23/03/2013

Previsão ainda é maior para as chuvas abaixo do normal


No terceiro prognóstico do ano, dados da Funceme reafirmam maior possibilidade de mais um ano de seca

Fortaleza. Pela terceira vez consecutiva, a Fundação Cearense de Meteorologia divulga prognóstico, em que as possibilidades são bem maiores para chuvas abaixo do normal. Para o período de abril, maio e junho, os percentuais de 25%, 35% e 40% são respectivamente, para as categorias chuvosas acima do normal, normal e abaixo do normal, repetindo assim as previsões anunciadas em fevereiro.

As precipitações ocorridas nestes dias não têm alterado a recarga dos açudes, como o Jaibaras, onde o volume de água é garantido pelo Taquaras FOTO: JÉSSYCA RODRIGUES

Após nova reunião mensal de avaliação climática para o Nordeste, desta vez realizada nos dias 20 e 21 de março, em Recife, as análises dos meteorologistas não têm sido diferente desde janeiro passado, quando houve o primeiro prognóstico. Naquele mês, os dados apresentaram percentuais de 20%, 35% e 45% para as chuvas, respectivamente, acima do normal, normal e abaixo do normal.

Ontem, os dados foram referente aos dois últimos meses da quadra chuvosa no Estado (abril e maio) e o primeiro mês da pós-estação (junho). Além de serem mantidas os indicadores de poucas chuvas no Estado, com a previsão de maior probabilidade de chuvas abaixo da normal. As chuvas que caíram nos últimos dias são consideradas como insuficiente para alterar na recarga dos açudes.

As informações foram prestadas por técnicos do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), do Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Cptec/Inpe), da Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (Funceme) e dos núcleos de meteorologia dos Estados no Nordeste, que não consideraram significativas as mudanças das condições atmosféricas e oceânicas, comparadas com às do mês passado.

Desfavoráveis

A meteorologista Dayse Moraes explicou que as condições desfavoráveis são decorrentes do afastamento da Zona de Convergência Intertropical, que é o principal fenômeno a atuar na estação chuvosa no Nordeste.

Ela explicou que as precipitações verificadas nos últimos dias são consequência da atuação de um sistema meteorológico chamado de Vórtice Ciclônico de Ar Superior, que se encontra influindo sobre a região, embora influindo mais nos Estado do Pará e Maranhão.

Das 19 horas da quinta-feira passada até ontem choveu em 37 cidades, sendo que a maior precipitação aconteceu em Brejo Santo, com 42 mm; Jati e Brejo Santo, com 27 mm; e Missão Velha, com 21 mm. Em Fortaleza, houve registro de apenas 3mm, mas na Região Metropolitana, ocorreram 10mm no Eusébio . Segundo a Funceme, o Ceará permanece sob a influência de um Vórtice Ciclônico que deverá deixar o céu parcialmente nublado a claro com possibilidade de chuvas isoladas na faixa litorânea, sul e Ibiapaba. Para este fim de semana, a previsão é chuvas isoladas na faixa litorânea, conforme informou Dayse.

A meteorologista disse que há ainda a possibilidade da atuação da Zona de Convergência Intertropical, nos meses de abril ou meados de maio, apesar das condições sobre o Oceano Atlântico se apresentarem neutras

De acordo com a Funceme, houve registro de boas chuvas entre os dias 15 e 20 de fevereiro, por consequência de um Vórtice que atraiu a Zona de Convergência para o Estado. Agora, em março, outro vórtice favoreceu a ocorrência de precipitações até intensas nos dias 19, 20 e 21. Esses sistemas são típicos da pré-estação (dezembro e janeiro), mas podem atuar durante a quadra chuvosa.

Reservatórios

Segundo a assessoria a Companhia de Gestão e Recursos Hidricos (Cogerh), o Estado está com 40% da reserva total dos aludes monitorados pelos órgão. Perdeu 30% de sua reserva em relação ao ano passado até janeiro deste ano. O Ceará tem capacidade de reserva de 18 bilhões de metros cúbicos, porém conta hoje com apenas 8 bilhões de metros cúbicos. Possui 76 açudes com menos 30% da capacidade.

O Açude Ayres de Sousa, em Sobral no Distrito de Jaibaras, é um dos poucos exemplos isolados no Ceará. O reservatório ainda detém uma reserva significa acima de 80%, em função da recarga que recebeu do Açude Taquara, na Zona Norte.

