Uma leitura, de base impressionista, de livros em prosa ou em verso da moderna literatura cearense
Ao palmilhar, em A Palavra Descalça, livros em prosa ou em verso, de autores os mais diversos, cujos nomes encontram-se já inscritos na História da Literatura Cearense Contemporânea, José Telles, longe das principais correntes que orientam a crítica literária universitária, dá voz à emoção, ao pleno prazer da leitura, desembocando no relativismo de que são impregnados os julgamentos subjetivos. Com uma linguagem menos técnica, atinge um público maior, dando ênfase à representação do mundo pessoal e à arte de fruir as obras de arte literária; desse modo, através destas obras de arte, enriquece as impressões que delas se evolam, refinando-as. Filia-se, portanto, a um ponto de vista, cujo fulcro reside na negação de regras, de modelos, de conceitos por que possa orientar-se a investigação da leitura, apegando-se tão somente às associações que cada texto lhe oferece.
José Telles pertence à Academia Cearense de Letras e à Academia de Letras e Artes do Nordeste. É autor de obras como "Sermões de pradaria"; "O lacre do silêncio"; e "O solo das chuvas". Nasceu em Bitupitá - uma vila de pescadores
A montagem
O poeta e ensaísta Linhares Filho, partindo do título do livro, "A Palavra descalça", percebe, no prefácio, nitidamente, a orientação da leitura do Autor, ressaltando que, "Lendo-se as presentes páginas, verifica-se justamente que um sopro vivificador da poesia perpassa por elas, enriquecendo-as, e detecta-se que um poeta as escreveu".
O professor e artista plástico Geraldo Jesuíno, na orelha do livro, vai ao encontro do prefaciador, entendendo que "A Palavra Descalça é uma coletânea de pequenos mimos, declaração de amor a pessoas, livros e palavras, além de galeria para algumas abnegadas e queridas personagens que mereceram ser apresentadas por um poeta". Em síntese, emoção é o elemento-chave das leituras realizadas por José Telles: "Escuto o som que vem de longe, uma rosa medra (nos rochedos), leio Caetano outra vez. Canto pela Paz se estende até os céus, o poeta se ergue em gesto e voz. Assim, Beijo Caetano Ximenes Aragão: um canto póstumo, que alivia dores e afaga saudades". (p.19) Põe, assim, em relevo, o poder da literatura em vencer a morte.
O discurso
Em todos os textos, de "A Palavra Descalça", predomina o tom eloquente do discurso, a voz inflamada pela admiração: "Bem-aventurados os que conhecem profundamente a obra de José Alcides Pinto" (p.23). Mais adiante, nesse mesmo texto, deixa claramente exposta a natureza de sua leitura: "Impressionou-me neste Alcides sua força criadora, mediante um engenhoso projeto matemático para enganar a morte".
Nesse sentido, muitas vezes, as volições do leitor se entrelaçam às vozes dos textos: "Estamos maravilhados com estes ´Guardanapos´ de Jorge Tufic". (p.27). Sobre José Alcides Pinto, escreve que ele "era um homem pobre, mas cheio de vergonha na cara. [...] Sua pobreza não tingia seu humor, nem nunca manchou sua honra" (p.119)
Considerações finais
Merece, também, destaque, enquanto recursos expressivos da construção textual, o emprego da metalinguagem, isto é, da linguagem que se volta para o próprio código, uma vez que, em muitos momentos, em sua leitura, José Telles tanto discorre acerca dos mistérios da palavra quanto reflete sobre a função da literatura ou do ato de escrever. Para ele, o autor e o texto estabelecem entre si elos de uma cadeia que não se dissolve; sendo assim, podem - e devem - ser filtrados pela emoção, vista esta como um caminho para descobertas.
LIVRO
A Palavra Descalça
José Telles
TIPROGRESSO
2013, 160 Páginas
R$ 20,00
CARLOS AUGUSTO VIANAEDITOR
Diário do Nordeste
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