Por Padre Geovane Saraiva*
Sempre ouvimos falar de São Tomé
como o apóstolo que duvidou. Suas dúvidas, sua falta de crença e seus
questionamentos são constantemente colocados diante de nós, para que o vejamos
como aquela pessoa que dava pouco ouvido aquilo que se escutava. Certo tempo
depois que Jesus ressuscitado visitou os apóstolos, chegou também Tomé e
recebeu a grandiosa notícia da ressurreição.

Mas qual foi a sua atitude? Foi
de um homem muito corajoso. Ousa ele duvidar das palavras do seu Mestre e
Senhor, aquele que com ele andou e ficou acostumando com seus ensinamentos.
Dele vemos uma segurança e uma enorme coragem: duvidar da sua ressurreição,
evento maior e mais extraordinário para os cristãos, a vitória sobre a morte.
Ele é para nós o apóstolo da
incredulidade, da reparação e da solidariedade. Do homem obstinado na
incredulidade, o vemos transformado. E o mesmo acontece com a comunidade
reunida na mesma fé dos apóstolos, acolhe o Senhor Ressuscitado, seu dom maior,
vida nova e paz duradoura.
Quando Lázaro morreu, os
discípulos tiveram dificuldades diante da decisão de Jesus, que desejava
retornar a Judéia, onde os judeus tentaram apedrejá-lo. Mas o Mestre está firme
e determinado a voltar. Tomé, tendo certa autoridade e liderança sobre os
demais, toma a palavra: “Vamos também nós, para morrermos com ele!” (Jo 11,
16).
Tomé, chamado Dídimo, que era um
dos doze, não estava com eles quando Jesus veio (Jo 20, 24). Era o único dos
discípulos que estava ausente. Ele foi o apóstolo que duvidou de Jesus e ficou
conhecido como “o incrédulo”. Mas reparou, sendo o único a chamar Jesus de
“Deus” (cf. Jo 20, 28).
O contato físico, vendo tudo com
os próprios olhos, não é o elemento mais importante da ressurreição. O mais
importante é a nossa fé, aberta ao Espírito de Deus, com seus dons. A fé é
fundamental. É como afirmava Santo Tomás de Aquino: “Seja a fé nosso argumento
se os sentidos nos faltar”.
A incredulidade de Tomé foi
providencial, porque seu gesto de tocar nas feridas de Jesus marcou
profundamente e consolidou a nossa fé, afastando qualquer dúvida. As palavras
pronunciadas por Tomé: “Meu Senhor e meu Deus”: – que profissão de fé! Que
benção maravilhosa! Segundo São Gregório Magno, a falta de fé do homem que
precisava ver para crer não foi por acaso: Estava previsto no plano de Deus.
Pondo as mãos nas feridas do seu Mestre e Senhor, curou as suas feridas e as da
humanidade; curou as incredulidades da humanidade inteira.
No domingo seguinte Jesus aparece
novamente no Cenáculo e se volta para Tomé, dizendo: “Põe teu dedo aqui e vê
minhas mãos! Estende a tua mão e põe-na no meu lado e não seja incrédulo, mas
fiel” (Jo 20, 27). Olhemos para Tomé e aprendamos a dizer ininterruptamente:
“Meu Senhor e meu Deus”.
*Padre da
Arquidiocese de Fortaleza, Escritor, Membro da Academia de Letras dos Municípios
do Estado Ceará (ALMECE), da Academia Metropolitana de Letras de Fortaleza e
vice-presidente da Previdência Sacerdotal.
Pároco de
Santo Afonso
Autor
dos livros:
“O
peregrino da Paz” e “Nascido Para as Coisas Maiores” (centenário de Dom Helder
Câmara);
“A
Ternura de um Pastor” - 2ª Edição (homenagem ao Cardeal Lorscheider);
“A Esperança
Tem Nome” (espiritualidade e compromisso);
"Dom
Helder: sonhos e utopias" (o pastor dos empobrecidos).
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