05/04/2013

Um milagre na encruzilhada da vida


MUNDO
Centro Nutricional da Consolata
Texto Domingos Bugatti | Foto DR | 01/04/2013 | 16:18
Clementine (à esq.) precisa de ajuda para alimentar a sua bebé de cinco meses
Todos os dias chegam mais crianças com carências alimentares ao Centro Nutricional da Consolata, na República Democrática do Congo. Alguns casos são dramáticos
IMAGEM
São mais de 100 as crianças que diariamente chegam ao Centro Nutricional Notre Dame da Consolata, em Isiro, República Democrática do Congo, a pedir uma ajuda alimentar suplementar. E este número não para de aumentar. Há 20 anos, foi criado o Grupo de Apoio a Jovens e Crianças Necessitadas (GAJEN), um espaço que se transformou rapidamente numa espécie de encruzilhada da vida, para onde convergem desde o recém-nascido ao idoso, do estudante ao pobre, dos deficientes aos alunos da escola primária. 

Ajudar estas pessoas a contornar as dificuldades muitas vezes criadas por uma sociedade sem princípios tornou-se o dia a dia dos missionários que ali trabalham. Nesta amálgama de sentimentos, há histórias de sofrimento que se destacam das outras. Até surgir outra ainda mais dramática. 

A mais recente é quase um milagre da vida. Uma jovem mãe chegou ao centro apertando no peito os braços frágeis de uma menina de cinco meses. Pedia uma ajuda suplementar, porque a sua filha estava mal. Já era ajudada desde o nascimento da bebé, com o leite em pó, porque não conseguia alimentá-la com o leite materno. Tratava-se de um caso de vida ou de morte. Uma caixa de leite para recém-nascidos de 400 gramas custa mais de 10 euros e dura só uma semana. E a maior parte destas famílias não tem possibilidades de o comprar, porque vive miseravelmente. 

A mamã parece uma menina de 10 anos, com um metro de altura, mas um rosto de pessoa adulta. Deve ser pigmeia. Como é que pôde nascer esta bela criança? Chama-se Graça a menina deitada ao mundo por uma progenitora tão pequenina. Mistérios da vida! Mas, quem teve a coragem de se aproveitar dela? Não há tempo para perguntas, porque há uma vida que chora o seu direito de existir, tem fome e está mal. 

Certamente que a vida desta mulher não é simples. É demasiado frágil para cuidar de si mesma, rejeitada pela sociedade e talvez até esquecida da família. Acolhemo-la no centro para os primeiros tratamentos. É uma mulher simples e doce de rosto. Chama-se Clementine. Diz ter 33 anos, mas não é pigmeia. Infelizmente nasceu com uma doença congénita, a artrogripose: uma rigidez articular congénita. 

Depois de um ciclo de terapias, mãe e filha puderam finalmente regressar a casa. É incrível a força e a vontade de lutar de Clementine. As dificuldades acrescidas pela condição física, as humilhações, os olhares irónicos de uma sociedade cega e surda às necessidades dos mais fracos levaram-na a lutar para superar qualquer obstáculo e afirmar que a vida é uma dádiva e que também ela e a filha ocupam um lugar nesta sociedade, um lugar especial, que só quem vê para lá das aparências consegue descobrir.

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