28/02/2013

Novo pontífice será eleito antes da Páscoa, diz cardeal


O sucessor de Bento XVI deve ser anunciado até meados de março para comandar a liturgia da Semana Santa 

Lima. O sucess
or de Bento XVI será eleito antes do feriado da Semana Santa, 28 e 29 de março, informou, ontem, o cardeal peruano Juan Luis Cipriani, um dos 115 eleitores no conclave papal que começa em março. 

“A eleição irá ocorrer certamente antes da Semana Santa, e assim penso que será”, disse sem titubear Cipriani, de 69 anos, em declarações por telefone à rádio peruana “RPP” de Roma. “As reuniões de coordenação não começaram e ainda não foi decidido quando o conclave começará, mas espero claramente que antes da Semana Santa tenhamos conosco o novo Santo Padre”, reiterou Cipriani, único cardeal do Opus Dei na América Latina.

Aparentemente, o objetivo do Vaticano é que o novo papa seja eleito até meados de março e entronizado antes do Domingo de Ramos, em 24 de março, de modo a poder comandar as cerimônias da Semana Santa.

“Peço ao Espírito Santo que nos ajude”, afirmou o também Arcebispo de Lima e um dos homens da Cúria romana próximo ao cardeal Tarcisio Bertone, número dois do Vaticano e braço direito de Bento XVI.

O cardeal peruano admitiu que a Igreja Católica se encontra “em um momento muito importante”, embora tenha evitado pronunciar a palavra crise e enumerar os desafios deste grupo religioso no âmbito da eleição do novo papa. 

“Estamos em um momento muito importante. Não podemos esconder as muitas circunstâncias que tornam mais difícil a tarefa (da eleição) do Santo Padre, mas nenhuma delas nos leva a ter pouca fé”, afirmou Cipriani sem entrar em detalhes. O cardeal ultraconservador afirmou que “a Igreja é uma instituição humana e divina. A divindade está na fé e a parte humana nos leva a trocar ideias” entre os cardeais nos dias anteriores ao conclave.

De acordo com o religioso, os próximos dias serão aproveitados para poder conhecer melhor a situação da Igreja e, em especial, de Roma, para tentar encontrar a melhor solução na eleição.

Normalmente, o conclave deve começar entre 15 e 20 dias depois que for declarada a “sé vacante”, que neste caso terá início hoje às 20h locais (16h de Brasília), mas o papa expressou seu desejo de adiantar a data, sem fixá-la formalmente.

Presença massiva

A maior parte dos cardeais aptos a escolher o sucessor de Bento XVI estava na praça de São Pedro para a audiência final do papa. Também estiveram presentes os cardeais com mais de 80 anos, que não podem participar do conclave, mas que vão tomar parte das discussões, na semana que vem, sobre os problemas enfrentados pela Igreja e as qualidades necessárias ao novo papa.

Funcionários do Vaticano disseram também que os cardeais se reunirão na segunda-feira para decidir a data do início do conclave. Nas últimas duas semanas, os cardeais já realizam consultas informais por e-mail e por telefone.

Cinco cardeais brasileiros participarão da eleição: dom Odilo Scherer, arcebispo de São Paulo; dom Cláudio Hummes, prefeito emérito da Congregação para o Clero; dom Geraldo Majela Agnello, arcebispo emérito de Salvador, dom Raymundo Damasceno, arcebispo de Aparecida (SP) e João Braz de Aviz, ex- arcebispo de Brasília.

Durante o conclave, os votantes são mantidos isolados, sem contato externo. Há toda uma supervisão e um esquema de segurança para que isso ocorra. [TEXTO]O único contato da eleição secreta com o mundo exterior será através da chaminé da Capela Sistina, onde a cor da fumaça vai evidenciar se o mundo católico já tem enfim um novo líder.

Os únicos cardeais que votam são aqueles que ainda não chegaram aos 80 anos. A reunião que definirá o nome do sucessor do cardeal alemão Joseph Ratzinger será conduzida por um bispo que conhece bem o Brasil e que já viveu no País: o atual secretário da Congregação para Bispos, dom Lorenzo Baldisseri, de 72 anos, que foi núncio apostólico no Brasil entre 2002 e 2012.

