Integrando o Palco Giratório, o cearense Teatro de Caretas apresenta, hoje, seu cortejo de brincantes
"Cortejo de Caretas" é um dos nove grupos locais que integram o Palco Giratório deste ano
Fruto de minuciosa pesquisa realizada a partir de viagens por alguns estados nordestinos como Pernambuco, Rio Grande do Norte e os municípios cearenses de Canindé, Jardim, na região do Cariri, e Guaramiranga, o espetáculo "O cortejo de caretas", que será apresentado logo mais, às 19h, no Centro Urbano de Cultura, Artes, Ciência e Esporte (Cuca) Che Guevara, na Barra do Ceará, promete encantar os presentes com música, interpretação, comicidade e o colorido das máscaras.
A apresentação é do grupo cearense Teatro de Caretas e integra a programação local do Palco Giratório, projeto do Serviço Social do Comércio (Sesc) que acontece até o dia 30 deste mês. As manifestações tradicionais populares e das ruas constituem os principais elementos para a construção da arte do grupo, há 15 anos na estrada, formada por sete integrantes.
O principal objetivo do trabalho é investigar as festas populares, em especial, os reisados, manifestações nas quais os brincantes usam máscaras. O espetáculo trabalha com metáforas, tentando ressaltar a relação do homem com a natureza, com a comunidade e consigo mesmo, sem perder de vista os elementos sobrenaturais, que ganham vida nas festas, baseadas no imaginário. Os sete atores em cena, materializam essa relação através de danças, máscaras e cenas cômicas, marcadas pelo improviso, fazendo com que o público seja transportado para as brincadeiras de um terreiro popular.
A representação é baseada em pesquisa e na troca de vivências com as comunidades estudadas, sendo estendidas ao público.
Intercâmbio
Uma arte que tem como fonte de inspiração as manifestações artísticas construídas com elementos tirados das ruas ou da cultura popular, assim pode ser definido o processo de criação do grupo Teatro de Caretas, que busca no cotidiano dos artistas de ruas fonte para suas pesquisas. Nas ruas, elas ganham conotação de espetáculo pelo uso de máscaras, figurinos e adereços coloridos que transformam pessoas comuns em artistas, em determinadas datas do ano, a exemplo da festa dos Caretas, realizadas durante a Semana Santa, no município de Jardim, no Cariri.
"A gente esteve lá por ocasião da festa quando toda a comunidade usa máscaras", explica Vanessia Gomes, coordenadora artística do grupo. O espetáculo "Cortejo de caretas" é uma demonstração da força das manifestações artísticas impulsionadas pelas pessoas comuns, que guardam no imaginário esses festejos, que vão sendo repassadas às novas gerações. Além de promover uma reflexão sobre a performance do ator de rua.
A construção da arte do Teatro de Caretas tem como base "a pesquisa sobre as manifestações populares como reisados e maracatus", assinala Vanessia Gomes, explicando que essa forma de criação foi usada para a elaboração de diversos espetáculos do grupo. Cita a realização de pesquisa com artistas de ruas, enfatizando a importância de promover o diálogo com as comunidades visitadas.
Para realizar o "Cortejo de caretas", o grupo visitou os estados de Pernambuco, Rio Grande do Norte e os municípios de Canindé, Jardim e Guaramiranga, no Ceará. Está incluída também na pesquisa, o estudo da performance do ator de rua, destaca Vanessia Gomes, afirmando que em cada local existe uma troca artística com as pessoas. Assim como acontece também por ocasião das apresentações do Palco Giratório, quando grupos fazem essa troca, citando o Núcleo Às de Paus, grupo de Londrina, que trocará experiência com o Teatro de Caretas, no domingo. Os integrantes do grupo falarão sobre seus programas de pesquisa, com enfoque no teatro de rua.
Vanessia considera fundamental o trabalho de pesquisa para a criação dos espetáculos do grupo, sobretudo pelo intercâmbio artístico entre atores e comunidades visitadas. Fala sobre essas experiências, como as vivenciadas em Canindé, onde visitaram a localidade de Ipueira das Vacas, palco de tradicional reisado há cerca de meio século. Em Pernambuco, entrou em contato com a tradicional festa Cavalo Marinho, um congado. No Maranhão, os atores conheceram as "Cazumbas", festas de máscaras do mestre Abel Teixeira, além do reisado de Guaramiranga. "Nosso processo criativo acontece dessa forma, a partir de pesquisa", reitera Vanessia Gomes, destacando a relação estreita do grupo com o teatro de rua.
Conforme a diretora, o espetáculo buscou inspiração nas manifestações tradicionais populares que trazem as figuras mascaradas, encaretadas. A pesquisa foi realizada foi realizada durante quatro viagens "que possibilitaram o mergulho teatral do grupo, atores e atrizes, acompanhados de dramaturgos e uma equipe de pesquisadores que tem como ponto de partida a imagem".
Os atores entraram em contato com os mestres das manifestações nos locais onde atual, sendo realizadas oficinas de máscaras e de dança. "Cada experiência dessas trouxe um manancial de elementos que compõe o espetáculo", diz. Ela destaca, ainda, os figurinos, as máscaras, os adereços, os textos fixos ou de improviso, as danças, as escolhas pelas movimentações, a dramaturgia e a construção cênicas. A pesquisa contou com a orientação do pesquisador e teatrólogo, Oswald Barroso.
A atriz fala sobre o uso das máscaras: "compreendemos que as máscaras acompanham os seres humanos desde suas mais remotas origens. Nos rituais das religiões populares elas se apresentam como faces visíveis dos deuses, portais de abertura para o sagrado, filtros para a incorporação do divino".
Nos rituais festivos dos povos, como as festas e folguedos, explica que as máscaras são ainda móveis de encantamento, veículos de incorporação de arquétipos e figuras, tipos humanos, bichos e entidades fantásticas. Nos espetáculos teatrais são elas que introduzem as personas, o objeto a partir do qual se define a natureza da personagem, seu caráter e suas ações.
"Particularmente no teatro de rua e terreiro, as máscaras são indispensáveis, pois dilatam as figuras em cena, fixam suas características, ampliam seus gestos e expandem suas presenças".
Mais informações
Espetáculo "O Cortejo de Caretas", do grupo cearense Teatro de Caretas, hoje, quinta, 11, às 19h, no Cuca Che Guevara, Avenida Presidente Castelo Branco, 6417, Barra do Ceará, entrada gratuita
Contato: (85) 3237.4688
Fique por Dentro
Há 16 anos, companhias giram pelo País
Até o dia 30 de abril, companhias de teatro, dança e animação de todo o Brasil realizam apresentações em Fortaleza. São 16 grupos nacionais e nove locais que compõem a programação da 16ª edição do Palco Giratório, que tem o objetivo de democratizar o acesso às artes cênicas e fomentar a formação de plateia, promovendo um grande intercâmbio cultural. Criado pelo Departamento Nacional do Sesc, o Palco Giratório é um projeto cultural, que percorre o País desde 1998, e visa aproximar a arte das pessoas, misturando apresentações locais e nacionais. O circuito, que teve início no mês de março, em São Paulo, ficará encerrado em novembro durante a Mostra Sesc Cariri de Culturas, no Ceará. Em Fortaleza, as apresentações acontecem no Teatro Sesc Emiliano Queiroz, no Teatro Sesc Senac Iracema, na Escola Educar Sesc, no Mercado São Sebastião e no CUCA Che Guevara.
IRACEMA SALESREPÓRTER
Diário do Nordeste
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