03/03/2013

As duas faces da moeda


Mundo
Texto Opinião | Francisco Sarsfield Cabral, jornalista | Foto Ana Paula | 02/03/2013 | 15:06
Francisco Sarsfield Cabral
Nos últimos seis meses o pessimismo em torno do euro diminuiu consideravelmente. Percebeu-se que a Alemanha não deixaria cair a Grécia, que vai continuar na moeda única por muito má que seja a sua situação económica
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E os especuladores, que apostavam na baixa dos títulos da dívida pública de países como a Espanha e a Itália, suspenderam os seus ataques. O motivo principal foi a posição do governador do Banco Central Europeu, Mario Draghi, que em agosto garantiu que faria o que fosse preciso para salvar o euro.

Portugal beneficiou desta acalmia. Mas também fez por isso: foi aprovado em seis sucessivos exames da “troika” ao processo de ajustamento, tomou medidas duras e impopulares de austeridade, privatizou com êxito algumas empresas, etc.

Assim, nos mercados e nas instâncias internacionais, Portugal deixou gradualmente de ser encarado como um país indisciplinado e gastador, para ser visto como merecedor de confiança. Por isso os juros da dívida portuguesa desceram consideravelmente. E foi possível fazer uma emissão de dívida a cinco anos a juro razoável e com forte procura estrangeira.

O que ganham as famílias portuguesas com isso? Diretamente e no imediato, nada. Indiretamente e a prazo, a economia portuguesa poderá ter mais financiamento externo e mais crédito bancário, logo mais investimento e emprego.

Mas esta é só uma parte da história. Se no plano externo as coisas correram bem, no plano interno nem por isso. Sempre teria que haver recessão em Portugal por causa das medidas restritivas para reduzir o défice das contas públicas. Mas a recessão está a revelar-se mais profunda do que o governo e a “troika” esperavam, não podendo honestamente prever-se quando voltará o crescimento económico.

O mesmo se diga do desemprego, primeira consequência da recessão, cuja rápida subida parece ter surpreendido os governantes e a “troika”. O governo tem-se enganado, por excesso de otimismo, nas previsões que faz. Incluindo as previsões quanto ao volume de receita fiscal arrecadada; esta, em vez crescer com a subida dos impostos, tem vindo a diminuir.

É fácil dizer que o problema se resolve com crescimento económico. Difícil é saber como se chega lá, como e quando se dará a viragem na economia portuguesa. O seu principal e quase único “motor”, as exportações, mostraram grande vitalidade nos últimos anos, mas começaram a cair no final de 2012.

A razão é simples: os países para onde exportamos bens e serviços estão com a economia em queda, ou pelo menos estagnada, pelo que nos compram menos. Acontece sobretudo na Europa, mas não só. Os próprios países ditos “emergentes”, em particular o Brasil, abrandaram o seu crescimento.

E Espanha, o nosso único vizinho terrestre e hoje o nosso primeiro cliente, encontra-se em recessão. Sendo que uma possível crise política em Madrid poderá afectar ainda mais os nossos exportadores, a começar pelo turismo.

Existem, portanto, duas faces na moeda: a positiva e a negativa. Sendo que a primeira acabará por ser influenciada pela segunda. Muito depende do exame da “troika” no final de fevereiro. Escrevo antes de ele começar e não arrisco prognósticos. Direi apenas que Portugal precisa da Europa para sair do buraco.

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