Oriana Fallaci
– em
1970, quando entrevistou Dom Helder Câmara, e não esconde sua admiração por ele
no decorrer do encontro
D.
Helder – Você nem precisa perguntar –não posso nem imaginar ser
alguma outra coisa além de padre. Veja, eu considero a falta de imaginação um
crime, e mesmo assim, eu não consigo imaginar-me sendo outra coisa senão um
padre. Para mim ser um padre não é só uma escolha, é um modo de vida. É o que a
água é para o peixe, o céu para o pássaro. Eu realmente acredito em Cristo.
Para mim Cristo não é uma idéia abstrata –ele é um amigo pessoal. Ser um padre
nunca me desapontou, nem me provocou arrependimentos. Celibato, castidade, a
ausência de uma família do modo como vocês leigos a entendem, tudo isso nunca
foi um peso para mim. Se eu perdi certas alegrias, tive e tenho outras muito
mais sublimes.
Se você soubesse o que eu sinto quanto celebro a missa, como me
torno uno com ela! Para mim a missa é verdadeiramente o Calvário e a
Ressurreição, é uma grande alegria! Veja, há aqueles que nasceram para cantar,
aqueles que nasceram para ser padres – eu comecei a dizer isso com a idade de 8
anos e com certeza não porque meus pais puseram essa idéia em minha cabeça. Meu
pai era maçom e minha mãe ia à igreja uma vez por ano. Eu me lembro até que um
dia meu pai ficou assustado e disse: “Meu filho, você está sempre dizendo que
quer ser padre. Mas você sabe o que isso significa? Um padre é alguém que não
pertence a si mesmo, ele pertence a Deus e aos homens, ele é alguém que deve
somente dar amor, fé e caridade…”. E eu disse: “Eu sei. É por isso que eu quero
ser um padre”.
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