02/03/2013

ENQUETE JORNAL O POVO DESTE DOMINGO DIA 03/03/2013

 Haverá um enfraquecimento da religião católica?

AÍLA LUZIA PINHEIRO DE ANDRADE

Membro do Instituto Religioso Nova Jerusalém e doutora em Teologia Bíblica


Os escândalos foram nos EUA e em alguns países da Europa, fatos amplamente divulgados pela mídia. Isso enfraquece o testemunho dos católicos porque a mídia os generaliza como se fossem erros da igreja inteira. Não vejo como a renúncia do papa poderia enfraquecer o catolicismo. Os católicos seguem um homem que foi crucificado. A cruz significa o maior sinal de fraqueza e significa que Jesus não entrou nem saiu desse mundo com pompa e glória, mas em situações que demonstram a fragilidade humana. Não sei como a renúncia de um chefe de Estado e líder religioso, devido ao reconhecimento das próprias limitações, poderia enfraquecer o catolicismo. A renúncia do papa significa que as debilidades dele são físicas e não mentais, pois é um ato de lucidez. E se isso choca o mundo, é porque estamos acostumados a ver o apego ao poder, quando pessoas corruptas chegam aos mais altos escalões políticos à custa de corrupção e de desonestidade.
FRANCISCO DE AQUINO JÚNIOR 
Presbítero da Diocese de Limoeiro do Norte e professor na Faculdade Católica de Fortaleza
A renúncia do papa provocou um grande debate público sobre o presente e o futuro da Igreja Católica. Muitas questões têm vindo à tona nos últimos dias: escândalos de pedofilia e disputas de poder na Cúria romana; relações de poder dentro da Igreja; sexualidade; relação com as outras igrejas cristãs e as outras religiões; diálogo com diferentes grupos e diferentes posições em torno da vida coletiva; compromisso com a justiça e os direitos dos pobres e excluídos etc. Alguns acham que isso é mais uma tentativa de atacar e destruir a igreja; outros, que isso levará ao seu enfraquecimento. E pode ter algo de verdade nisso. Penso, no entanto, que é uma grande oportunidade para retomar o diálogo sobre a identidade e a missão da Igreja no mundo, iniciado no Concílio Vaticano II, freado e mesmo interrompido nas últimas décadas. Ela deve ser “sinal e instrumento” do reinado de Deus neste mundo, estando sempre a serviços dos pobres, oprimidos, excluídos e fracos, da justiça e da paz.

RITA CÉLIA FAHEINA

Jornalista e ministra da Sagrada Comunhão 


É tempo de mudança e reflexão, mas não de enfraquecimento. Bento XVI foi corajoso e coerente ao renunciar. Causou surpresa, porque não somos acostumados a ver um papa deixar o cargo em vida. Ele reconheceu que não tem mais condições de pastorear mais de um bilhão de ovelhas (cerca de 123 milhões no Brasil). O papa (atual beato) João Paulo II era carismático, mas, nos últimos anos de vida, já não tinha condições de administrar a Igreja e deixou pendências: denúncias de casos de pedofilia, problemas do Banco do Vaticano, dificuldades internas. Precisamos agora de um pastor com vitalidade, poder de decisão, forte na fé. Um católico não enfraquece com os problemas que surgem. Palavra de origem grega, católico significa “totalidade” e não devemos viver a fé pela metade. Lembro do querido dom Aloísio Lorscheider quando lhe perguntaram por que a Igreja Católica perde fiéis. Firme, respondeu: “Engano seu. Os fiéis continuam conosco. Estamos perdendo os infiéis”.
Brendan Coleman Mc Donald

Padre redentorista e assessor da CNBB Regional Nordeste I 


Faço uma distinção entre o “catolicismo”, um fenômeno sociorreligioso e o complexo de crenças em verdades reveladas, de doutrinas, de normas e de concretização das crenças e normas de comportamento, e a instituição chamada “Igreja Católica”. O catolicismo não foi atingido pelos abusos sexuais, mas a instituição foi enfraquecida. Na Europa há um notável número de católicos não frequentando mais a Igreja. As palavras do Bento XVl são suficientes para mostrar isso: “Nestes anos, vimos que há discórdia nas vinhas do Senhor, vimos que na rede de Pedro também há peixes maus, que a fragilidade humana existe até mesmo na Igreja”. Sobre escândalos no Vaticano não temos acesso aos dados. Não seria prudente nem justo comentar isso. Faço minhas as palavras do Bento XVl proferidas na Praça de São Pedro na sua última aparição pública a milhares de fiéis: “Deus não deixará afundar a Igreja, mesmo em águas agitadas”.
TERESA FERNANDES

Repórter do Núcleo de Negócios do O POVO e membro do grupo de oração do Shalom 


Não. Nós, católicos, não vislumbramos nem tememos um enfraquecimento de nossa fé. A Igreja Católica é uma instituição milenar e sólida. Há hierarquias que poderão tranquilamente coordenar os trabalhos no Vaticano enquanto o conclave elege o novo papa. Nós, católicos, somos gratos a Bento XVI por seu pontificado e pela sua coragem de renunciar para que outro papa assuma a condução da Igreja. Não acredito que a renúncia tenha relação direta com as denúncias em torno do Vaticano, já que coragem e sapiência nas decisões, no falar e na escrita não faltam a Bento XVI. A cada tempo, Deus tem conduzido a Igreja. Deu sabedoria e coragem para enfrentar a fúria dos romanos logo no começo de sua existência e dará também discernimento para resolver qualquer situação. Certamente, se há erros e culpados, eles serão tratados como convém de acordo com as leis da Igreja e com o direito.
Ivan de Souza
Pároco da Igreja Nossa Senhora de Fátima
A renúncia do papa foi um choque em duas dimensões: espiritual e afetiva. Espiritual porque, na pessoa do papa, sentimos a presença de Cristo e da Igreja. Como bispo de Roma, ele é, para a Igreja no mundo, sinal de Unidade e Comunhão. Ele não é um presidente, mas um bispo que forma um Colegiado. Uma dimensão afetiva porque já havia uma grande aproximação com catequeses; posturas firmes e serenas na condução da Igreja. Ocupar o lugar de João Paulo II deve ter sido muito difícil. Sua atitude na disciplina sobre vocações e ministérios na Igreja exigiu um cuidado maior tanto dos candidatos ao Sacerdócio como no assumir a Evangelização. A renúncia não enfraquece; fortifica a Igreja. Bento XVI deixa um grande legado e desafio: amar a Igreja significa também ter a coragem de tomar decisões dolorosas, sempre mantendo o bem da Igreja em mente, e não o próprio. O Ministério do papa é maior do que a pessoa dele. O papa desvincula autoridade de poder.

O Povo

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