+Aloísio Cardeal
Lorscheider*
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| Pe. Geovane Saraiva geovanesaraiva@gmail.com |
Relembrando as
palavras do Evangelho, nem sempre é possível dizer só coisas lindas. Na
realidade, o Evangelho sempre é lindo. Mas os nossos pecados ficam achando que
certas passagens do Evangelho são duras. Você deve lembrar que já para Jesus a
turma de então dizia: “Quem pode ouvir estas palavras? Elas são duras (Jo
6,60). E o resultado: “Desde então muitos dos discípulos se retiraram e já não
seguiam” (Jo. 6,66). Hoje acontece a mesma coisa. Há muita gente por aí que
chama a Igreja Católica, no Brasil, de subversiva, comunista, dizendo que esta
não é a Igreja deles, e procuram outra Igreja que fale menos duro. “Já muitos
que antes estavam com igreja católica, agora já não estão mais; retiraram-se;
já não a seguem”. Para eles, a palavra da Igreja, que é a palavra do Evangelho
lida para a nossa situação, para nosso contexto, é muito dura ou muito forte.
Nesta semana, os
bispos do Ceará estiveram reunidos e, entre outros trabalhos, prepararam um
documento, intitulado: “Os bispos do Ceará e a seca”. É um documento muito
realista. Ele procura expor a situação como os nossos agricultores e
pescadores, os mais atingidos pela seca, a expuseram. Não é um trabalho
científico, mas é um trabalho sério, enquanto faz ouvir a voz dos que mais
sofrem, dos que estão sendo torturados pela fome e pela sede. A gente nem sabe
o que é pior: fome ou sede. A maioria diz que a sede é pior. O fato é que o
nosso interior e a periferia de nossas cidades é atormentada pela fome e pela
sede. No meio desta emergência, o que aparece? Aparece que há muita gente sem
escrúpulos aproveitando-se da situação de tragédia desses pobres. E esses
aproveitadores ainda atrevem-se a chamar cristãos.
Nem que fossem só
pagãos deveriam fazê-lo; muito menos se são cristãos. Se há um pouco de
sensibilidade humana numa criatura, ela nunca deve se aproveitar da situação
difícil onde outra se encontra para explorar e oprimir mais ainda. Deve, ao
contrário, fazer tudo para avaliar o sofrimento do outro. Você pode entender
muito bem que os Bispos, Pastores de seu povo, diante de uma injustiça tão
clamorosa, não podiam calar-se. Seria omissão pecaminosa. Os Bispos todos do
Ceará fizeram questão de falar. Será que isto já não diz muito? Será que isto
não deveria fazer pensar a todos?
Além do difícil
problema dos agricultores, há o problema dos operários da cidade; há o problema
das professoras do interior; há o problema dos professores e professoras
municipais e estaduais; há o problema de tanta gente, em Fortaleza e nas demais
cidades, que estão sem emprego, que não têm o que comer decentemente. Do outro
lado, porém, há um grupo de gente que não está passando este sofrimento. Estão
até muito bem. Fazem festa. Fazem o seu fim de semana, realizam os seus
jantares ou banquetes. Enchem as suas piscinas. Têm água à sua disposição. E pouco
se lembram dos outros. Ganham ótimos salários, salários altos, e que nunca
sofrem atraso.
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| Dom Aloísio Cardeal Lorscheider Visita à periferia urbana |
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| Dom Aloísio Cardeal Lorscheider Em Visita pastoral social |
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| Dom Aloísio Cardeal Lorscheider Em visita aos Índios Tapebas Caucaia - CE |
Peço que ninguém
fique com raiva, mas pense.
ENCONTRO
COM O PASTOR, aos 19/6/83.
*Arcebispo
Metropolitano de Fortaleza, na época




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