13/04/2013

A hora do chavismo sem Chávez


O desaparecimento do ex-Presidente venezuelano, de 58 anos, em resultado de um cancro diagnosticado em 2011, foi preenchido por um conjunto de gestos destinados a assegurar a continuidade do chavismo sem Chávez.

As manifestações da emoção nas ruas, o estado de quase exceção que viveu o país, os discursos políticos, os gestos de expulsão de diplomatas norte-americanos, agitando a ideia da ameaça estrangeira, a tentativa inicial de embalsamar o corpo e a rápida investidura de Nicolás Maduro como Presidente interino visaram criar um clima nacional de unânime consternação em torno do futuro político do país, destinado a manter o elã para a eleição do novo Presidente da Venezuela. A preocupação política com o vazio deixado por Chávez ficou já patente aquando das polêmicas cerimônias de posse do então Presidente eleito, realizadas quando este continuava os seus tratamentos em Cuba.

As promessas de fidelidade ao ex-Presidente e a ideia sugerida por Nicolás Maduro de que a mão de Chávez terá influenciado a eleição do cardeal argentino Jorge Mario Bergoglio para Papa são a expressão máxima da tentativa de transformar o chavismo numa religião. Na realidade, a ideia de que o espírito do ex-Presidente venezuelano está presente em tudo o que acontece no país poderá ser a imagem da marca profunda do seu legado.

O peso do mito
O Presidente venezuelano, que liderou o país durante 14 anos, ficará conhecido pelas reformas sociais na área da saúde, no combate à pobreza extrema e ao analfabetismo. Estas políticas estão na base do populismo do Partido Socialista Unido da Venezuela, considerado o maior partido socialista da América Latina, com cerca de 5,7 milhões de membros. As políticas sociais realizaram-se através de uma política autoritária, do reforço do papel do Estado e graças aos recursos do petróleo. 

Mas a Venezuela continua a enfrentar desafios importantes em resultado da crise econômica que afeta o país e que está a minar as necessidades de investimento para o desenvolvimento e as reformas sociais em curso.

Será duvidoso imaginar a mão de Chávez na eleição do novo Papa. Mas, certamente, que ela, ou o que resta da sua memória, será um apoio importante de Nicolás Maduro nas próximas eleições presidenciais. O que será mais difícil de prever é até que ponto o mito que agora emerge após a morte do ex-líder da Venezuela não se transformará numa presença demasiado pesada, se os próximos tempos não correrem de feição aos novos líderes políticos venezuelanos.


Fátima Missionária

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