De acordo com um dos trabalhadores da criação de tilápias, José Braga, hoje o reservatório se encontra em um volume constante, e as chuvas recentes não influenciaram no abastecimento. "Desde abril do ano passado e devido as cargas recebidas, o nível se mantém quase o mesmo. Apesar das chuvas, não houve variação, pois a maior parte dela acaba evaporando", explica.

José Braga teme pelo segundo semestre caso não tenham mais chuvas. "Recebemos água dos outros açudes para manter o Jaibaras, mas o que acontecerá se esses açudes secarem?".

Mais informações:

Funceme
Avenida Rui Barbosa, 1246 - Aldeota, Fortaleza
Telefone: (85) 3101.1088

MARCUS PEIXOTO
REPÓRTER

Agricultores retornam ao plantio no Interior

O pequeno produtor Cícero Joaquim dos Santos plantou milho e feijão em uma área de duas tarefas. Ela está otimista e acredita que, como choveu no Dia de São José, o inverno está garantido FOTO: ROBERTO CRISPIM

Missão Velha Com as chuvas que caem na maioria dos municípios do Estado, muitos agricultores retornam ao campo para realizar, em alguns casos, o replantio das culturas do milho e feijão, na expectativa da continuidade das precipitações e de uma colheita produtiva, diferentemente do que ocorreu no ano passado, devido à estiagem.

A esperança também é fruto da fé depositada no padroeiro do Ceará, São José, que segundo os agricultores, é o responsável pela mudança climática e pelas chuvas que começam a molhar a terra. "Eu rezei muito pedindo pra São José mandar chuva. E ele ouviu minhas preces. Desde terça-feira que chove. A terra já está molhadinha e nós já começamos a plantar milho, feijão e arroz", diz a agricultora Ivoneide Pereira de Morais, residente na localidade de Iborepi, na zona rural de Lavras da Mangabeira.

O plantio foi feito em cerca de três tarefas e, segundo ela, havendo manutenção das precipitações, a colheita será favorável. "A gente plantou tarde. Aqui se planta a partir do mês de janeiro. Como não choveu no início do ano, só deu pra plantar agora. Mas, se a chuva continuar a molhar o chão, a colheita estará garantida", explica.

Em Jamacaru, distrito de Missão Velha, a chuva também renovou o ânimo dos agricultores. Para o agricultor José Feliciano, o inverno será melhor que o do ano passado. Na visão do rurícola, a chuva caída no Dia de São José comprovaria a configuração da quadra invernosa.

"Aqui todo mundo acredita que foi São José quem mandou a chuva", diz, com sorriso no rosto. Neste ano, ele plantou milho, feijão e capim sorgo. Afirma que a expectativa é o milho já poder ser colhido no mês de junho. "A esperança é que já se tenha pamonha e canjica na festa de São João e São Pedro. Se a chuva continuar, vamos ter uma grande festa por aqui", comemora.Na região de Várzea de Pedra, distante cerca de 2km da sede do município de Aurora, o agricultor José Constantino da Silva Neto, plantou cerca de seis tarefas de milho e capim. "Eu não plantei feijão este ano porque acredito que já esteja tarde para o plantio da cultura. Mas milho e capim não deixei de plantar", diz.

Constantino é outro sertanejo que acredita ser de São José a graça pelas chuvas que estão molhando a região. "São José não falhou no dia dele. E ele vai continuar mandando chuva, se Deus quiser", profetiza. Ele espera colher neste ano cerca de 70 sacas de milho. O peso de cada saca é de 60 quilos. "Se o inverno continuar, dá pra colher uma boa safra", aposta.

Outro que também divide a expectativa de boa safra é o agricultor Cícero Joaquim dos Santos, que plantou milho e feijão em uma área de aproximadamente duas tarefas. "Não vai mais parar de chover. São José já colaborou, e vai colaborar mais ainda. Esse ano vai ter milho e feijão no nosso Ceará", avalia.

Além da condição para o plantio, as chuvas trazem também certo acalanto em relação à problemática vivida pelos animais. Em algumas regiões, devido às precipitações, já é possível perceber o gado pastando.

"Ainda é ralinho. Mas o mato vai crescer e haverá como alimentar o gado", diz o agricultor. Segundo ele, devido à estiagem, muito animais morreram de fome e de sede. "Dá pena olhar o animal definhando, devido à falta de água e pasto. Tomará que as chuvas continuem, que São José nos abençoando e que não falte água nem pra roça nem pra criação", espera.

ROBERTO CRISPIMCOLABORADOR 
Diário do Nordeste

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