Com ânimo para o novo, o baiano Caetano Veloso apresenta, na Capital, o show da mais recente turnê, "Abraçaço"
O show que Caetano Veloso apresenta, hoje, no Centro de Eventos, tem bem pouco a ver com o de sua última passagem pela cidade. Na festa de Réveillon de 2010/2011, o baiano fez uma performance solo, dueto de voz e violão, com um repertório centrado em canções mais conhecidas, com "Leãozinho" e "Você é linda". Na turnê de "Abraçaço", Caetano é ladeado pela BandaCê, grupo que o acompanha desde 2006. O repertório também é distinto: predominam canções mais recentes e outras, mais antigas, cuja escolha fogem ao óbvio.
Caetano Veloso: canções novas e releituras, acompanhado da BandaCê
FERNANDO YOUNG/ DIVULGAÇÃO
Não se deve esperar repetição de Caetano, um artista de caráter camaleônico. O eixo da apresentação é o disco "Abraçaço", lançado no fim do ano passado. O álbum de inéditas é a terceira produção de estúdio da parceria do cantor e compositor com a jovem BandaCê, formada por Pedro Sá (guitarra), Ricardo Dias Gomes (baixo e teclados) e Marcelo Callado (bateria e percussão).
Mesmo que integre uma fase - iniciada com "Cê" e alardeada como uma experiência roqueira do veterano -, "Abraçaço" (tanto o disco, como a turnê) também fogem ao esperado. Justamente porque os rótulos criados para definir a fase "Cê" não cabem mais. Foi o próprio Caetano quem falou em "transamba" e "transrock".
"Abraçaço" é um disco com identidade própria, com Caetano tentando uma nova transformação. Ele traz um reordenamento dos próprios elementos presentes em "Cê" e "Zii e Zie", os discos dessa fase remoçada do baiano. Há elementos de rock, samba e eletrônica, de uma dezena de outros gêneros, sem que seja possível definir as canções como pertencentes a este ou aquele.
Uma marca do disco, que acabou incorporada à turnê, é certa melancolia. "Um comunista", do novo trabalho, é exemplo deste tom, assim como "Lindeza", recuperada do disco "Circulandô". "Triste Bahia", do clássico "Transa" (1972), e a nova "Estou triste" escancaram este preferência por canções mais sombrias. "Alguém cantando" e "Quero ser justo" completam a coleção de música de beleza um tanto angustiada.
Outros tons
Caetano não deixa a melancolia de parte do repertório transformar o show em um espetáculo triste. Tanto que o setlist das apresentações feitas até agora na turnê guardam seus momentos de excitação (para não dizer dançantes).
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É assim, aliás, que a performance de Fortaleza deve começar, puxada por "A Bossa Nova é foda" (outra do disco de 2012); segue com o rock "Odeio" (de Cê"); e passa pela releitura da dançante "Eclipse Oculto" (de "Uns", 1981) até encerrar com "Outro" (também de "Cê").
Três canções tiradas do baú de Caetano prometem ser destaques no show. Uma é "A Luz de Tieta" (regravada por meio mundo da música baiana); outra é "Reconvexo", mais famosa na voz de sua irmã, Maria Bethânia; e "Você não entende nada", cujo primeiro registro na interpretação de Caetano é a versão ao vivo, do disco gravado em parceria com Chico Buarque de Hollanda, no começo dos anos 1970. São canções de grande força lírica, que devem aparecer com roupagens inspirados no momento "transtudo" do baiano e de seus jovens companheiros.
O novo no velho
Gostem ou não dele (ou, mais precisamente, de sua disposição de opinar sobre meio mundo de coisas), é um fato quase inconteste que Caetano Veloso é um dos grandes gênios da língua. Entre os autores da música brasileira, conquista facilmente seu lugar em um top5, sejam quem forem os outros quatro.
Não deixa de ser curioso que os versos que melhor o descrevem como artista tenham sido feitos em inglês. Canta Caetano na faixa de abertura do disco "Transa", de 1972: "You don´t know me/ Bet you´ll never get to know me/ You don´t know me at all". A canção integrou a turnê anterior, mas ficou de fora da atual, "Abraçaço", centrada no álbum homônimo, lançado no fim do ano passado. Mas Caetano dá um jeito de mandar o recado e inclui outra, apropriadamente chamada de "Você não entende nada" - que, por sua vez, remete ao discurso enfurecido contra as vaias que recebeu em 1968, em um festival de MPB. "Vocês não estão entendendo nada!", bradava um jovem compositor, talvez pouco acostumado a incompreensão que faz parte de seu show.
Caetano é daqueles artistas camaleônicos. Cada nova turnê é um novo espetáculo. Novo mesmo. Ele não costuma fazer a linha "the best of". Para ele, melhor é o novo. Em tempos de repetição da repetição da repetição, um artista que ousa de ser aventurar pelo novo é mais do que desejável: é necessário.
Fique por Dentro
Repertório: "Zii e Zie", o disco que não estava lá
Mais da metade do repertório do novo show de Caetano Veloso é composto por canções da fase BandaCê. Do novo álbum, "Abraçaço", entram dez músicas; de "Cê" (2006), outras três. Curioso que nas apresentações que fez até aqui, Caetano tenha deixado de fora todo o repertório do álbum "Zii e Zie", o segundo desta fase minimalista e um tanto roqueira. Nada que perturbe o espetáculo, marcado pela coesão do repertório.
Mais informações
Show do cantor Caetano Veloso. Às 20h, no Centro de Eventos (Av. Washington Soares, 1141). Cadeiras Individuais: R$ 50 (meia) | R$ 100 (inteira); Mesas (4 lugares): Premium: R$ 180,00 (ind) | Ouro: R$ 150,00 (ind). Contato: (85) 3230.1917
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