03/03/2013

REFLETINDO SOBRE O EVANGELHO


Terceiro Domingo da Quaresma

 Pe. Raimundo Neto*

No evangelho de hoje (Lc. 13,1-9), meditamos a parábola da figueira. Esta parábola ilustra a paciência divina com o pecador. Por sugestão do vinhateiro, o dono da vinha poupa a figueira por três anos. Se, até lá, não produzisse frutos, seria cortada. A mesma sorte está destinada ao discípulo do Reino. É impelido a converter-se e a produzir frutos dignos de quem coloca em Deus o seu coração. Deus, na sua infinita paciência, não se recusa a esperar até a pessoa deixar de lado a maldade e o egoísmo. Chega, porém, um momento em que não é mais possível esperar: é a hora da morte corporal. Quem, até o fim, se recusa a converter-se será cortado como a figueira e terá sorte pior do que a das vítimas da violência e da fatalidade do passado. A prudência aconselha o discípulo à não tardar em voltar-se para Deus.

O evangelho faz-nos um forte apelo de conversão, tema propício para o tempo litúrgico que estamos vivendo: a quaresma. Conversão é mudança de rumo na vida. É tarefa de cada dia da nossa vida. Essa mudança deve ser já, hoje, agora; amanhã poderá ser tarde demais. Todos temos necessidade de mudança, de conversão. Ninguém pode considerar-se totalmente convertido, pois a conversão é um processo na caminhada cristã. A parábola da figueira diz que o dono foi buscar frutos na figueira, mas não encontrou. Uma mudança de conversão começa no coração, na produção de frutos. Os frutos são o resultado de nossa conversão. Deixar a figueira infrutífera, mais um ano, significa dar mais uma chance, uma oportunidade. Devemos ser pacientes e esperar frutos das pessoas, e não querer excluí-las da caminhada logo no primeiro erro. Deus, em Jesus, dá sempre uma última chance.

Estamos vivenciando a Campanha da Fraternidade. Ela nos mostra a água como dom precioso de Deus e indispensável à sobrevivência dos seres vivos e da humanidade.

Estamos longe da concepção de São Francisco de Assis da irmã água "útil e humilde, preciosa e casta". Hoje ela se transformou em fonte de luta, de batalhas comerciais, de interesses, alguns verdadeiros, outros espúrios. À água veste-se de muito simbolismo religioso. Na Bíblia, aparece a água na dupla valência de morte e vida. No dilúvio a água significa a morte e limpeza de toda a maldade. Mas dessa destruição surge o ramo verde de vida que o pássaro traz no seu bico. Deus estabelece a aliança noática, prometendo que nunca mais destruirá a humanidade pela água.

À água é um dom especial do Deus Criador à sua criação, especialmente ao ser humano. A pessoa, desde a concepção até o final de sua vida, está toda envolvida por esse líquido precioso. Nós somos água. 70% do nosso corpo adulto é de água. 90% do corpo de um bebê é de água. A natureza necessita de água para se manter viva e a pessoa precisa da natureza e da água para uma vida de qualidade. E para os cristãos, além do lado humano, vital, a água é rica de simbolismo religioso e teológico: ela purifica, no sacramento do batismo e nos sacramentais; as gotas d'água acrescentadas ao vinho, na eucaristia, simbolizam a humanidade de Jesus. À água é mais de que um recurso hídrico. É vida como todas as suas ressonâncias simbólicas de fecundidade, renascimento e purificação. A Igreja no Brasil quer com essa Campanha ser uma ajuda, uma educação e evangelização, uma conjugação de esforços e solidariedade entre as pessoas.
Peçamos ao Senhor Jesus, que faça do nosso coração um aquífero de amor a Deus e ao próximo. Desejamos a todos uma profunda caminhada espiritual para a Páscoa.

*Pároco de São Vicente de Paulo     

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