios da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), divulgados em agosto, mostraram que o Irã quase duplicou o número de centrífugas para enriquecimento de urânio – o procedimento básico para fabricar uma bomba atômica. O país já produziu ao menos 233 quilos de urânio enriquecido a 20%, desde 2010. A quantia é suficiente para desenvolver ao menos dez ogivas nucleares. O físico americano David Albright, ex-inspetor da AIEA, é categórico: “O Irã já é capaz de enriquecer urânio e pode produzir ogivas nucleares até o fim de 2013”. A dúvida: o regime dos aiatolás pretende fazer isso? “O Irã só não produziu a bomba ainda, nem produzirá, porque está sujeito a um conjunto complexo de ações internacionais e sanções draconianas, além de temer um ataque militar”, diz Albright.
Desde o início de 2012, Israel ameaça bombardear instalações nucleares iranianas para combater uma eventual ameaça atômica de Teerã. O governo iraniano diz que seu programa se destina à produção de combustível para reatores de pesquisa médica. Nos últimos dois anos, os serviços de inteligência de Israel e dos Estados Unidos promoveram ataques cibernéticos para retardar os trabalhos dos cientistas do Irã. Há ainda severas sanções econômicas ao país, que golpearam a economia iraniana. A inflação aumentou, e a moeda (riaal) sofreu forte desvalorização. “Os aiatolás são fundamentalistas, mas não são burros. Eles não querem a população insatisfeita, ainda mais no meio de uma tempestade de levantes na região”, diz o jornalista iraniano Hooman Majd. “Uma coisa é enriquecer urânio e ter uma carta na manga para negociar. Outra é fabricar a bomba.” O Irã realizará eleições presidenciais em junho. O presidente Mahmoud Ahmadinejad não pode concorrer a um terceiro mandato. O líder supremo, aiatolá Ali Khamenei, precisa identificar um candidato vinculado ao regime que possa ter boas chances contra a oposição.
Os Estados Unidos exigem que o país entregue seu estoque de urânio enriquecido a 20% e permita inspeções internacionais a suas instalações. O Irã só aceita negociar caso seu direito a um programa nuclear seja reconhecido. “Os dois lados fazem exigências demais”, diz Corey Hinderstein, ex-inspetora da AIEA e vice-presidente do Instituto Mundial para a Segurança Nuclear.
Os Estados Unidos exigem que o país entregue seu estoque de urânio enriquecido a 20% e permita inspeções internacionais a suas instalações. O Irã só aceita negociar caso seu direito a um programa nuclear seja reconhecido. “Os dois lados fazem exigências demais”, diz Corey Hinderstein, ex-inspetora da AIEA e vice-presidente do Instituto Mundial para a Segurança Nuclear.
Os BRICs voltarão a crescer como antes?A década de ouro dos Brics parece ter ficado para trás. Com o prolongamento da crise nas nações desenvolvidas, as economias de Brasil, Rússia, Índia, China e, desde 2011, África do Sul foram inevitavelmente afetadas. Esses países continuarão a crescer, mas não nos níveis anteriores a 2008. “Os Brics seguirão com taxas de crescimento significativas devendo manter o patamar de 6% em comparação aos 3% da economia global. No entanto, seu potencial de crescer em níveis próximos aos 10% alcançados em 2007 dependerá da recuperação da economia global”, diz Fabiano Mielniczuk, do Centro de Estudos e Pesquisas dos países Brics da PUC-RJ. Ainda assim, Mielniczuk é otimista. “Eles têm todos os recursos para que suas economias cresçam de modo pujante”, diz. “Há espaço para o crescimento econômico do bloco, globalmente e intra-Brics.”
Dentro do bloco, apenas a China, com 8,3%, apresenta uma projeção de crescimento para 2013 digna de aplauso. A Índia tem expectativa de crescer 6%, cifra abaixo da projeção de inflação, atualmente na casa dos 9%. A Rússia, a mais afetada dos cinco pela crise na Europa e consequente queda em suas exportações, deverá crescer 3,8%, segundo o Fundo Monetário Internacional. A África do Sul, caçula dos Brics, deverá crescer apenas 3%, e o Brasil dificilmente passará disso. “O setor privado e o mercado têm questionado muito se 4% são até viáveis”, diz o economista chinês Hsia Hua Sheng, professor da Fundação Getulio Vargas (FGV). O indiano Bala Chakravarthy, professor da escola de negócios IMD, na Suíça, diz que a economia brasileira “está falseando”. “Para que a exportação de commodities volte a aumentar, o crescimento chinês terá de acelerar novamente”, afirma. “A boa notícia é que os Brics se sairão melhor em 2013 do que as economias desenvolvidas, mas o crescimento será uma luta para eles.” Na corrida pelo estrelato internacional, estão os componentes de uma nova sigla, Mist – México, Indonésia,Coreia do Sul e Turquia. Considerados novas forças econômicas, esses países ameaçam deixar os Brics comendo poeira em 2013.
