25/02/2013

As pontes da arte barroca


Livro de Benedito Lima de Toledo estabelece conexões entre as produções brasileira e portuguesa

Uma das peças do famoso conjunto de profetas, em pedra-sabão, atribuídas ao gênio barroco Aleijadinho

Um mergulho no universo do Barroco significa imergir em uma das cenas mais ricas da arte brasileira. O estilo artístico que marcou a produção do País, nos séculos XVII, XVIII e início do século XIX, caracterizo-se por uma atmosfera mítica e de ilusão. Ficou conhecido, sobretudo, por suas esculturas e a peças de arquitetura sacra, tendo por represente mais célebre Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho (1730-1814).

Essa imersão é proporcionada ao leitor que chega ao fim das 365 páginas do livro "Esplendor do Barroco Luso-brasileiro", rico em referências visuais e com farta fonte bibliográfica. Escrito por Benedito Lima de Toledo, professor titular de História da Arquitetura da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (FAU/USP), a publicação é fruto de pesquisa do autor que, num tom didático, dá a impressão de estar ministrando uma aula sobre o tema. O livro é baseado em rigoroso estudo, no qual aparecem importantes nomes de estudiosos sobre o tema, tanto brasileiros quanto estrangeiros, tudo pontuado pela impressões da vivência acadêmica e de conhecimento no campo da Arquitetura do autor. Os estudos apresentados no livro, que têm a função também de preencher uma lacuna no campo dos estudos sobre a arte do Brasil colonial, foram realizados no País e em Portugal.

Dividido em 17 capítulos, além de rico material fotográfico, mapas e desenhos, a obra inicia falando sobre as teorias acerca do Barroco, traçadas por estudiosos brasileiros e estrangeiros. Toledo discorre sobre a "periodização" do estilo, sempre fazendo ligação com a Arquitetura, como quando fala sobre a morfologia das cidades, a contribuição dos Jesuítas no Brasil, destacando as ordens religiosas Franciscana e Beneditina, sem deixar de lado a azulejaria e o Rococó em Minas. "Mas é surpreendente que a realização mais perfeita deste Rococó português acontece no Brasil e não na Metrópole e que seja devida a um mestiço", reconhece o historiador de arte francês Germain Bazin, fazendo referência ao Barroco mineiro, em especial à obra considerada uma das mais importantes produzida pelas mãos de Antônio Francisco Lisboa, a Igreja de São Francisco de Assis, de São João Del Rei, em Minas.

Aleijadinho

A obra dedica um capítulo a Congonhas do Campo (MG), destacado a semelhança entre as cidades mineiras com as do Norte de Portugal. Congonhas do Campo ostenta a principal obra de Aleijadinho, o grupo de profetas, em pedra-sabão. "Ninguém fica indiferente ao percorrer esse conjunto, legítimo patrimônio espiritual do povo brasileiro", escreve Toledo. O autor não partilha das críticas feitas ao trabalho do gênio do barroco brasileiro.

A arquitetura de Goiás também é contemplada, assim como a pintura, fazendo referência a Manuel da Cunha Ataíde, que juntamente com Aleijadinho são os principais destaques da arte barroca brasileira. O último capítulo do livro é reservados aos principais ceramistas da era colonial: os frade Agostinho da Piedade e Agostinho de Jesus.

Quanto ao aspecto da escassez de estudos sobre a arte colonial brasileira, assunto destacado pelo autor, ao afirmar que a pintura pernambucana foi pouco estudada, responde: "Tenho a convicção de que a obrigação de qualquer professor universitário é produzir conhecimento e estimular os estudantes a ingressar nessa tarefa". É possível identificar que faltam estudos também sobre a pintura baiana, do período.

Ao lado de estudiosos como o mineiro de Belo Horizonte Affonso Ávila ("Iniciação ao Barroco Mineiro") e Lourival Gomes Machado ("Barroco Mineiro"), citados no estudo, Benedito Lima de Toledo ajuda a escrever mais um capítulo sobre a história desse importante momento da arte brasileira - reconstituindo as importantes ligações com a produção ibérica do período. Para ele, ao início do estudo da arte no Brasil colonial "é necessário considerar-se, preliminarmente, a necessidade de se estabelecer uma cronologia".

IRACEMA SALESREPÓRTER
Diário do Nordeste

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