Conhecedor do Brasil

Por ocupar o cargo de secretário do Colégio Cardinalício, Baldisseri também assumirá a função de secretário do conclave. Segundo a Constituição Apostólica Universi Dominici Gregis, que determina como deve ser feita a eleição do novo papa, é o secretário do Colégio Cardinalício que desempenha as funções de secretário da Assembleia Eleitoral.

Nas Américas, além do Brasil, Baldisseri conhece bem o Paraguai, o Haiti, a Guatemala e El Salvador, onde já viveu. Também teve experiências na África, pois morou em nações como Moçambique e Zimbábue.

O único brasileiro que chegou a ocupar a função de secretário do Colégio Cardinalício foi o cardeal Lucas Moreira Neves (1979-1987), que morreu em 2002. Entretanto durante o seu mandato não foi realizado nenhum conclave. Moreira Neves foi arcebispo metropolitano de Salvador (BA), e primaz do Brasil, nomeado pelo então papa João Paulo II.

Perfil conservador deve permanecer

O foco imediato do novo papa deve ser a restauração da credibilidade da Igreja diante de tantos problemas que ela enfrenta atualmente Foto: Reuters

O novo pontífice, que será eleito nos próximos dias pelo colégio de cardeais, deve seguir uma postura tradicionalista semelhante à de Bento XVI. De acordo com os especialistas em Igreja Católica ouvidos pelo Diário do Nordeste, dos candidatos que concorrem à vaga de líder da Santa Sé, a maior parte tem um perfil conservador.

“Dos cardeais hoje existentes, parte significativa segue a mesma postura conservadora e autoritária de Ratzinger. Apesar dos debates acalorados da imprensa, não acredito em mudanças significativas”, avaliou o professor da pós-graduação em Educação da Universidade Metodista de São Paulo e pesquisador de História da Religião, Thiago Borges de Aguiar.

O estudioso defende que a idade é uma questão primordial para a escolha do sucessor de Bento XVI. O papa que renuncia hoje foi eleito aos 79 anos e decidiu deixar o cargo porque não tinhas mais “forças” para conduzir a Santa Sé. Segundo Thiago, um pontífice com vigor físico pode ser essencial para exercer um papado mais longo e imprimir seu legado. “Talvez um papa que fique mais tempo no trono possa deixar sua marca”, avaliou.

Embora a idade seja uma questão fundamental, ela não é o único requisito que deve ser levado em conta para a eleição do sucessor de Joseph Ratzinger. A nacionalidade continua a ter seu peso, prevalecendo no conclave o “lobby” dos cardeais europeus. De acordo com o pesquisador da Universidade Metodista, são poucas as chances de o novo pontífice ser da América Latina, decisão que agradaria a região onde a Igreja Católica possui o maior número de fiéis.

“Os europeus são tradicionalmente centrados em si mesmos. O Vaticano, então, nem se fala. A imensa maioria dos papas do último milênio era de origem italiana. Vejamos o andamento do conclave. Se elegerem um europeu não-italiano, já será uma grande renovação”, observou.

Para o coordenador do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Religião da Mackenzie (SP), Rodrigo Franklin de Sousa, o foco imediato do novo papa deve ser a busca pela restauração da credibilidade da Igreja diante de tantos problemas que a tem afetado em anos recentes. 

Segundo ele, o sucessor de Bento XVI deve encontrar uma identidade católica em um mundo plural, conter a perda de fiéis, buscar integrar as comunidades católicas em lugares onde o catolicismo tem se desenvolvido, como a África, encontrar formas de ser relevante e se comunicar com o mundo contemporâneo, além de resolver os problemas internos como a corrupção e a pedofilia. “Os dois últimos papas têm um histórico com resultados ambíguos em todas estas áreas. Será difícil encontrar alguém que possa ser bem sucedido em todas elas”, avaliou.

Julianna SampaioRepórter 
Diário do Nordeste

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