11/05/2013

O mundo aos pés de Maria


Antes de entrarmos a fundo no espólio documental da Cova da Iria, vale a pena dar um salto à terra dos índios Warao, nos confins do Delta Amacuro, na Venezuela, para se ficar já com uma ideia da universalidade da mensagem de Fátima. A viagem até Nabasanuka (não vale a pena procurar porque não vem no mapa) demora no mínimo seis horas de barco a motor. Sai-se de Tucupita, o último aglomerado urbano antes da densa mancha florestal, e segue-se por um gigantesco labirinto de ribeiros e canais que serpenteia pela selva, em direção ao Oceano Atlântico. A pequena aldeia indígena fica do lado direito de quem chega, um bom bocado antes de se avistar o mar. Tem pouco mais de duas dezenas de casas em madeira assentes em estacas, a maioria construídas com tábuas e chapas de zinco. O «mobiliário» resume-se, salvo raras exceções, a meia dúzia de tachos e panelas e às redes para dormir. 

Entrando no povoado e cortando à esquerda, no único trilho a que se pode chamar caminho, chega-se com facilidade a casa de Quintiliana Garcia, de 61 anos. No tapume principal da barraca, a surpresa. Ao lado de dois terços, pendurados num prego, vislumbram-se dois postais, pintados à mão, com a imagem da Nossa Senhora de Fátima e dos três pastorinhos. É verdade, neste local, a que muitos chamariam de «fim do mundo», também há uma enorme devoção pela Virgem Maria. «Foi Deus que a guiou até nós, é a nossa mãe e eu gosto muito dela», justifica-se Quintiliana. A seu lado, o marido, pele acastanhada pelo sol, acena com a cabeça em sinal de aprovação.

Mais de 6.000 registos
Pequenos gestos de veneração, como o de Quintiliana Garcia, dificilmente chegam ao conhecimento do Santuário de Fátima. Mas são bem o exemplo da dimensão da universalidade da mensagem anunciada aos três videntes, únicas testemunhas das aparições de 1917, na Cova da Iria. E se dúvidas existissem, elas dissipar-se-iam perante os milhares de documentos guardados nos arquivos do Serviço de Estudos e Difusão (SED) do Santuário, com testemunhos de manifestações dedicadas a Nossa Senhora de Fátima por esse mundo fora. Entre santuários, paróquias, igrejas, escolas, universidades, institutos, hospitais, altares e até empresas, são mais de 6.000 os exemplos já registados e documentados pelo departamento dirigido pelo padre Luciano Cristino.

Do pico Everest, a montanha mais alta do mundo, ao Kilimanjaro, o ponto mais alto de África. Da cidade mais populosa da Austrália (Sidney) à província do povo Zulu, na África do Sul, da Ilha das Flores, na Indonésia, aos arquipélagos mais remotos dos grandes mares, há uma referência à Nossa Senhora de Fátima ou uma imagem da Virgem onde menos se espera ou se imagina. Na opinião de António Marto, bispo da diocese Leiria-Fátima, a força que impulsiona tamanha devoção está na essência da própria mensagem. 

«Porque foi uma mensagem de misericórdia da parte de Deus» para um mundo em guerra e para uma Igreja «que era perseguida e corria o risco de ser aniquilada por um ateísmo programado». Um chamamento à conversão que viria, aliás, a ser atualizado por Bento XVI 
na sua deslocação a Portugal, em 2010, quando afirmou em Fátima que «o maior inimigo da Igreja não são os que estão de fora, mas o pecado dentro da própria Igreja», recorda o prelado. 

Virgem peregrina
A difusão da mensagem de Fátima pelos quatro quantos do mundo remonta aos inícios do segundo quartel do século XX. Mas o verdadeiro impulso à disseminação do culto mariano começa em 1947, com o início da peregrinação da imagem de Nossa Senhora, sobretudo pelos países atingidos pela grande guerra. Os fiéis reviam-se na «grande mensagem de paz e de esperança para a humanidade» e foi por causa deles que a imagem peregrina passou a integrar celebrações religiosas em todo o planeta.

«Foram duas senhoras que fizeram a proposta ao bispo. E como sempre, a hierarquia pôs as suas objeções, as suas relutâncias, uma delas relacionadas com as despesas. Elas responderam: Senhor bispo, se Nossa Senhora quiser ir, o dinheiro aparece. Se o dinheiro não aparecer, é sinal que não quer ir», revela António Marto. Daí em diante, a imagem peregrina «nunca mais parou».
E o culto não se fica apenas pelas bases. Nos nossos tempos, o Papa João Paulo II ajoelhou-se três vezes aos pés de Maria, na Cova da Iria, Bento XVI marcou presença num dos aniversários da beatificação dos videntes Francisco e Jacinta Marto e o Papa Francisco, pouco depois de ser eleito, pediu por duas vezes ao cardeal patriarca de Lisboa, José Policarpo, que consagrasse o seu ministério a Nossa Senhora de Fátima. O pedido vai ser cumprido a 13 de maio.


Fátima Missionária

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