Paulo
Roberto Cândido*
O Carnaval
passou, a fantasia voltará a ficar quieta e as baterias descansarão
silenciosas nos barracões. Quantos olhos viram as alegorias? Quantas mãos
acompanharam os sambas? Quantas vozes repetiram os refrões hipnotizadores?
Quantas pernas, joelhos e tornozelos ainda conseguem ir atrás dos Trios? Atrás
do trio elétrico só não vai quem já morreu para a folia desmedida e ilusória. É
um pensamento de folião consciente em quarta-feira
de cinzas. Quantos ainda estão lúcidos para compreenderem isso?
Quem usou
máscaras o que pretendia dizer? Quem não usou muita roupa o que pretendia
mostrar? Quem participou da turma do funil
de que pretendia se inebriar? Enfim, o que quiseram de verdade
nestes dias de carnaval? Extravasar alegria ou fantasiar
a melancolia? Talvez seja preferível ser um súdito de Momo, a
ser regido pelos Reis da corrupção.
Quanto riso,
quanta alegria, mais de 190 milhões de palhaços nos porões, sem darem conta do
que se faz nas cortes e nos salões. Reis sábios não querem que o
povo veja o sol, por isso, enchem os porões com sabores
inebriantes e melodias magnetizantes.
Alguém viu o
bloco dos coerentes passar? Alguém explicou o sentido dos enredos
da vida? Quem irá agora descompassar os corações que ficaram quatro dias no
compasso de uma única alegria? O surdo na marcação do esquecimento,
o tamborim na batida do dissolvimento, as caixas no ritmo do
confinamento; Corações foliões esquecidos da
realidade, razões dissolvidas em alas, esperanças confinadas sem a
harmonia da evolução. Lá vem a bateria da mocidade inconsequente,
não existe mais indiferente,
não existe mais indiferente.
não existe mais indiferente.
Não pensem
que eu não goste de carnaval, o que faço é pular com as vibrações
do que eu acredito beber sem que a ressaca faça folia no dia seguinte, me
fantasiar sem que a minha identidade se torne uma ilusão, acompanhar
as músicas da temporada sem desfazer o meu acervo cultural construído
pelas belas composições do passado. Brinco
com a alma carregando o estandarte da Paz e as retinas
observando as cenas da unidade, destas que colocam ricos e
pobres, brancos e negros, homens, mulheres, crianças e idosos
na Escola de Samba Unidos da Felicidade sem fronteiras.
Como é bom
enxergar o DNA da igualdade desfilando pelas praças
e ruas de um País bonito por natureza e rico por
insistência. Quanto pilantra, quanta raposa, mais de 300
picaretas roubando sem precisar usar máscaras negras; São os Acadêmicos
das Alianças sem Pudor. Mas cada Escola que passa, cada Trio que toca faz o
povo querer Carnaval o ano inteiro, assim, ninguém terá tempo para discutir o
que se faz por debaixo dos panos e dos pratos, aqueles que o arquiteto
desenhou para o nosso Congresso.
O Carnaval
passou, o mensalão passou, o bloco dos sujos não passou, continua feliz concentrado
na apoteose do poder, escrevendo o enredo das cinzas, que cairão como confetes
nas cabeças tontas dos loucos por paredões de
sons e caminhões repetidores da mesma melodia,
que nem percebem que a alegria verdadeira não precisa de Carnaval para
botar o seu bloco na rua.
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