Haverá paz entre governo e imprensa na Argentina?A resposta é fácil: não. O ano de 2012 termina com um capítulo indefinido da briga entre a presidente Cristina Kirchner e o grupo de comunicação Clarín, o maior da Argentina. O governo queria fazer do dia 7 de dezembro um marco. A partir dessa data, passaria a aplicar dois artigos da Lei de Meios que obrigariam o Clarín a se desfazer de várias licenças de rádio e TV. Na véspera, o Clarín conseguiu na Justiça o direito de não cumprir a lei até a Suprema Corte julgar a constitucionalidade da medida. O governo recorreu. Os advogados do Clarín acreditam que a disputa jurídica se estenderá por 2013. Cristina fará de tudo para pôr a lei em prática até as eleições legislativas, previstas para outubro. Quer apresentá-la como um trunfo e, com isso, garantir a maioria no Congresso. A chance de ela mudar de ideia é ínfima. “Para o kirchnerismo, a imprensa em mãos privadas sempre tem interesses ocultos, sejam econômicos ou políticos. É difícil chegar a um acordo”, diz o jornalista Jorge Lanata. Um dos fundadores do jornal Página 12, Lanata é um crítico reconhecido de Cristina. Hoje, seu antigo jornal é alinhado ao kirchnerismo. Na festa de 25 anos do diário, em maio de 2012, ele não foi convidado.
A ditadura acabará em Cuba?A ditadura castrista completou 53 anos em 2012. O presidente cubano, Raúl Castro, tem promovido pequenas reformas no regime comunista – a compra e venda de imóveis foi autorizada, e o governo estimulou pequenos empreendedores. Em janeiro, entrará em vigor a autorização de viagens ao exterior para a maioria dos cubanos. Nota-se, no entanto, que as mudanças têm caráter apenas econômico. Os aspectos centrais do regime de partido único não foram alterados. “É preciso entender que o regime em Cuba está baseado numa dinastia familiar. Antes era Fidel, agora temos Raúl. Ao redor dele, herdeiros do castrismo na fila, como seu filho, Alejandro”, diz Ann Louise Bardach, jornalista americana autora de Without Fidel (Sem Fidel).
Fidel, o longevo governante de Cuba, foi o primeiro a alertar a então União Soviética contra os “malefícios” que a perestroika e a glasnost trariam ao gigante comunista. Ele prometeu não permitir um processo semelhante em solo cubano. Raúl tem combatido com veemência os dissidentes do regime, além de ter habilmente afastado qualquer ministro com inclinações consideradas demasiado reformistas e fortalecido o Exército. “Ele é um homem dos militares e não hesitaria em impor um regime militar, se isso fosse necessário para manter o poder”, diz Bardach. A sociedade civil não dá sinais de que buscará uma revolução. “Entre ir às ruas para derrubar o governo ou se lançar ao mar numa balsa frágil rumo à Flórida, milhões de cubanos prefeririam a última opção. A explosão imigratória pode estar mais próxima que uma explosão social”, diz Yoani Sánchez, blogueira e a dissidente cubana mais conhecida internacionalmente.
O maior fator de risco para os irmãos Castro reside em uma pessoa: Hugo Chávez. O presidente venezuelano praticamente mantém a economia da ilha caribenha, com os mais de 100 mil barris de petróleo enviados diariamente a Cuba e outros subsídios. A volta do câncer de Chávez e a possibilidade de mudança na conduta da Venezuela caso ele não consiga mais governar representam uma grande ameaça. “Cuba está numa situação econômica muito pior do que nos anos 1990, quando perdeu o apoio soviético. Hoje, a indústria cubana produz 50% menos do que naquela época. Sem os subsídios venezuelanos, a situação se agravará demais”, diz Oscar Espinosa Chepe, ex-conselheiro econômico de Fidel nos anos 1960 e hoje crítico do regime. Seria o fim da ditadura comunista em Cuba? Devagar. Não se deve subestimar a capacidade de resistência dos irmãos Castro.
O maior fator de risco para os irmãos Castro reside em uma pessoa: Hugo Chávez. O presidente venezuelano praticamente mantém a economia da ilha caribenha, com os mais de 100 mil barris de petróleo enviados diariamente a Cuba e outros subsídios. A volta do câncer de Chávez e a possibilidade de mudança na conduta da Venezuela caso ele não consiga mais governar representam uma grande ameaça. “Cuba está numa situação econômica muito pior do que nos anos 1990, quando perdeu o apoio soviético. Hoje, a indústria cubana produz 50% menos do que naquela época. Sem os subsídios venezuelanos, a situação se agravará demais”, diz Oscar Espinosa Chepe, ex-conselheiro econômico de Fidel nos anos 1960 e hoje crítico do regime. Seria o fim da ditadura comunista em Cuba? Devagar. Não se deve subestimar a capacidade de resistência dos irmãos Castro.
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